Agostinho Neto e sua mulher, Maria Eugénia
Agostinho Neto (1922/1979)
Não me peças sorrisos
Agostinho Neto (1922/1979)
Relembrando Agostinho Neto, que também foi poeta.
Não me peças sorrisos
Não me exijas glórias que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas
Não me exijas glórias
que sou eu o soldado desconhecido
da Humanidade
As honras cabem aos generais
A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
Os meus sorrisos
tudo o que chorei
Nem sorrisos nem glória
Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
por que há-de caminhar
pedra após pedra
em terreno difícil
Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
-esforço dos tenazes que se cansam
à tarde
depois do trabalho
Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas
Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar
Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço
Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira
E terei para ti
os sorrisos que me pedes.
Agostinho Neto
Agostinho Neto