Varandas
Já tive mil varandas
E agora não tenho nenhuma…
A primeira era grande como o universo
Com tanque e tudo para lavar a roupa
E fazer as barrelas
Um dia mergulhei nele
Ficou o vestido e tudo o resto encharcado
A mãe ralhou mas nada mudou…
Continuo a mesma menina
Que contempla o mundo na varanda ou à janela
A varanda pode ser o mundo todo
Onde a infância passa ligeira e serena
Aí aprendi tudo da vida
A riqueza e a pobreza
A inveja e o ódio
A amizade a injustiça tanta coisa
O princípio e o fim
Aí fiz de fada e de princesa
Joguei às escondidas e saltei à corda
Encerrei os sonhos na casinha das bonecas…
Tive um cão por um dia
E muitas lágrimas derramadas
Quase nada ou quase tudo me servia
Para entreter as longas horas
Daquela existência não programada
Não era feliz nem infeliz
Apenas vivia
Agora que já não há varandas
Para alcançar o céu e as estrelas
Para ver quem passa na rua
Vou escrevendo palavras
Numa página nua.
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