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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

«Para além da dor» de Isabel del Toro Gomes



Ontem vi duas reportagens na televisão que me deixaram profundamente indignada e com os olhos em lágrimas: uma sobre a criança de dois anos que morreu por não ter podido fazer um transplante, por ter fechado a unidade de transplantes em Portugal, vítima da incúria e das medidas cegas de austeridade impostas pelos nossos governantes, que se estão nas tintas para os mais desprotegidos e que necessitam de cuidados especiais de saúde (nem as crianças escapam); outra sobre as dificuldades que os estudantes das universidades portuguesas estão a passar, muitos passando fome ou alimentando-se mal, para além dos que são forçados a abandonar os estudos, comprometendo para sempre o seu futuro e os seus sonhos.
Que país é este, que não cuida das suas crianças doentes nem dos seus jovens?
Este poema, escrito em tempos dolorosos também para mim, é a minha pequena e sofrida homenagem a este menino a quem não permitiram crescer e florir, bem como a estes jovens a quem não permitem sonhar. Com uma palavra de esperança, sempre!
 
 
Para além da dor


Quando se sofre de fome
Temos apenas fome

Quando se sofre de sede
Temos apenas sede

Mas quando A ALMA SOFRE
Não existe mais nada
Para além da dor

domingo, 27 de novembro de 2011

O Cão e o dono desaparecido



O Cão e o dono desaparecido

Que ser humano seria capaz de esperar
Tão fiel e persistente
Pelo seu bicho de estimação
Na rua ao calor à chuva e ao vento
Noite e dia, sem dali arredar
Como este pequeno exemplo
De amor teimosia e paixão
Espera pelo seu dono
Que não pode já regressar?

Que ser humano seria capaz
De ser tão fiel a outro ser
Ficando ali à sua espera
Até sempre, até morrer?
Nenhum, esta é a sabedoria do cão!



domingo, 6 de novembro de 2011

«Poesia» de Isabel del Toro Gomes




Poesia

Como pode alguém pensar

Ou sequer suspeitar

Que a poesia

Não tem futuro?

o futuro é a poesia ela própria.



Quando escrevo um poema

Estou só no mundo a pairar

as palavras e eu

Que dizem tudo por mim

Nada mais conta.



Quando leio um poema

É como se lesse assim

Milhões de livros

Árvores que meditam e se desfolham

Que Me oferecem o fruto maduro

Nada mais interessa.



A poesia somos todos nós

Quando olhamos os outros

E mesmo sem os amar

Os amamos com dor ou pena

E nada mais conta.

É claro que a poesia tem futuro

A poesia é o futuro.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

«Fim do dia» de Isabel del Toro Gomes


Fim do dia

O dia termina e despede-se

Esvaindo-se em sangue

E a noite nasce lentamente

Do fogo ateado pelo sol

No horizonte

nos corpos dos homens

e dos bichos exangues.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

«A Espera»


A espera

Depois da espera

Não fica nada…

Os dias que se sucedem

O amanhã que se adia

A vida que não se vive

As palavras que não se dizem

O papel que fica vazio…

Depois da espera

Fica apenas a impunidade

A raiva a injustiça a dor

Ou seja, muito pouco…

Talvez a flor do campo

Que na sua singeleza

Teima em brotar

Das pedras do caminho

Consiga sobreviver mais um dia!


 P.S.: Este poema é dedicado, em geral, a todos que têm sido vítimas da estupidez de algumas leis, da incúria e incompetência de alguns homens que detêm pequenos ou grandes poderes, da ganância e desonestidade de alguns doutores de medicina que se dizem médicos e que não passam de carrascos, etc,etc. Enfim, da desorientação do  mundo e de um Estado desprovido de sentido ético e humanista, que se pode tornar tão cruel e desumano que se devora a si próprio.
E, em especial, a todas as vítimas duma instituição portuguesa, indevidamente intitulada «Caixa Geral de Aposentações», que depois de nos ficar com os descontos de trinta ou quarenta anos de trabalho, fazendo deles o que muito bem lhes apeteceu, sem dar contas a ninguém, se arroga no final o papel de «dono» do resto das nossas vidas.




terça-feira, 4 de outubro de 2011

«Mouraria» de Isabel del Toro Gomes

                                                                            Mouraria e castelo de S. Jorge
 

Mouraria
Por aquele misterioso Beco das Flores
Bem escondido dos deuses e dos homens
Tudo é segredo, nada acontece
Para além do sol que pinta os muros brancos
Um gato preto que se espreguiça
Um pardal que esvoaça no céu sem cor
Alguém que espreita à janela sorrateiramente
Ou um velho trôpego que se dirige
À tasca da esquina, lentamente
Para expulsar os seus fantasmas, as suas dores…
É por aquele misterioso Beco
Que passo um dia e fico cativa.
                                                                                      Beco das Flores

Naquele secreto e minúsculo Beco das Flores
Onde no Inverno os dias são noites
E as noites dias, com fados e guitarradas
Apenas o silêncio escorre pelas paredes
Nada acontece de visível
Para além do frio e da chuva
E da passagem da moura cativa.

O sol deixa de brilhar
O gato de se espreguiçar
O pardal de esvoaçar
Ninguém na janela a acenar
Nem novo nem velho
Na tasca da esquina bebe
O sino da igreja emudece
Nada acontece de plausível…

Apenas o lento e monótono girar do universo
Que é tudo e é nada
No quieto e mudo Beco das Flores
Que me transforma em moura encantada.

