Mais uma vez Mário de Carvalho (escritor, advogado e jornalista nascido em Lisboa em 1944) escreve um livro genial, uma ficção que nos fala de uma realidade tão verídica e pertinente que nos deixa completamente envolvidos, usando uma linguagem apropriada e satírica, construindo personagens e revelando-os a pouco e pouco, como poucos conseguem.
Neste livro, a história vai-se desenrolando a partir de três finórios candidatos a mais um golpe sujo num velho viúvo, que vai viver com uma das filhas, o que causa grande preocupação na outra. O velhote vai vegetando por entre os restos de um passado de trabalho e de luta, aforreando bem os lucros duma vida inteira.
Muitas peripécias trágico-cómicas se vão desenrolando até se atingir o climax, com o destino a tramar as «boas» intenções dos burlões.
Um livro a não perder, ou seja, a ler.
Mais tarde, iam de regresso ao bairro e Abreu não se calava:
-O gajo morava na Alameda, num primeiro andar. o prédio só luxos, dourados e vidros, com o segurança de farda, boné e tudo, mas a casa dele era um arraial de veludos podres, trastes velhos e mesas mancas.
-Como é que sabes?
-Sei - garantiu Abreu, muito pintão e misterioso. O telemóvel dele tocou, fazia um grunhido de porco entremeado a compassos «techno». Conversação secreta, gestos encolhidos, ar encordoado, a girar em volta, nos calcanhares. Mas duas passadas mais tarde, aprochegando a testa, arrecadou o apetrecho e aclarou:
-A minha irmã ia lá fazer limpezas quando o meu cunhado marrou c' a mota contra o muro.O gajo é podre de rico................................
Pá. Milhões. Tás a ouvir? Milhões.