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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

«Quando um homem quiser» de Ary dos Santos

 


Tu que dormes à noite na calçada do relento

numa cama de chuva com lençóis feitos de vento

tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento

és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que dormes só o pesadelo do ciúme

numa cama de raiva com lençóis feitos de lume

e sofres o Natal da solidão sem um queixume

és meu irmão, amigo, és meu irmão

Natal é em Dezembro

mas em Maio pode ser

Natal é em Setembro

é quando um homem quiser

Natal é quando nasce

uma vida a amanhecer

Natal é sempre o fruto

que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar

tu que inventas bonecas e comboios de luar

e mentes ao teu filho por não os poderes comprar

és meu irmão, amigo, és meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei

fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei

pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei

és meu irmão, amigo, és meu irmão


Poema: Quando o homem quiser, de...
Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas


Casa onde viveu Ary dos Santos, na Rua da Saudade, Alfama