sábado, 25 de janeiro de 2025

«Os Velhos»

 



Os Velhos


No mundo dos velhos

Homens e mulheres sem janelas

À espreita do céu

Esquecidos parados

Em quartos fechados

Espantam-se as paredes aos gritos

Ouvem-se os ecos que deliram

Ensurdecem as vozes 

Contra os muros

Tudo é solidão

Neste mundo de braços a acenar

A pedir de mão em mão...

Deixem-nos ao menos as portas abertas

A nós, pobres velhos sem vida 

 Sem janelas sem nada.


Maria Isabel

                                                                               25/2/96

 

 


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

«Apocalipse»

 





Apocalipse


Biliões de seres fervilham

Sob este sol magnífico demais

Este sol que nos penetra todos os poros

Que atravessa as nossas pálpebras cerradas

Neste mundo cheio de contrastes demais

Dizemos que tudo amamos

O mar a terra  o ar os céus os animais

E em paga desse amor tudo nos dão

E os humanos tudo destroiem em golpes fatais

No nosso belo planeta plantamos o vácuo

E no fim partimos para o espaço

Em busca de outras galáxias

Com a glória vã de deixar neste mundo

A terra árida sem flor nem fruto

Os mares sem água azul e transparente

Biliões de seres aqui fervilhavam

Sob um sol outrora magnífico demais.

                                                                               18/2/96

 


 

 

 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

«Qualquer sítio»

 




Qualquer Sítio

 

Em qualquer sítio

Me sinto bem

Ou me sinto mal

Em qualquer parte do mundo

Podemos ser felizes

Ou não!

 

Essa magia está dentro de nós

Todos os lugares podem ser paraísos

Ou infernos!

 

Em qualquer sítio

Podemos ser anjos

Ou demónios!

 

Em qualquer sítio

Podemos ser felizes

Se quisermos.

                                                                              

Maria Isabel

6/12/96

 

 




 

 

 

domingo, 19 de janeiro de 2025

 




Fuga sem fim

 

A vida está a passar

Estamos a caminhar

Para o fim não esperado

Cada dia é muitos dias

Cada hora muitas horas

E eu não consigo lembrar tudo

A vida está em fuga

Como se tudo tivesse

Que terminar um dia

A    vida    foge-me  e não torna 

Entre    os    dedos

A esvoaçar como areia morna

Não posso voltar

Esta viagem é só de ida

E cada passo que dou

É um acto desesperado

Tentando não chegar

Ao dia da partida já marcado.

 

Maria Isabel

                                                                               4/9/95

 

 


 

 

sábado, 18 de janeiro de 2025

 



A Gata


Naquela tarde soalheira

A gata dormia

Em cima da cama, à beira

Ao sol estirada

E fazia rom-rom.


A dona da gata

Também dormia

Ao sol espreguiçada

E fazia rrrrrrrrrrrrrrrrrr

No mesmo tom.


Os passarinhos passavam

E faziam piu-piu-piu

Para a gata e para a sua dona.

Mas elas só dormiam

E toda a tarde faziam

rom-rom-rrrrrrrrrrrr-rom-rom.


Que bela sesta fizeram

Naquela tarde cheia de sol

A gata e sua dona!

Pois bem o mereciam!


Junho/96 





sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

«De Vita»

 

De Vita

 

Bem haja

Aos que me deram a vida

Aos que me amaram

A todos por quem me senti querida

A todas as alegrias sentidas.

 

 

Bem haja

À força que sinto arder em mim

Por todo o bem

Que recebi com mãos ambas

Por todos os males, doenças, enfim

Que feriram o meu pequeno e frágil corpo 


 

Bem haja

Os campos em flor

Onde a semente  feliz germinou

E aquele mar sem fim

Que nos atraiu

E por vezes nos atraiçoou

Bem haja,

Enfim, o amor!

                                               

Maria Isabel

25/8/96

 



quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

«Poema para Manuel»

 


E cinquenta anos, um mês e 16 dias depois a vida em conjunto continua e o amor também.

E já não acredito que fosse «por acaso»

Foi antes o Destino, que estava escrito «là-haut, dans le grand rouleau»(Diderot).


Poema para Manuel

 

Encontrei-te, assim, por acaso

Na mesa dum café, simplesmente

Nos intervalos da revolução.

Lias os teus livros, solitário

Fazias análises e comentários

Com minúsculos caracteres

Nas margens da vida.

 

Olhámo-nos e amámo-nos

Para todo o sempre

Dissemos com paixão

E tudo se passou assim, simplesmente,

Nós sedentos de amor,

Nós sós no infinito

Falávamos de tudo, de filosofia

De livros , de poesia

Íamos ao cinema todo o dia...

 

A VIDA enfim para nós sorria

Tudo era um sonho

Imaginávamos um outro mundo

Só tinhamos amor para dar

Não possuíamos nada

Mas nada nos faltava

Tu eras o meu porto de abrigo

Eu, o teu barco de salvação...

 

 Hoje, o mundo já não é nosso

Tudo mudou

Mas nós continuamos a caminhar

À procura de tempo para amar

Como antigamente.


Maria Isabel

 

                                                           26/7/96