Outro poema de Natália Correia, que acho lindíssimo e que tem como tema a própria poesia. Há quem acredite que existem musas e inspiração, outros que só o trabalho leva à inspiração. Eu estou no meio termo: musas não tenho, na inspiração ainda acredito, mas depois é preciso trabalhá-la, sem dúvida.
III
Súbita a inspiração faz o convite:
Mais alto, rumo à meta indefinida!
Ofereço o sentimento ao ilimite
Dos ecos do mistério que intimida.
Rebelde ao senso a Musa não permite
À razão que chegue à chama erguida
O canto aceso, magia que transmite
Remota música noutro mundo ouvida.
A minha ânsia mede-se por versos
E na descida a meus jardins submersos
Vedadas rosas rebentam-me na boca.
Poesia: angústia de querer sempre mais,
Saudoso endereço de termos imortais,
E ao fim de tanto anseio, a vida pouca.
in «Sonetos Românticos»
Mais alto, rumo à meta indefinida!
Ofereço o sentimento ao ilimite
Dos ecos do mistério que intimida.
Rebelde ao senso a Musa não permite
À razão que chegue à chama erguida
O canto aceso, magia que transmite
Remota música noutro mundo ouvida.
A minha ânsia mede-se por versos
E na descida a meus jardins submersos
Vedadas rosas rebentam-me na boca.
Poesia: angústia de querer sempre mais,
Saudoso endereço de termos imortais,
E ao fim de tanto anseio, a vida pouca.
in «Sonetos Românticos»