Gonçalo M. Tavares é um dos mais importantes escritores da sua geração. Nasceu em 1970, em Luanda, e em 2001 publicou a sua primeira obra.
Autor já de muitos livros, destacam-se Jerusalém, O Senhor Valéry, Água,Cão, Cavalo, Cabeça e, mais recentemente, o premiado, Viagem à Índia.
Acabei de ler esta obra há pouco tempo, que me pareceu muito curiosa e de leitura cativante. Mais do que um livro de ficção, considero-o um «Manual de Metafísica», em que os leitores se podem identificar com a personagem de Bloom, que procura a sabedoria e a Índia.
Sobre ela, diz Eduardo Lourenço:
Uma Viagem à Índia, com consciência aguda da sua ficcionalidade, navega e vive entre os ecos de mil textos-objetos do nosso imaginário de leitores. Como todos os grandes livros, e este é um deles.
Eis alguns excertos, escolhidos por mim:
Bloom disse que de Lisboa partira
e em viagem estava para a Índia. No outro lado do mundo
procurava uma alegria nova
ou, se possível, várias.
(Canto I)
O futuro vem aí como o pastor que guarda o
seu rebanho lento, isto é: não vem,
atrasa-se, gera impaciência nas coisas que existem.
Certos acontecimentos, é certo, podem aumentar
dois ou três andares à vida. Mas nada de mais.
Toda a matéria tem futuro,
e mesmo a memória particular é, neste particular-particular,
matéria a ter em conta. a memória tem futuro,
eis uma ideia nada pessimista.
(Canto II)
Procurou o Espírito na viagem à Índia
encontrou a matéria que já conhecia.
(Canto X)