Manoel de Oliveira (Porto, 11 de Dezembro 1908- Porto, 2 de abril 2015)
Manoel de Oliveira morreu há alguns dias apenas, mais precisamente na quinta-feira antes do Domingo de Páscoa.
Depois de uma longa vida, sempre produtiva, e de ser autor de 32 longas metragens, o Mestre do Cinema Português morreu. Ninguém esperava, pois todos os que chegam a uma tão provecta idade, são considerados «à partida», imortais.
Mas ninguém é imortal, de facto, só a sua obra o pode ser.
E a obra de Manoel de Oliveira é já uma grande obra, que irá ser passada e mostrada por «todo o sempre», possivelmente.
Porque o merece, sem dúvida.
Fui ao cinema ver alguns filmes de Manoel de Oliveira, não obstante a sua duração (o meu «assento» ainda o permitia). Agora, já era mais difícil, o tempo passou por mim de forma diferente de Oliveira, pelos vistos.
Vi e revi a sua 1ª longa metragem de ficção, Aniki-Bobó, filmado em plena 1º Guerra Mundial e no auge do regime de Salazar, 1942.
É um filme memorável, que se tornou um clássico, não obstante a má recepção que teve na altura.
Impressionava-me sobretudo a liberdade de que gozavam aquelas crianças pobres e desprotegidas, a ternura com que nos são apresentadas, o binómio candura da infância versus maldade do mundo, todo o ambiente criado à sua volta.
Revelava um realizador cheio de emoções que queria transmitir, desperto para a realidade que o rodeava, conhecedor do que fazia. Ainda hoje esse filme me continua a impressionar.
Relembro a magia daquela lengalenga das crianças:
Aniki Bebé,
Aniki Bobó
Passarinho Totó
Birimbau,
cavaquinho
Salmonão,
Sacristão
Eu sou polícia,
tu és ladrão
Eu não quero ser ladrão
Tenho medo à prisão
Aniki Bebé
Aniki Bobó
Manoel de Oliveira continua presente, através dos seus filmes e dos seus personagens, e será sempre lembrado.
O Cahiers du Cinéma vai dedicar-lhe o seu próximo número, e aguardamos com curiosidade o filme que ele deixou para ser mostrado apenas após a sua morte: Visita ou memórias e confissões (1982).
A sua exibição será feita "nas próximas semanas", disse o diretor da Cinemateca, José Manuel Costa.