Eugénio de Andrade (pseudónimo de José Fontinhas) nasceu no Fundão em 1923 e morreu no Porto em 2005.
É considerado um dos maiores poetas de língua portuguesa, que conseguiu impor a sua singularidade, mantendo-se sempre independente de toda e qualquer filiação.
Recebeu o Prémio Camões em 2001.
Vergílio Ferreira, no seu livro Espaço do invisível 2, escreve:
...na poesia de Eugénio de Andrade não há espaços desocupados para neles nos instalarmos nós. O «fruto» é bem o símbolo da sua arte poética. Fechado, uno, compacto, não há senão que saboreá-lo, admirá-lo, tocá-lo a dedos puros para o não conspurcar. Um Eduardo Lourenço deve ter-nos dado a chave dessa singularidade, ao frisar-nos o que havia de «paraíso sem mediação» nessa poesia de plenitude assumida, de morada que se não contrapõe ao mundo mas é de si a única morada do poeta, transparente de pureza na pureza da palavra.
Foi decerto por tudo isto que a poesia de Eugénio de Andrade me agradou sobremaneira, quando a reli com mais atenção há algum tempo. A ponto de afirmar que era o meu poeta de eleição. Poeta da vida plena, que admite que «a morte não existe», porque «tudo é canto e chama». Não obstante a solidão, a amargura, a tristeza, ele afirma uma enorme vitalidade e plenitude solar.
A água é, deste modo, um elemento que trespassa e unifica a sua poesia. Tal como a pedra, a casa, o barco, o bosque.
Metamorfoses da casa
Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.
A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.
Como estremece um torso delicado,
assim a casa, asssim um barco.
Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.
Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.
Eugénio de Andrade