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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 



As nuvens têm feito a sua aparição em poucos dias deste Outono.

Ontem, no entanto, apresentavam-se em contrastes branco/negro, com formas curiosas.

E de facto choveu mesmo, refrescando os nossos pensamentos, sonhos e  natureza.

Mais um belo poema de Fernando Pessoa.


Como nuvens pelo céu

Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim.
São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.
Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?

.
Fernando Pessoa
In Poesias Inéditas (1930-1935)




domingo, 27 de setembro de 2020

«Vejo passar os barcos pelo mar» de Fernando Pessoa




Pela marginal até Cascais, para ver a nossa magnífica costa até à Baía de Cascais, cantada pelos Delfins na canção com esse nome nos anos 80.

https://www.youtube.com/watch?v=FDM9gwNgz34


Um passeio a fazer, pelo menos uma vez no ano, com sol de preferência.






Vejo passar os barcos pelo mar

Vejo passar os barcos pelo mar,


As velas, como asas do que vejo


Trazem-me um vago e íntimo desejo


De ser quem fui, sem eu saber que foi.


Por isso tudo lembra o meu ser lar,


E, porque o lembra, quanto sou me dói.




Fernando Pessoa, in Poemas Inéditos

1932











terça-feira, 24 de dezembro de 2019

«Chove. É dia de Natal» de Fernando Pessoa



Chove. É Dia de Natal


Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés. 

Fernando Pessoa



segunda-feira, 9 de abril de 2018

«O Menino da Sua Mãe» de Fernando Pessoa




Em memória de todos os bravos soldados que morreram em França, na Batalha de La LYs, que se deu no dia 9 de Abril de 1918, durante a I Guerra Mundial, aqui fica este poema de Fernando Pessoa.





O MENINO DA SUA MÃE


No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas traspassado
— Duas, de lado a lado —,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino da sua mãe».
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
O cemitério militar português de Richebourg, no norte de França, com 1.831 campas de soldados lusos da I Guerra Mundial.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Fernando Pessoa no café «A Brasileira» no Chiado»


A Brasileira e Fernando Pessoa


Lagoa Henriques é o autor da escultura representativa do poeta Fernando Pessoa que se encontra na esplanada do Café  A Brasileira, no Chiado, em Lisboa.
Mestre e motivador de sucessivas gerações de criadores artísticos, autor de desenhos e esculturas notáveis, poeta, conferencista e coleccionador de peças tão diversas como pinturas, conchas, livros, troncos de árvores e outros acervos, segundo o seu site na Internet, Lagoa Henriques "deixa um vazio" no círculo em que se movimentava.

Lagoa Henriques lega-nos uma obra marcada pela transfiguração das formas clássicas através do contacto directo com as pessoas, a cidade e a natureza. Exemplo emblemático dessa ligação das formas eruditas ao quotidiano é a estátuta que criou de Fernando Pessoa, sentado a uma mesa do Café A Brasileira, que o poeta frequentava para escrever e falar com os amigos.
António Augusto Lagoa Henriques, nascido em Lisboa a 27 de Dezembro de 1923, era grande admirador Fernando Pessoa e de Cesário Verde. Dizia que Pessoa tinha sido o seu mestre da realidade interior e Cesário o mestre da realidade exterior, inspirando muitas das suas esculturas, como a do Grupo das Varinas.


O ensino foi outra grande paixão do escultor, que continou a dar aulas e a fazer conferências após completar 80 anos, nomeadamente na Escola de Superior de Belas-Artes do Porto e de Lisboa, e na Universidade Autónoma.

Costumava levar os alunos de desenho à rua para que tivessem contacto com o movimento da cidade, as pessoas, os elementos da natureza, aliando o ensino das formas clássicas à descoberta da realidade.

Foi na Escola de Belas-Artes de Lisboa que iniciou os estudos de escultura, em 1945, mas passados dois anos transferiu-se para a Escola de Belas-Artes do Porto, onde teve como referência principal da sua formação artística o professor Barata Feyo.


Finalizado o curso com nota máxima, conseguiu uma bolsa e foi estudar para Itália, orientado pelo escultor Marino Marini. Esteve ainda em França, Bélgica, Holanda, Grécia e Inglaterra, países onde conseguiu uma visão ampla do ensino do desenho e escultura que viria a introduzir em Portugal.

Regressado ao país natal, a sua carreira fica marcada, nos anos 70, pela destruição de um grande número de peças devido a um incêndio que eclodiu no seu atelier, em Lisboa.

Além da conhecida estátua de Fernando Pessoa, deixou muitas obras de arte pública em várias localidades, como o conjunto "União do Lis e Lena", no centro de Leiria, a escultura de Alves Redol em Vila Franca de Xira (que causou polémica na altura, por ter retratado o escritor nu, apenas com a boina na cabeça), e do poeta popular António Aleixo, em Vila Real de S. António.

