Ler esta obra de Orhan Pamuk suscitou em mim várias reações:
-irritação (pelo tamanho do calhamaço, que as minhas fracas mãos já não suportam e não dá jeito ler em qualquer lado; pelas situações repetitivas que parecem encher a narrativa «como quem enche chouriços»; pela «estupidez» das duas personagens principais Kemal e Fusun, que aos meus olhos de ocidental não parecem racionais);
-entusiasmo e curiosidade, devido às inúmeras peripécias que vão enriquecendo a narrativa e que nos deixam presos à leitura;
-admiração pela civilização turca e pelo modo de vida dos habitantes de Istambul, ricos e pobres, os seus hábitos, as suas grandezas e misérias, que fiquei a conhecer melhor.
Por tudo isto, valeu a pena ler este livro, oferecido pela minha amiga Ju. Fiquei com uma vontade enorme de ir à Turquia e a Istambul. Embora as duas para Istambul? Mais um sonho para realizar. Não poderei beber o famoso raki, bebida nacional que é um licor derivado da uva e com sabor a anis, que os personagens passam o tempo a beber, mas já sei o que vou pedir nos cafés, só para cheirar.
Quanto ao escritor, nasceu na Turquia em 1952. Grande estudioso e leitor insaciável, escreve desde os 23 anos, tornando-se conhecido em mais de 50 países. Em 2006 ganhou o prémio Nobel da Literatura.
Kemal diz a certa altura ao «autor»:
-Sim, era exatamente essa a atitude da Fusun. Compreendeu-a muito bem! - exclamou. - Gostaria também de lhe agradecer profusamente por ter resistido ao impulso de omitir os detalhes que feriram o seu orgulho. Sim, é esse o fulcro da questão, Orhan Bey: o orgulho. Com o meu museu quero ensinar, não só ao povo turco mas a todos os povos do mundo, que devem orgulhar-se da vida que levam. Viajei por toda a parte e vi-o com os meus próprios olhos: enquanto o Ocidente se orgulha de si, quase todo o resto do mundo vive cheio de vergonha. Mas se os objetos que nos fazem sentir envergonhados forem exibidos num museu, transformar-se-ão imediatamente em posses das quais nos podemos orgulhar.