Não há criança nenhuma que não goste de palhaços e de circo! Até muitos adultos gostam, como eu!
Esta personagem ridícula e cómica, pobre ou rico, faz parte do nosso imaginário individual ou coletivo.
Achei surpreendente a afirmação de Vergílio Ferreira neste seu livro, Espaço do invisível 2, quando afirma que o Palhaço era um lugar-comum da arte dos primeiros cinquenta anos do século vinte, que fascinava os escritores, os poetas e outros artistas. Basta lembrar O Palhaço Verde de Matilde Rosa Araújo, entre muitos outras obras.
O Palhaço é sempre um símbolo de imensas coisas, mas é sobretudo uma pessoa de carne e osso que faz rir os outros, mesmo sem ter vontade nenhuma, um homem (ou mulher) que trabalha duramente no circo, que representa a alegria, a vontade de viver e de ultrapassar as dificuldades com uma sonora gargalhada, até de si mesmo.
Deve ser muito difícil ser palhaço nos dias que correm, por isso ainda os devemos admirar mais.
Eu admiro-os ao ponto de ter começado há vários anos uma coleção de palhaços, de todas as formas e feitios.
Se calhar por ter nascido nos anos cinquenta do século XX! De qualquer maneira, sempre me atrairam.
Aqui fica esta pequena homenagem ao Palhaço.
São sobretudo os palhaços, que centram a sua tragédia na própria alegria que dão aos outros. O palhaço é um lugar-comum da arte deste meio século. Ele fascina como símbolo do contraste entre a verdade trágica da vida e a plenitude que se lhe sonha. Ele fascina ainda porque reincarna o Cristo que se condena para que os outros se salvem. Variedade do poeta, do artista, que chama a si os pecados do mundo para que os pecadores se redimam, o palhaço é em tragédia na obra de Raul Brandão o que as velhas são em comédia.
Vergílio Ferreira, No Limiar de um mundo, Raul Brandão, in Espaço do Invisível 2