quarta-feira, 27 de novembro de 2024

«Quando será que nos encontramos outra vez?»

 


Desta vez, uma mensagem bem humorada.

Encontrada por baixo da caixa de correio duma casa para os lados do Gerês.

Quem será o terceiro burro?

Um convidado importuno?

Ou alguém que se faz convidado?

A brincar, tudo se pode dizer ...


Na Serra do Gerês, ao contrário, as mesas e bancos de pedra convidam os visitantes a sentarem-se à vontade, a comer e a conviver alegremente.

O cenário verdejante proporciona felizes e amigáveis encontros.




segunda-feira, 25 de novembro de 2024

«O Amor é uma companhia» de Alberto Caeiro, in O Pastor Amoroso

 



«O amor é uma companhia.

Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
(..............................................................................................................................)
DE «
O Pastor Amoroso»
ALBERTO CAEIRO
1930



domingo, 24 de novembro de 2024

«As saudades que eu já tinha ....» de Xutos e Pontapés

 Quem não sonhou com uma casinha no campo ou na praia, em qualquer lugar, pequena e acolhedora, onde pudesse descansar, ler ou simplesmente olhar a natureza?




«As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta quanto eu

Meu Deus como é bom morar no modesto primeiro andar a contar vindo céu
Do céu, do céu.

Xutos & Pontapés

sábado, 23 de novembro de 2024

«O mar da Ericeira» e «Noites da Ericeira»

 

Ericeira



Praias da Ericeira


Com aquele cheiro salgado

A mar a rochas e  algas

Que penetra nas pupilas

Nos atormentados corpos

Estirados na areia

Pela pele e pela alma

E os deixa inebriados

Bêbados de sol e de azul

Desejosos de mais calor

Mais amor mais tudo

                               Maria Isabel



Noites da Ericeira


À luz do luar

Em que a terra toda se banha

Nas mansas ondas da maré baixa

Ouvindo a ressaca…

Há corpos e ondas que se entrelaçam

No areal ou no alto mar

Perdidos da vida e da noite


                                Maria Isabel






sexta-feira, 22 de novembro de 2024

«Pescador da Barca bela» poema de Almeida Garrett (1799/1854)

 


Barca Bela


Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Oh pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Oh pescador!

 

 25


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

«O Livro Mágico »

 



O livro mágico

Muitas pessoas que se acham sábias dizem que já não há mais nenhuma história para contar!

Que todas as histórias já foram contadas, todas as ideias já foram exploradas, inventadas e reinventadas.

Pois eu, que não sou sábia, digo-vos que não!

Que tudo está por contar ainda!

Tudo o que está a acontecer agora no mundo e que vai acontecer amanhã, depois de amanhã, nos próximos dias, meses, anos, séculos…nunca ninguém contou, pois não?

Pode ser parecido com o que já aconteceu, mas igual igual não é. Nada acontece exatamente como antes aconteceu, igualzinho, sem tirar nem pôr! As pessoas são diferentes umas das outras, os locais também, as circunstâncias são outras…

Por isso, há ainda mil milhões de histórias por contar!

Ainda bem, pois eu queria contar-vos uma agora. Está a apetecer-me tanto! Era uma chatice se não pudesse fazê-lo.

A história do livro mágico!

Não há livros mágicos? Só se nós não quisermos! Mas não vou argumentar mais com os sábios deste mudo, estejam descansados!

O Pedro tinha um livro grande, muito grande e cheio de palavras que ele estava farto de ler. Olhava e tornava a olhar para aquelas linhas muito direitinhas, cheias de abelhinhas que zumbiam aos seus ouvidos.

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

Mas ele não percebia grande coisa daquela história! Sabia ler sim, sabia juntar as letras e formar as palavras, mas não percebia o sentido de muitas delas.

«Que palavras tão complicadas, porque é que os adultos escrevem assim?»

Ele não sabia o que queria dizer um monarca.

E o que seria um jardim botânico? E uma acácia?

E tantas outras coisas de que ele nunca ouvira falar.

Mas dava-lhe uma preguiça terrível e não ia ver o que queriam dizer as tais palavras no dicionário.

«Ná, isso dá muito trabalho! Tenho mais que fazer!».

E lá vinham de novo as abelhinhas que zumbiam zumbiam na sua cabeça.

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

Ainda por cima, toda a gente lá em casa lhe perguntava:

«Estás a gostar do livro?»