Entre outros, recebeu o Prémio Soares dos Reis, o Prémio Teixeira Lopes, o Prémio Rotary Clube do Porto, o Prémio Diogo de Macedo e o Prémio de Escultura da II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian.



domingo, 19 de julho de 2015

Alberto Caeiro


 
Alberto Caeiro
 
Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, foi venerado como mestre pelos outros heterónimos e até pelo seu criador.
Nasceu em Lisboa, mas passou a vida no campo, como «guardador de rebanhos».

 
O seu rebanho, esclareceu num poema, eram os seus pensamentos.
 
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.


Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.


Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

                                     Poemas de Alberto Caeiro

sexta-feira, 13 de junho de 2014

«A Paixão...» de Al Berto




Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, nasceu em Coimbra em 11 de Janeiro de 1948, e morreu em Lisboa em 13 de Junho de 1997, de linfoma.

Relembrar Al Berto no dia em que faz precisamente 17 anos que morreu, é um bom motivo para este dia de Santo António.
Há os que nascem no dia deste santo casamenteiro, como Fernando Pessoa, e há os que morrem, como Al Berto. Nem um nem outro tiveram possibilidade de escolha, mas entre os dois há algo que os liga, a Poesia, a escrita e um santo. E provavelmente mais coisas...

A Paixão talvez seja a ausência de um corpo que desperta a intensidade da vida no interior doutro corpo; lugar onde a luz mal emergiu ainda, e as palavras se formam a partir de vestígios de silêncio...
Depois, a mão executa-as, mata-as um pouco ao alinhá-las sobre desertos brancos...

                                                                                                           Al Berto

Para verem o próprio Al Berto recitando os seus poemas na Casa Fernando Pessoa, é só clicar.

www.youtube.com/watch?v=iw6Ne1qZMsE


domingo, 16 de março de 2014

«Ó sino da minha aldeia» de Fernando Pessoa

 

Ó sino da minha aldeia 


Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.



Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

                                                                Fernando Pessoa


                                                                  retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros

Em 1964, por encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, Almada Negreiros realiza uma réplica do Retrato de Fernando Pessoa, executado em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, estabelecimento de que era sócio Alfredo Pedro Guisado, colaborador de Orpheu, frequentado por Almada e outros nomes ligados à célebre revista modernista. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

«Nevoeiro» de Fernando Pessoa

 

 

Dia de nevoeiro, frio e chuva junto ao grande Tejo, que o torna enigmático.

Porque será que as pessoas nunca sabem se o nevoeiro vem ao seu encontro, impreciso, desleal, traidor?Vem sempre tão sorrateiro que, de repente, deixamos de ver o Mundo.

Será isso mesmo que ele nos quer comunicar?

Fernando Pessoa retrata como ninguém esta ausência de tudo.

Portugal a entristecer, a esvair-se pela terra adentro...

 

Nevoeiro 

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer-
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Valete, Frates


Fernando Pessoa, Mensagem




domingo, 28 de julho de 2013

Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

 Álvaro de Campos
 




Grandes são os desertos, e tudo é deserto.



http://youtu.be/46kilOmMCEU?list=RD46kilOmMCEU

O  poema Ai Margarida, do heterónimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, é maravilhosamente cantado por Camané. Aqui fica o seu registo.

Ai, Margarida

Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que farias tu com ela?
Tirava os brincos do prego,
Casava c’um homem cego
E ia morar para a Estrela.




Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
Que diria tua mãe?
(Ela conhece-me a fundo.)
Que há muito parvo no mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha vida,
No sentido de morrer? 
Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha vida
Não fosse senão poesia? 
Então, filho, nada feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.

Comunicado pelo Engenheiro Naval Sr. Álvaro de Campos, em estado de inconsciência alcoólica.


                                              
                                               Campo de margaridas, Olhos de Água
 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

125 anos do nascimento de Fernando Pessoa


 O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente. (...)


                                                                    Fernando Pessoa



 Casa de Fernando Pessoa



Comemorando os 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa, que nasceu no dia de S. António, a 13 de Junho de 1888, a casa Fernando Pessoa realizou vários eventos. 



Hoje fui até lá para ver um filme com músicas e poemas (a máquina não estava lá muito boa e de vez em quando os cantores ficavam em suspenso, coisas que acontecem) e uma exposição sobre a faceta de astrólogo de Fernando Pessoa. 

 
       Carta astrológica do poeta elaborada por ele próprio, na entrada, gravada no chão,



É um local sempre bom para se passar o tempo e aprender mais sobre este admirável e enigmático Pessoa.



segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fernando Pessoa


Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas (...)

                                                             Álvaro de Campos


Pertenço a um género de portugueses que depois de estar a Índia descoberta ficaram sem trabalho.
                                                              Fernando Pessoa



Neste momento em que tanta gente se encontra sem trabalho e em que outros se engordam à custa deles e se aumentam a si próprios descaradamente, ou não se privam de privilégios e mordomias para ajudar o seu país, é pertinente lembrar esta frase de Fernando Pessoa e interrogarmo-nos que outras Índias é que vamos agora descobrir para sair desta crise.