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quarta-feira, 22 de julho de 2020

«As Amoras» de Eugénio de Andrade


Amoras, o fruto silvestre doce como um manjar dos deuses, quando bem maduras e pretas.
E, no entanto, tão difícil de se obter, mãos e pernas arranhadas na infância, pois os «grandes» já não se dão ao trabalho de as apanhar.
Comi este ano três ou quatro, oferecidas, pois no Caramulo ainda se estavam a desenvolver, as flores cor-de-rosa eram mais que os frutos e bem lindas nos seus pequenos ramalhetes.
Amoras, as flores e os frutos do amor.

AS AMORAS

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.


Eugénio de Andrade