«É giro, esse livro?»

«Emprestas-me depois esse livro?»

«Esse livro deve ser muito interessante!»

 E ele Nada, não conseguia dizer Nada!

Ficava mudo e encabulado! Nem sabia bem o que dizer…

«Hã,hã.. sim sim… é muito giro».

Até que um dia o livro grande do Pedro resolveu dar-lhe uma ajudinha. Estava farto de o ver fazer aquelas figuras, pediu ao autor que o tinha escrito licença para fazer uma magia, o autor, que adorava magias, deu-lhe logo as licenças todas e ele tornou-se num livro mágico.

Ah!!! Agora já sabem o segredo: se as pessoas que escrevem os livros quiserem muito muito muito, e acreditarem muito muito muito nisso, os livros podem ser mágicos!!!

Mas o Pedro não sabia de nada, claro! Ia ser tudo uma imensa surpresa para ele!!

Certo dia em que ele estava mais uma vez intrigado a olhar para as letras que formavam palavras, que por sua vez formavam frases, que por sua vez formavam parágrafos, que por sua vez formavam a história, uma das  abelhinhas soltou-se do texto alegremente e pôs-se a voar à sua volta.

Voou, voou, primeiro à volta dele, depois à volta do quarto do Pedro, como que à procura de qualquer coisa.

-Que é que procuras? Quem és tu?

-Sou a letra L. Não se está mesmo a ver que sou um L? – disse a letra L irritada.

Pedro olhou para dentro do livro e reparou que …tinham desaparecido todas as letras L das frases, página após página.

O rosto dele estava branco de espanto:

-Então as letras podem sair do livro e voar?

-Claro que sim, as letras têm o poder de voar e de nos levarem com elas por esse mundo fora. Basta que haja um leitor.

Logo de seguida, começaram a saltar do livro todas as outras letras, quer dizer, as outra abelhas, muito amarelinhas com riscas pretas.

E lá ia o M, depois o A, e mais o Z, e depois o E… Todas as letras saíam do livro e davam voltas e reviravoltas

Até que o quarto do Pedro se transformou numa espécie de colmeia, com um zumbido infernal.

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

«Vem, anda, vem passear, vem sonhar, vem, anda, vem passear, vem sonhar…» diziam todas elas, no meio dos zumbidos

Pedro nem acreditava no que estava a acontecer, quando, de repente, olhou para os seus ombros e…também ele tinha uma asas, lindas, transparentes.

E partiram todos pela janela do quarto do Pedro, as letras, ou seja, as abelhas à frente e o Pedro atrás, formando um enorme enxame.




quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Uma pequena história: Maria

 




Uma pequena história:

Maria era uma menina que tinha medo de tudo: medo do cão da vizinha Olga, dos gatos branco e preto do vizinho do 2º dto, dos carros na rua que faziam muito barulho, dos insectos que picavam, dos  miúdos que lhe deitavam a língua de fora, das meninas que só faziam brincadeiras estúpidas, dos adultos que lhe davam palmadinhas nas bochechas...Enfim, não havia nada que não fizesse medo à pobre da Maria.

Que havia ela de fazer? Queria tanto ser uma menina corajosa , ser a primeira em tudo lá na aula, ser  a mais forte e rápida no recreio.

Mas não conseguia. Estava sempre com medo de errar, de fazer asneira. Considerava-se a mais feia, a mais infeliz de todas as meninas.Pobre Maria.

Um dia, a mãe perguntou-lhe o que é que ela tinha, porque é que não brincava com os outros meninos, porque é que fugia dos gatos, dos cães e das pessoas.

-Tenho muito medo- disse Maria.

-Só isso?-perguntou-lhe a mãe.

-Sim- respondeu ela.

-Então, isso é muito fácil de resolver. Vais pensar sempre que eles são os teus filhinhos e que tu és muito forte e a sua melhor amiga, aquela em quem eles têm mais confiança.

-Está bem- disse Maria, um pouco desconfiada ainda.

E lá começou a pôr em prática aquele conselho dado pela sua mãe, em quem ela tinha confiança absoluta, sem medo de espécie alguma.

Mãe é sempre (fora alguns casos que fogem às leis naturais dos humanos) a pessoa em quem podemos confiar, porque nos une o Amor, o Amor de quem cria e de quem foi criado.