terça-feira, 31 de dezembro de 2024


É preciso

Relembrar a infância, sonhar com a magia dos contos

Com a simplicidade da vida ainda despreocupada



Polegarzinha , minúscula menina

Flautista, com a tua flauta mágica

Povoem de novo a minha fantasia

E ponham-me mais uma vez a sonhar

Com as terras da minha infância

Com os tempos do meu parque

Onde os pássaros eram pássaros

Os cisnes nadavam nos lagos

E  eu era apenas  uma criança





sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

«Mal o dia começou»

 






Partida

 

Mal o dia começou

E já te vejo partir

No meio do frio e do vento

Nesta manhã sem sol

Vejo-te correr apressado

E eu aqui fico sem ti

A cama ainda quente

As horas passam

Queria fazer tanta coisa

E não consigo...

Depois vejo-te regressar

Na imensidão da noite

Cansado e sorridente

Cheio de amor para me dar

Ouço a chave na porta

Eu aqui à tua espera

Temos tanta coisa para contar

E o amor à flor da pele

E o coração a bater

Vejo-te a regressar

O jantar a fumegar

E tu a dizeres

"Pensei em ti"

Eu também não me esqueci

Amanhã estaremos juntos

E se fôssemos jantar?


Maria Isabel

7 de Janeiro 1975

 


sábado, 21 de dezembro de 2024

«SER POETA» de Florbela Espanca

Florbela Espanca, grande poetisa que viveu com demasiada intensidade o sentimento do Amor.

E que morreu jovem, como uma bela borboleta que esvoaça e desaparece nos ares.

Foi assim a sua passagem pela terra.




SER POETA

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda gente!

Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"




quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

«O Chão que piso»

 


O chão que piso

É o céu da sua casa

Repartimos paredes

Alegrias e tristezas

Conhecemo-nos

Eu, sem esperança

E sem palavras

Ela, força da natureza

Tudo corpo tudo alma

 

Vencemos juntas a dor

Aquela escuridão que mata

O fogo que não se apaga

Aquelas facas na garganta

 

Por fim renasci

De novo o mar

Lisboa e o rio

A luz o calor o frio

O mundo todo

 

Estou viva

Sinto o coração

Teimosamente a bater

Sempre à espera

Dum novo amanhecer.


Maria Isabel



quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

«Uma réstea de sol e de esperança»

 


Uma réstea de sol e de esperança

 

O dia está frio, arrepiado

O céu branco de neve, que não cai ainda…

Mas resta-nos do Verão o esplendor

Nos nossos corações brilha o calor

Por todos os lados em todos os jardins

Até nas ruas mais recônditas

Vermelho verde azul dourado

Dentro e fora de nós

Tu e eu o outono da vida

Os dias escuros frios enevoados

Que brilham de novo

O mesmo sol do verão

Mais sensato mais ameno

Ao longo do dia e da vida

Tudo renasce tudo se renova

Os mesmos gestos as mesmas palavras

Repetem-se indefinidamente

Tudo parece igual mas

Tudo é tão diferente

Tão diferente, tu e nós

Agora seremos diferentes!


Maria Isabel

 


 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

«Numa Madrugada Nasci»

 


                                            Santa Cruz


Numa madrugada nasci

Noutra quase morri

Sinto-me viva

Agora

Renasci

O tempo já tem sentido

Os dias as horas

Já sinto o que o corpo me diz

Os bichos as pessoas as plantas as coisas

Tudo faz sentido

Orgulho-me de tudo o que existe

Sol  mar areal

Terra musgo erva água fresca

Sinto-me viva agora

Sou uma árvore

De grande porte

E cresço cada vez mais

Ergo cada vez mais

Os meus braços para o céu.

                                              Maria Isabel




sábado, 14 de dezembro de 2024

«Batem leve levemente...de Augusto Gil

 


Balada de Neve (Augusto Gil)

Batem leve, levemente, como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente e a chuva não bate assim…
É talvez a ventania, mas há pouco há poucochinho,
Nem uma agulha bulia na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho…

Fui ver. A neve caia do azul cinzento do céu,
Branca e leve branca e fria…
Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu!
Olho através da vidraça. Pôs tudo da côr do linho.
Passa gente e quando passa,
Os passos imprime e traça na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais, os traços miniaturais
Duns pezitos de criança…E descalcinhos, doridos…
A neve deixa ainda vê-los, primeiro bem definidos
Depois em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza, uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza e cai no meu coração. Ah!