Rafael Bordalo Pinheiro gostava muito de gatos, tendo em consideração a variedade com que os representou.
Podemos encontrá-los no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no Campo Grande ou nas Caldas da Rainha, onde se situa a Fábrica.
Aqui ficam alguns deles:
Como são animais que gostam de vadiar pelos bairros de Lisboa, cito também o poema que escrevi sobre a Mouraria:
Mouraria
Por aquele misterioso
Beco das Flores
Bem escondido dos
deuses e dos homens
Tudo é segredo, nada
acontece
Para além do sol que
pinta os muros brancos
Um gato preto que se
espreguiça
Um pardal que esvoaça
no céu sem cor
Alguém que espreita à janela
sorrateiramente
Ou um velho trôpego
que se dirige
À tasca da esquina,
lentamente
Para expulsar os seus
fantasmas, as suas dores…
É por aquele misterioso Beco
Que passo um dia e
fico cativa.
Naquele secreto e
minúsculo Beco das Flores
Onde no Inverno os
dias são noites
E as noites dias, com
fados e guitarradas
Apenas o silêncio
escorre pelas paredes
Nada acontece de
visível
Para além do frio e da
chuva
E da passagem da moura
cativa.
O sol deixa de brilhar
O gato de se
espreguiçar
O pardal de esvoaçar
Ninguém na janela a
acenar
Nem novo nem velho
Na tasca da esquina
bebe
O sino da igreja
emudece
Nada acontece de
plausível…
Apenas o lento e
monótono girar do universo
Que é tudo e é nada
No quieto e mudo Beco
das Flores
Que me transforma em
moura encantada.