Mostrar mensagens com a etiqueta José Luis Peixoto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Luis Peixoto. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

«Olhamo-nos nos olhos pela internet» de José Luis Peixoto

 




José Luís Peixoto
 (GalveiasPonte de Sor, 4 de setembro de 1974) é um narradorpoeta e dramaturgo português, cuja primeira obra foi publicada em 2000.

Com apenas 27 anos, José Luís Peixoto foi o mais jovem vencedor de sempre do Prémio Literário José Saramago. Desde esse reconhecimento, a sua obra tem recebido amplo destaque nacional e internacional. Os seus livros estão traduzidos e publicados em 26 idiomas.



Em Março deste ano, escreveu este poema que retrata o que todos nós sentimos quando ficámos enclausurados em casa, por motivo da pandemia.

E o poema era como uma casa que nos protegia. 

Temos esperança que continue a ser.



Olhamo-nos nos olhos pela internet.

 

Eu transmito-te este domingo à tarde,

a voz do vizinho através da parede.

 

Tu transmites-me a distância que existe

depois do que consigo ver pela janela.

 

Durante a noite mudou a hora e, no entanto,

continuamos no tempo de ontem.

 

Como é raro este domingo, não podemos

garantir que amanhã seja segunda-feira.

 

O futuro perdeu-se no calendário, existe

depois do que conseguimos ver pela janela.

 

O futuro diz alguma coisa através da parede,

mas não entendemos as palavras.

 

Lavamos as mãos para evitar certas palavras.

 

E, mesmo assim, neste tempo raro, repara:

tu e eu estamos juntos neste verso.

 

O poema é como uma casa, tem paredes

e janelas, é habitado pelo presente.

 

Olhamo-nos nos olhos pela internet,

estamos verdadeiramente aqui.

 

O poema é como uma casa,

e a casa protege-nos.

 

José Luís Peixoto, 29 de Março de 2020

 





segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

«Livro» de José Luis Peixoto



Pode-se afirmar que José Luis Pexoto faz parte da «novíssima geração de Abril», já que nasceu em 1974, em Galveias, Ponte de Sor. Nascido e criado em tempos de gritos de liberdade, de novas realidades nunca vistas, de avanço e progresso, de prosperidade... enfim, tudo tão diferente do que foi a nossa infância e juventude, separada  apenas por vinte anos (fiz vinte anos em 1974). Pena é que tudo isto tenha acabado quando estes jovens alcançam a maioridade e têm apenas 36 ou 37 anos. Foi uma felicidade efémera...
Pode-se afirmar que este é um caso de sucesso, um bom «fruto da revolução de Abril», já que obteve imensos prémios e granjeou um sucesso invejável.
Li este livro chamado estranhamente «Livro» porque aborda o tema da emigração dos portugueses para França, nos anos da miséria salazarista, tema bastante actual, aliás, neste momento de crise.
Posso dizer que gostei da sua escrita e da forma como narra a estória, de uma forma geral, não aderindo, no entanto, à tendência do uso do palavrão e de referências aos instintos mais sórdidos dos humanos, sintomático nestes jovens autores. Penso que isso se deve a uma sua necessidade congénita de chamar a atenção para esses aspectos, de se servir de forma aleatória dos mais baixos instintos humanos, que não nos caracteriza a nós, mais velhos e fruto de outra educação.
Cá por mim, todos eles podiam muito bem passar sem este tipo de conteúdos ou de linguagem, o público ia lê-los na mesma, não têm necessidade nenhuma de usar tanto palavrão (não é muito no caso deste autor, comparado com outros), que podem agradar a algum tipo de público, mas que «perturba» um pouco muita gente dos 50 para cima, que afinal ainda é uma parte importante dos seus leitores, visto que ainda possuem algum poder de compra e alguns hábitos de leitura.
Penso que é uma má aposta, a médio e longo prazo, destes novos escritores, mas isto é a minha opinião. E quem sou eu?
Que tal fazer-se um estudo de mercado, a várias faixas etárias? Gosta de ouvir ou ler palavrões a eito em livros ou outras formas de expressão artística? Ou já lhe chegam os que tem de ouvir na vida real?