Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006) foi pintor e poeta, o principal representante da corrente surrealista em Portugal.
Como tantos outros, inspirou-se nesse prodigioso animal que é o gato, dizendo nestes versos:
(...)
Paro um pouco a enrolar o meu cigarro (chove)
e vejo um gato branco à janela de um prédio bastante
alto...
Penso que a questão é esta: a gente - certa gente -
sai para a rua,
cansa-se, morre todas as manhãs sem proveito nem
glória
e há gatos brancos à janela de prédios bastante altos!
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar -
vêem com tal desprezo esta sociedade capitalista!
Servem-se dela, mas do alto, desdenhando-a...
Não, a probabilidade do dinheiro ainda não estragou
inteiramente o gato
mas de gato para cima -nem pensar nisso é bom!
Mário Cesariny, Louvor e simplificação de Álvaro Campos