Coimbra é certamente uma das cidades portuguesas por onde passaram e viveram mais escritores e homens de cultura. José Afonso, Miguel Torga, Artur Paredes, pai de Carlos Paredes, António Nobre, entre muitos muitos outros.
Nas minhas últimas e recentes deambulações pela cidade, deparei com a Torre de Anto, construção de origem medieval que fazia parte da antiga cerca de Coimbra, situada na Rua de Sobre-Ribas,que ficou famosa por aí ter residido, quando estudante, o poeta que lhe deu o nome e que a cantou nos seus versos.
António Nobre (1867/1900) aí terá vivido tempos de mocidade repletos de bons e maus momentos, embevecido certamente pela belíssima e vasta paisagem que daí se avista sobre a cidade e sobre o Mondego.
«Males de Anto» é um poema escrito no Seixo, para onde António Nobre se deslocou depois de abandonar o curso de Direito, em Coimbra, com a saúde muito abalada e cheio de desgostos.
Vergílio Ferreira diz no seu livro «Pensar» que António Nobre era um daqueles poetas que algumas pessoas liam e iam a correr para a casa de banho chorar. Era bom que isso continuasse a acontecer, ou que voltasse a acontecer. Sinal que o Homem ainda seria capaz de ler e de sentir alguma emoção com aquilo que lê, nos alvores deste terceiro e embrutecido milénio que nos calhou em sorte.
I
A ares numa aldeia
Quando cheguei aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lá! desde o Ódio ao Tédio.
Moléstias d' Alma para as quais não há remédio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia acaso que perdera o meu talento:
No entanto, às vezes, os meus versos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relãmpagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de Camões!
Sei de cor e salteado as minhas aflições:
Quis partir , professar num convento de Itália,
Ir pelo Mundo, com os pés numa sandália...
(...)
António Nobre, Só
Torre de Anto, Coimbra |