Guerra Junqueiro (1850/1923)
Por estas e por outras é que Guerra Junqueiro, que era crente e reconhecia a existência de Deus como alma do universo, foi apelidado de ateu, quer pelo clero, quer por críticos e mexeriqueiros ignorantes, desejosos de caluniar o poeta.
A Velhice do Padre Eterno é, para mim, o seu melhor livro de poesia, donde escolhi este poema satírico.
O Dinheiro de S. Pedro
De tal modo imitou o Papa a singeleza
Do mártir do Calvário,
Que à força de gastar os bens com a pobreza
Tornou-se milionário.
Tu hoje podes ver, ó filho de Maria,
O teu vigário humilde
Conversando na Bolsa em fundos da Turquia
Com o Barão Rothschild.
A cruz da redenção, que deu ao mundo a vida
Por te haver dado a morte,
Tem-na no seu bureau o padre-santo erguida
Sobre uma caixa forte.
E toda essa riqueza imensa, acumulada
Por tantos financeiros,
O que é a economia, ó Deus! foi começada
Só com trinta dinheiros.
Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno