André Malraux nasceu em Paris em 1901 e morreu em Créteil em 1976. Foi amigo pessoal de Camus, outro grande escritor, bem com de Charles De Gaulle. Participou ativamente na Resistência Francesa durante a ocupação da França pelos nazis, durante a Segunda Guerra Mundial.
Foi o que se pode intitular hoje de um escritor «engagé» e um grande pensador, empenhado em retratar todos os domínios da ação humana, desde a luta dos homens pelos seus ideais, o sacrifício da própria vida pela defesa duma «ideia», da liberdade ou da dignidade da condição humana.
O que se pode dizer mais deste grandioso livro escrito em 1933, que descreve a vida miserável dos habitantes de Xangai, nos anos vinte do século passado? Xangai surge-nos como uma cidade chinesa onde persistem concessões a países ocidentais, onde se cruzam pessoas de todas as nacionalidades e interesses vários. Franceses, chineses do regime despótico de Chiang Kai-Chek e chineses revolucionários levam ao extremo a condição humana na sua luta interminável e desesperada pelo poder.
Jorge de Sena, que prefacia e traduz a edição da Editora «Livros do Brasil», afirma que não se é o mesmo antes e depois de se ler esta obra.
Para mim, foi uma leitura sofrida e mesmo dolorosa em certas páginas. Mas valeu a pena. É um livro indispensável, uma grande lição de vida. Ainda bem que o li só agora, para perceber ainda melhor que os sofrimentos por que passamos na vida, e que nós julgamos os mais terríveis e os mais injustos, não são nada comparados com o sofrimento da humanidade inteira, ao longo dos séculos.-Pode enganar-se a vida muito tempo, mas ela acaba sempre por fazer de nós aquilo para que somos feitos. (Gisors)
Destaquei alguns pensamentos postos na boca de alguns personagens, autênticos princípios de vida que nos podem guiar nestes tempos conturbados:
-Vermelhos ou azuis - dizia Ferral, - os «colis» não deixarão por isso de serem «colis». Não acha que é de uma estupidez característica da espécie humana que um homem que só tem uma vida possa perdê-la por uma ideia?
-É muito raro que um homem possa suportar, como hei-de dizer, a sua condição de homem. (Gisors)
Pensou numa das ideias de Kyo: tudo aquilo porque os homens aceitam deixar-se matar, para além do interesse, tende mais ou menos confusamente a justificar essa condição, fundamentando-a na dignidade: cristianismo para o escravo, nação para o cidadão, comunismo para o operário. Mas não tinha vontade de discutir as ideias de Kyo com Ferral. Voltou a este:
-É sempre preciso intoxicarmo-nos; este país com o ópio, o Islão com o haxixe, o Ocidente com a mulher...Talvez o amor seja sobretudo o meio que o ocidental emprega para se libertar da sua condição de homem...