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domingo, 3 de maio de 2020

«Mãe Negra» de Aguinaldo Fonseca


Para todas as mães do mundo, um bom dia da Mãe.


Aguinaldo Fonseca (Mindelo, Cabo Verde, 1922Lisboa, 2014)

MÃE NEGRA
A mãe negra embala o filho.
Canta a remota canção
Que seus avós já cantavam
Em noites sem madrugada.
Canta, canta para o céu
Tão estrelado e festivo.
É para o céu que ela canta,
Que o céu
Às vezes também é negro.
No céu
Tão estrelado e festivo
Não há branco, não há preto,
Não há vermelho e amarelo.
—Todos são anjos e santos
Guardados por mãos divinas.
A mãe negra não tem casa
Nem carinhos de ninguém...
A mãe negra é triste, triste,
E tem um filho nos braços...
Mas olha o céu estrelado
E de repente sorri.
Parece-lhe que cada estrela
É uma mão acenando
Com simpatia e saudade... 

Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde)