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domingo, 26 de janeiro de 2020

Os gatos de Bordalo Pinheiro




Rafael Bordalo Pinheiro gostava muito de gatos, tendo em consideração a variedade com que os representou.
Podemos encontrá-los no Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no Campo Grande ou nas Caldas da Rainha, onde se situa a Fábrica.

Aqui ficam alguns deles:


Como são animais que gostam de vadiar pelos bairros de Lisboa, cito também o poema que escrevi sobre a Mouraria:



Mouraria


Por aquele misterioso Beco das Flores

Bem escondido dos deuses e dos homens

Tudo é segredo, nada acontece

Para além do sol que pinta os muros brancos

Um gato preto que se espreguiça

Um pardal que esvoaça no céu sem cor

Alguém que espreita à janela sorrateiramente

Ou um velho trôpego que se dirige

À tasca da esquina, lentamente

Para expulsar os seus fantasmas, as suas dores…

É por aquele misterioso Beco

Que passo um dia e fico cativa.



Naquele secreto e minúsculo Beco das Flores

Onde no Inverno os dias são noites

E as noites dias, com fados e guitarradas

Apenas o silêncio escorre pelas paredes

Nada acontece de visível

Para além do frio e da chuva

E da passagem da moura cativa.



O sol deixa de brilhar

O gato de se espreguiçar

O pardal de esvoaçar

Ninguém na janela a acenar

Nem novo nem velho

Na tasca da esquina bebe

O sino da igreja emudece

Nada acontece de plausível…



Apenas o lento e monótono girar do universo

Que é tudo e é nada

No quieto e mudo Beco das Flores

Que me transforma em moura encantada.