Balada de Neve (Augusto Gil)
Batem leve, levemente, como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente e a chuva não bate assim…
É talvez a ventania, mas há pouco há poucochinho,
Nem uma agulha bulia na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho…
Fui ver. A neve caia do azul cinzento do céu,
Branca e leve branca e fria…
Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu!
Olho através da vidraça. Pôs tudo da côr do linho.
Passa gente e quando passa,
Os passos imprime e traça na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais, os traços miniaturais
Duns pezitos de criança…E descalcinhos, doridos…
A neve deixa ainda vê-los, primeiro bem definidos
Depois em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza, uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza e cai no meu coração. Ah!
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