sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

«As três Fadas» - (conto de fadas da região do Algarve)

 Hoje, uma bela fábula da região do Algarve.

 Do Algarve, de que gosto tanto, com todos os seus recantos, praias, costumes e doces maravilhosos.


                                                               teatro de portimão

As três fadas


Era uma vez um casal, João e Francisca, que viviam muito tristes porque não tinham filhos.

Era um grande desgosto para eles. Até que um dia, Francisca resolveu ir ter com o Padre Santo António para se confessar e contar-lhe o seu problema.

O santo disse-lhe:

-Olha, Francisca, leva estas três maçãs para casa, mas atenção: tens que as comer em jejum.

-Está bem, padre. Muito obrigada – respondeu a Francisca, toda feliz da vida.

Quando chegou a casa, pôs as três maçãs sobre a cómoda e foi fazer o almoço.

O João, quando chegou a casa para almoçar, viu logo as maçãs e, como era muito glutão, comeu-as todas.

- Ah, homem, o que foste fazer! – disse Francisca toda aflita.

E foi a correr ter com o santo outra vez, que lhe disse apenas:

-Pois então, já que ele comeu as maçãs, ele é que vai ter a criança e passar por todos os trabalhos do parto.

Francisca foi contar ao marido o que o padre tinha dito.

-Pode lá ser! Nunca um homem teve uma criança…Ah! Ah! Ah! Isso é impossível – respondeu incrédulo o João .

Mas os tempos passaram, a barriga de João foi crescendo e, chegado o momento do parto, ele começou a gritar.

-Ai, quem me acode! Ai, que eu morro!

A mulher foi a correr chamar o médico, que lhe abriu a barriga  e tirou de lá a criança.

João, estava tão desesperado e fora de si, que mandou deitar[P  a criança nos montes, não a  querendo ver mais.

Foi então que uma águia, que tinha descido do alto das escarpas à procura de alimento, viu o bebé abandonado  e levou-o no bico para o seu ninho. Lá a criança foi crescendo, alimentada com o leite que a águia ia tirar às vacas que pastavam nos montes, agasalhando-a com umas roupitas que surripiava dos estendais. Quando já não cabia no ninho, fez-lhe uma casota de palha e com pauzinhos, onde a pobre criança foi crescendo e se tornou numa formosa rapariga.




Certo dia, apareceu por aquelas montanhas um príncipe, que andava à caça. Quando viu aquela jovem tão bela, perguntou-lhe:

-Queres vir comigo para o meu palácio? Não podes continuar a viver aqui para sempre…

Ela respondeu logo que sim. Mas, quando ia a entrar para a carruagem do príncipe, apareceu a águia para a impedir.

-Não vás embora! Fica aqui comigo! – dizia a águia, desesperada, lutando contra o príncipe.

No meio da luta e da confusão, deu-se uma desgraça: a águia tirou um olho à menina com uma bicada, ficando esta com aquele defeito e aquela marca para sempre.

Mas o príncipe tinha-se apaixonado por ela logo que a viu e não deixou de gostar dela por isso. Levou-a consigo até ao palácio e escondeu-a no seu quarto.

Como o príncipe passava muito tempo fechado no seu quarto, a rainha começou a desconfiar.

-O que será que se passa, para ele nunca sair do quarto? Tenho de arranjar uma maneira de o fazer sair e descobrir o que está lá dentro!

A rainha mandou então preparar uma grande caçada. O príncipe foi acompanhado de todos os seus fidalgos e por lá andaram durante vários dias.

A rainha pôde entrar finalmente no quarto do filho, por uma porta secreta, que só ela conhecia. Descobriu logo a menina e disse-lhe:

- Com que então és tu que trazes o meu filho encantado!? Eu logo vi que aqui havia mistério! Anda comigo que te vou mostrar os palácios e o jardim.

A pobre da moça lá foi com a rainha, vendo tudo o que esta lhe mostrava. Quando chegaram ao jardim, a rainha levou-a para perto dum poço muito fundo, deu-lhe um forte empurrão e ela caiu lá dentro.

Quando o príncipe chegou da caça, a rainha foi logo ter com ele e disse-lhe:

-Aquela rapariga que estava fechada no teu quarto, assim que apanhou a porta aberta, desatou a correr e ninguém  a conseguiu apanhar.

De noite, andavam três fadas por ali e, ao ouvirem uns gemidos, aproximaram-se do poço.

-Que será isto? Estão a ouvir o mesmo que eu?

-Parecem gemidos de mulher…

E lá foram espreitar à   poço, viram a rapariga lá no fundo e uma das fadas disse:

-Eu te fado que saias desse poço já e que sejas a menina mais perfeita do mundo!

E a segunda fada:

-Eu te fado que tenhas uma tesourinha de prata, para cortares a língua a quem te perguntar as coisas duas vezes.

E a terceira fada:

-E eu te fado que tenhas um palácio em frente do palácio da rainha, velhinho por fora, mas muito bonito por dentro, todo em ouro e prata.

E assim foi.

 No dia seguinte, todos no paço ficaram muito admirados por verem aquele antigo palácio aparecer assim, do nada. A rainha então ficou intrigadíssima e enviou um velho criado saber que palácio era aquele e quem lá morava.

O velho criado entrou no velho palácio e ficou maravilhado com o que viu lá dentro. Apareceu-lhe uma bela jovem muito bem vestida, a quem perguntou:

- Sua majestade, a Rainha, enviou-me aqui para saber que palácio é este e quem o habita.

A jovem respondeu assim:

 

Diga a Sua Majestade

Que minha mãe me desejou,

Que foi meu pai que me teve

E nas silvas me deitou;

Uma águia me criou.

 

Na caça o príncipe me achou,

A rainha ao poço me deitou;

Mas três fadas me fadaram,

Para aqui me trouxeram

E eu daqui me não vou.

 

O velho criado, perante aquela complicada história, não percebeu bem e pediu para ela repetir.

A jovem disse então:

-Desanda, tesourinha.

A língua do velho criado caiu logo naquele instante. Voltou para o palácio e só conseguia dizer:

-Ló-ló-ró…ló-ló-ró…

A rainha mandou lá outro criado, mas também lhe aconteceu o mesmo.

Por fim, foi lá o príncipe e, quando ouviu aqueles versos, reconheceu logo a jovem por quem se tinha enamorado.

Foi a correr contar tudo à rainha, que quis ir lá também ver se era verdade.

Depois de se certificar que era mesmo verdade, autorizou o casamento dos dois, que ficaram muito felizes.

  (conto de fadas da região do Algarve)

 

 

 


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