Esteva
Floriu efémera a flor da esteva
já seu esplendor é quase um fenecer.
Branca e breve a brisa a leva
e dela fica um verso por escrever.
Miguel Alegre
«Alentejo e Ninguém»
Ed. Caminho
Esteva
Floriu efémera a flor da esteva
já seu esplendor é quase um fenecer.
Branca e breve a brisa a leva
e dela fica um verso por escrever.
Miguel Alegre
«Alentejo e Ninguém»
Ed. Caminho
Eu
vivo com tantos sonhos
Que não vou conseguir realizar
São
tantos sonhos e tantos
Dariam
para mil anos contar
Sonho
a dormir ou ao acordar
Sonho
em silêncio, sonho a falar
Enfim, estou sempre a sonhar!
6/9/96
O Poder
Cada vez acredito menos
Nos «grandes homens» !
Cada vez acredito mais
No
poder dos homens simples
Que
constroem as casas
E
fazem as estradas
Que
lavram os campos
E
deitam a semente à terra!
Só
acredito nas mulheres simples
Que
criam os filhos,
Por
eles sofrem cheias de amor
Com
mãos calejadas limpam as casas
Que colhem os frutos e o que brota do chão
Que dia
e noite tratam de tudo.
Só
os simples, homens ou mulheres
Têm
o poder de criar
De
dar a vida
E
de encher o mundo
De
coisas belas!
Maria Isabel
Junho/96
Durante a minha infância, desde que nasci até aos 10 anos, vivi sempre perto do Parque Eduardo VII, a cerca de 10 minutos de distância.
Era o «nosso parque», meu e dos meus dois irmãos.
Éramos uns felizardos por termos um jardim tão grande e bonito para corrermos, saltarmos e brincarmos, por vezes com outras crianças que encontrávamos lá.
Havia muitas árvores, uma delas logo na entrada do caminho que tomávamos, a que eu conseguia subir, pondo os pés em troncos que me serviam de apoio.
Havia um lago lindo com cisnes brancos e comedouros com cereais para eles comerem (agora já nem água tem).
Havia uma esplanada à beira do lago, com chapéus de sol, sempre com muitos clientes. Agora foi substituído por um restaurante para gente «fina» e sem esplanada, onde não se pode apanhar nem sol nem ar puro.
Havia muitos bancos de jardim, para se poder onversar, conviver e observar a natureza (as aves, as rosas, a relva com as suas florzinhas, as árvores...).
E havia ainda as estátuas, tantas coisas belas...
Eu era minúscula, talvez como a polegarzinha, mas feliz no Parque Eduardo VII.
Polegarzinha , minúscula menina
Flautista ,com tua flauta mágica
Povoem de novo meus pensamentos
E ponham-me mais uma vez a sonhar
Com as terras da minha infância
Com os tempos do meu parque
Onde os pássaros eram pássaros
Os cisnes nadavam nos lagos
E eu era apenas uma criança.
Maria Isabel
Um mérito da poesia: diz mais e em menor número de palavras do que a prosa.
Voltaire
Um poema não deve ter significado, só SER.
Archibald Macleish
No
mundo dos velhos
Homens
e mulheres sem janelas
À
espreita do céu
Esquecidos parados
Em quartos fechados
Espantam-se
as paredes aos gritos
Ouvem-se
os ecos que deliram
Ensurdecem as vozes
Contra os muros
Tudo
é solidão
Neste mundo de braços a acenar
A
pedir de mão em mão...
Deixem-nos
ao menos as portas abertas
A nós, pobres velhos sem vida
Sem janelas sem nada.
Maria Isabel
25/2/96
Biliões de seres fervilham
Sob
este sol magnífico demais
Este sol que nos penetra todos os poros
Que atravessa as nossas pálpebras cerradas
Neste mundo cheio de contrastes demais
Dizemos
que tudo amamos
O
mar a terra o ar os céus os animais
E em paga desse amor tudo nos dão
E os humanos tudo destroiem em golpes fatais
No
nosso belo planeta plantamos o vácuo
E no fim partimos para o espaço
Em
busca de outras galáxias
Com
a glória vã de deixar neste mundo
A
terra árida sem flor nem fruto
Os mares sem água azul e transparente
Biliões de seres aqui fervilhavam
Sob um sol outrora magnífico demais.
18/2/96