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terça-feira, 17 de maio de 2011

Lygia Fagundes Telles




Lygia Fagundes Telles, importante escritora brasileira e amiga de Clarice Lispector, «deu» uma entrevista a Alexandra Lucas Coelho. que foi publicada na revista «Pública» do passado domingo. Digo «deu», porque de facto ela não tinha tempo para a entrevista, supostamente por ter de ir para a fisioterapia. Mas simpaticamente, como só os grandes homens e mulheres sabem ser, apresentou-lhe uma série de perguntas e respostas num papel, acabando no entanto à conversa com a entrevistadora, que lhe captou as atenções.
No alto dos seus magníficos 88 anos, a «mais amada escritora viva no Brasil», diz coisas que só a sabedoria podem dizer. Diz-se dela na entrevista:
«O mistério de Lygia F.Telles é como um coração tão claro toca no coração mais escuro.»
Do seu «encontro» com um motoqueiro que ela pensava que a ia atacar e roubar, ela diz:

...Mas de repente viu naquele encontro o nó da escrita: medo e paixão. O motoqueiro era o seu leitor.

E sobre as dificuldades de se ser escritora no passado (tal como no presente, talvez já mais apaziguadas, conforme os locais e os tempos), diz a escritora:

Sofri muito, muito, no começo da carreira. As pessoas não acreditavam. Mulher era para casar, ser rainha da casa, no máximo tocar piano.
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Meu segundo marido tinha uma frase muito boa quando eu me queixava: «Seu problema é real ou existencial? Real, eu resolvo, te levo no médico. Mas desespero, dor, luta, esperança, frustração, medo da morte, aí você resolve em seus textos».

Era um homem sábio também, este segundo marido!
Outro facto interessante, contado por Lygia:

...Jorge Luís Borges, sentado a um canto depois de uma homenagem em S.Paulo, sussurrou a Lygia que sonhar era tudo, e para provar contou a história de um amigo que se matara porque deixara de sonhar.

Pois eu acredito, deixar de sonhar é perder o sentido belo da vida!
E mais adiante, diz:

Ou ainda Sartre e Beauvoir, que levaram Lygia a esta ideia: «A imortalidade seria a morte da própria vida. Só a ideia de que vamos morrer um dia, só essa ideia pode fazer a nossa existência mais feliz.»

E eu que tenho uma «relação» péssima com a ideia da morte, como quase todos os mortais, fiquei entusiasmadíssima: que bom, fico feliz por saber que vou morrer um dia!
No entanto, acho outra máxima ainda mais importante: enquanto a morte não vem, aproveita o dia! Muito bem aproveitado, mesmo!