                                                                  Isabel del Toro Gomes

                                                                               Beco da Achada, Mouraria


quinta-feira, 29 de setembro de 2011

«Outro Sol» de Isabel del Toro Gomes




Outro sol

Quando faço rabiscos no papel

Desenho sempre um sol

Radioso magnífico ofuscante

Não sei porque razão…

A mão já vai desenhando sozinha

Não precisa de tinta nem pincel

Talvez que dentro de mim

Quem o desenha é o coração…

Sente aquela estrela brilhante

A apagar-se mais e mais

Dentro dos homens e do universo

Eva é traída por Adão

E as sombras vão descendo

Sobre o edénico jardim.


domingo, 25 de setembro de 2011

«Outono» de Isabel del Toro Gomes




Outono


Já é Outono na natureza

Choram as árvores em silêncio

Porque não querem ficar nuas

Choram as nuvens em cordões

Porque têm saudades do mar

As flores entristecem

E as borboletas desaparecem

Os verdes ficam castanhos e amarelos

Murcham os enamorados corações

Cheira a castanhas a fruta e a marmelos

Tudo muda e fica mais frio

É o Outono com a sua beleza.




segunda-feira, 19 de setembro de 2011

«Ericeira» de Isabel del Toro Gomes



Ericeira

Praias da Ericeira

Com aquele cheiro salgado

A mar a rochas e  algas

Que penetra nas pupilas

Nos atormentados corpos

Estirados na areia

Pela pele e pela alma

E os deixa inebriados

Bêbados de sol e de azul

Desejosos de mais calor

Mais amor mais tudo



Noites da Ericeira

À luz do luar

Em que a terra toda se banha

Nas mansas ondas da maré baixa

Ouvindo a ressaca…

Há corpos e ondas que se entrelaçam

No mar alto ou no areal

Perdidos da vida e da noite

Em busca do alimento que há-de vir

Na longa campanha de dor…

Até que tudo se acalma

Na madrugada fria

Com o canto da rola que desperta

Para mais um dia.


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

«Varandas» de Isabel del Toro Gomes



Varandas

Já tive mil varandas

E agora não tenho nenhuma…

A primeira era grande como o universo

Com tanque e tudo para lavar a roupa

E fazer as barrelas

Um dia mergulhei nele

Ficou o vestido e tudo o resto encharcado

A mãe ralhou mas nada mudou…

Continuo a mesma menina

Que contempla o mundo na varanda ou à janela



A varanda pode ser o mundo todo

Onde a infância passa ligeira e serena

Aí aprendi tudo da vida

A riqueza e a pobreza

A inveja e o ódio

A amizade a injustiça tanta coisa

O princípio e o fim

Aí fiz de fada e de princesa

Joguei às escondidas e saltei à corda

Encerrei os sonhos na casinha das bonecas…

Tive um cão por um dia

E muitas lágrimas derramadas

Quase nada ou quase tudo me servia

Para entreter as longas horas

Daquela existência não programada

Não era feliz nem infeliz

Apenas vivia



Agora que já não há varandas

Para alcançar o céu e as estrelas

Para ver quem passa na rua

Vou escrevendo palavras

Numa página nua.








sábado, 3 de setembro de 2011

«Todas as marés» de Isabel del Toro Gomes


Todas as marés

Maré alta maré baixa

Maré vida e ternura

Maré morte e lonjura

Maré doce e quente

Maré salgada e poente

Maré alegria e pureza

Maré dor e tristeza

Tudo é e assim será sempre

Nas marés das nossas vidas.


                              

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

«Sonho acordado» de Isabel del Toro Gomes




Sonho acordado



Acabem de vez todos os pesadelos

Sonhos grotescos e ridículos

Fantasmas do passado ou do futuro

Que todas as noites ou

Ao nascer da aurora

Se entranham pelo corpo silente

Se insinuam na nossa mente

Nos percorrem as veias, a pele, os ossos

E nos deixam num delírio confuso



Acabem de vez todos os pesadelos

Não queremos mais sonhar

Não queremos mais dormir

Apenas ficar acordados

Em vigília permanente

E sonhar…sonhar…sonhar

O momento presente


domingo, 21 de agosto de 2011

«Na estação deserta» de Isabel del Toro Gomes




Na estação deserta

Alguém se sentou

No banco solitário

E à espera ficou

Que o comboio chegasse

E que duma janela qualquer

O seu amor lhe acenasse

E dissesse

Voltei! Aqui estou!

E ali mesmo

Dois corpos se enlaçaram

Num eterno abraço de saudade


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

«Se num dia de sol...» de Isabel del Toro Gomes




Se num dia de sol…

Se num dia de sol

Me perguntassem

O que queria ser

Se pudesse escolher

Diria que apenas queria

Ser uma simples lagarta

Para me poder transformar

Numa bela borboleta amarela

Para do chão me libertar

E pelos ares esvoaçar…



Se num dia de sol

Me perguntassem

Porque gosto tanto dos rios e do mar

Diria que é porque a água

Jamais se cansa de correr e saltitar

De pedra em pedra

Repousando um pouco ali

Na translúcida e doce lagoa

Logo se precipitando de novo acolá

De rocha em rocha

Para as ondas do imenso mar…


 
Se num dia de sol

Me perguntassem

Como gostaria de morrer

Diria que como uma folha

Que de verde e luzidia

Lá nas alturas

Aos poucos se transforma

Castanha amarela vermelha

E um dia voa

Como um pássaro louco

Rodopiando subindo descendo

E logo ali fica repousando

No útero da terra mansa

Que há de renascer…