Catedral de Sevilha
Neste ano em que se comemora o centenário da República, resolvi dedicar algum tempo à obra de Manuel Teixeira Gomes, 7º Presidente da 1ª República, entre 1923 a 1925, cargo a que renunciou para se dedicar à produção literária (ou para fugir à enorme perturbação política e social da época?).
Comecei por ler o romance «Maria Adelaide», única obra deste autor que tinha em casa, e achei-o tão dIferente e original em relação ao seu tempo que resolvi ler mais qualquer coisa. Daí até encontrar numa feira do livro «As cartas sem moral nenhuma», foi um passo. A Bertrand editou as obras completas deste autor há alguns anos e é fácil encontrá-las a bom preço.
Foi um daqueles casos em que o título do livro nos agrada, mas depois não corresponde em nada àquilo que esperávamos. Embora nalgumas cartas o autor relate acontecimentos divertidos e interessantes para o estudo do meio socio-cultural da época (este é um dos grandes interesses que pode oferecer a correspondência), rapidamente me começou a enfastiar a sua linguagem muito rebuscada e difícil. Confesso que já não tenho paciência nem tempo para livros difíceis.
Mas como todas as cartas iniciais eram escritas de Sevilha, terra natal de meu avô materno e padrinho, Mariano de seu nome, de quem guardo gratas recordações de infância (eu era a sua «jóinha»), lá continuei a ler. Deste modo, fiquei a saber mais algumas coisas de Sevilha, dos seus costumes e da sua catedral, a maior de Espanha, que já visitei mas não recordo quase nada (só me lembro de subir à torre e ver Sevilha a meus pés, emocionada por aí ter começado, algures, este ramo da minha família).
Para quem tenha paciência e curiosidade, vale a pena ler. Pela sua ironia sarcástica, principalmente. Como neste excerto:
«Hoje cantava-se una infindável missa de pontifical a que assistiam inúmeros cavalheiros de oficial importância, esses inconfundíveis aspirantes a estadistas que em Espanha se distinguem dos outros mortais pelo seu perfil de chocolateira - com o bico invertido - e são ultradecorativos.»