quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

O Lago Sempre Azul - fábula (ou conto)

 




O lago sempre azul

 

Era um lago muito azul de Verão ou de Inverno, onde a água era sempre desta cor quer houvesse sol ou não, o que é um mistério para nós, os homens. Nós sabemos que a água reflecte a luz que entra nela e que lhe vai mudando a cor. Às vezes fica cinzenta, quando há muitas nuvens, outras verde e até castanha, enfim, de muitas e variadas cores.

Mas para os bichos que aí viviam não era mistério nenhum, pois estavam tão habituados a ver o lago sempre azul que não estranhavam. Até no Outono e no Inverno, quando as árvores do bosque dormiam o seu longo sono  e perdiam as folhas todas (sim porque as árvores também hibernam, não são só alguns bichos, como os ursos, os esquilos e muitos mais) e tudo ficava menos verde, o lago continuava sempre azul.

Aí se passavam coisas extraordinárias. Os bichos tinham nomes, falavam e tinham sentimentos como nós, tal como nas antigas fábulas.

Então, esta história também é uma fábula, pensam vocês! Pois é, se calhar é!

No lago sempre azul vivia a libelinha Bélinha, sempre às voltas e reviravoltas por cima das águas. Procurava qualquer coisa, se calhar alimento, se calhar só queria ver o mundo lá de cima, olhar cá para baixo e ver os peixes a nadar, a nadar, nas águas transparentes e azuis, já se sabe!

Certo dia, quando andava na sua ronda, viu lá de cima uma folhinha a navegar com um caracol em cima. E pensou:

«Os caracóis não sabem nadar, isto não é normal!»

E perguntou-lhe:

-Ouve lá, como é que foste aí parar e quem és tu?

-Sou o Joel e estava ali à beira do lago a roer esta folha, distraí-me, a folha foi deslizando e quando reparei já estava dentro de água. Não tive culpa, isto pode acontecer a qualquer um, não?

-Está bem, não te irrites, senão ainda é pior!

-Pois é, é fácil de dizer!

-Vamos pensar numa solução, espera aí!

E a libelinha Bélinha deu umas reviravoltas por cima do caracol Joel, que se sentia cada vez mais infeliz e se afastava cada vez mais da margem.

-Olha ali vem a rã Adriana. Talvez ela nos possa ajudar.

A rã Adriana andava aos pulos por cima das folhas dos nenúfares, que ali nasciam presos ao fundo do lago e que davam belas flores amarelas e cor-de-rosa. Sem ver o pobre do caracol que andava a navegar por ali, deu um salto tal, que quase o ia deitando pela borda fora.

-Cuidado, ó sua desastrada! – protestou logo o Joel. Não estás a ver que eu estou aqui aflito?

-E o que é que andas por aqui a fazer, pensas que és um barco ou um peixe, é?

-Olha, se fosse a ti, estava caladinha! Isto pode acontecer a qualquer um, está bem?

-Ainda por cima és refilão! Está mas é tu caladinho e quietinho, senão ainda cais.

Estavam eles neste debate de ideias, quando a Libelinha Bélinha teve uma ideia.

-Sabem uma coisa? Já descobri! Tu que és uma rã saltitona e forte, tu é que podes levar o Joel nas tuas costas até à margem! - disse muito feliz a libelinha Bélinha, porque era muito amiga dos outros bichos todos e gostava sempre de ajudar.

O mesmo não pensava a rã Adriana.

-Eu, andar a servir de transporte público a esse caracol refilão? Não me faltava mais nada! Tenho outra ideia.

-Então qual é? – perguntou Joel já desconfiado.

- Com a fome com que eu estou, meto-te mas é na minha barriguinha e fico almoçada.

O pobre do caracol Joel quase que ia tendo uma coisa má, que é como quem diz, ia morrendo de susto.

A Libelinha Bélinha claro que interveio logo naquela discussão.

-Calma, meninos, calma! A falar é que a gente se entende! Tenho outra ideia maravilhosa.

A rã e o caracol olharam para ela, suspensos.

-Se tu deres boleia ao Joel até à margem e não lhe fizeres mal, eu levo-te depois nas minhas asas a dar uma voltinha aqui pelo bosque. Que tal?

-E tu consegues levar-me nas tuas asas? – perguntou a rã Adriana, muito desconfiada.

-Ah, sim, com umas asas tão grandes como as minhas, posso levar-te à vontade. Não parecem, mas são muito fortes.

Ainda desconfiada, a rã lá se resignou a fazer de barco. O caracol Joel lá conseguiu subir com os seus vagares para as costas da rã Adriana, que já estava a perder a paciência. Agarrou-se bem, como faz nas folhas e nos caules das plantas com a sua cola-tudo, a rã deu uns saltinhos e logo logo estava outra vez em terra, são e salvo.

-Ufa! Estou safo! Obrigado e até à próxima - despediu-se o caracol Joel, ainda a refilar com as riscas da sua casota.

Depois, foi a vez da rã Adriana viajar nas belas asas transparentes da libelinha Bélinha. Quando se viu lá em cima, nem queria acreditar! Ver assim o seu lago sempre azul lá do céu era fantástico! Parecia tudo mais pequenino, as flores, as árvores, as pedras onde costumava estender-se ao sol pareciam agora pedrinhas de brincar. Era mesmo giro!

E assim acaba a nossa história.

A Libelinha Bélinha continua nas suas voltas e reviravoltas, sempre pronta a ajudar.

O caracol Joel continua refilão, mas nunca mais foi imprudente, agora tem muito mais cuidado por onde anda.

A rã Adriana continua aos saltos, a querer comer tudo quanto encontra, é a sua natureza, mas no fundo, no fundo, ficou muito feliz por ter praticado pela primeira vez uma boa acção.

E por estas coisas todas é que este lago é sempre azul, afinal! 

Maria Isabel



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