sexta-feira, 12 de julho de 2013

«Verão» de Eugénio de Andrade






 Mais um poema de Eugénio de Andrade, de grande beleza porque de grande singeleza, que vem mesmo a propósito.
Calor e sol tem havido muito, caracóis é que já não se vêem como dantes, nos campos. 
Será por os terem comido todos?

Verão
Caracol, caracol,
onde vais com tanto sol?
Vou à loja do senhor Adão
comprar um girassol;
com tanto sol
Ninguém aguenta o verão.
Adeus, adeus, caracol,
tens razão,
sem guarda-sol
ninguém aguenta este sol.


                                                                    Eugénio de Andrade



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Rua dos Sapateiros - Lisboa


Rua dos sapateiros - Lisboa


 
Um dos meus passatempos preferidos é ir à descoberta de Lisboa, vadiar pelas ruas da minha cidade natal, que me traz sempre motivos de admiração e de fascínio: como é que eu ainda não conhecia isto (ou já me tinha esquecido)?
A rua dos Sapateiros, onde já tinha passado várias vezes, é uma rua cheia de História e de estórias  para contar. Situada na Baixa lisboeta, hoje é uma rua quase escondida, à sombra das iluminadas e turísticas ruas do Ouro, da Prata, etc.
 
Começando pelo lado do Rossio, ou Praça D. Pedro IV, entra-se por um pequeno Arco, intitulado Arco do Bandeira, em que possivelmente pouca gente repara, distraído com a beleza e grandiosidade do Rossio, ou com a Tendinha, ali mesmo ao lado do Arco, onde se pode degustar uma saborosa ginginha.
 
 
 Construído no final do séc. XVIII, segundo um projeto de Manuel Reinaldo dos Santos, foi erguido a expensas de Pires Bandeira, de que recebeu o nome. O arco pretendia copiar um outro existente no lado oposto da Praça, onde se encontra hoje o Teatro Nacional. É considerado uma das mais belas peças da arquitetura pombalina.
 

 

Entrando pelo Arco para a Rua dos Sapateiros, deparamos com uma obra magnífica, O Animatógrafo do Rossio, hoje com fins bem diferentes dos originais. Pena não se poder visitar por dentro e que uma entidade qualquer não o possa adquirir para o colocar ao serviço da população em geral e cinéfila, em particular.


Continuando pela rua abaixo, do lado direito encontramos um restaurante com história, hoje desconhecida pela maioria das pessoas. Aí se sentou muitas vezes, Fernando Pessoa, para almoçar ou jantar. Trata-se da Adega da Mó.
 
Um pouco mais à frente, também do lado direito de quem desce, encontramos A Camponeza, outro estabelecimento cheio de cultura e de história. É um dos exemplares de Arte Nova mais magníficos em Lisboa, foi bem restaurado e aberto há cerca de uma ano, muito agradável para se tomar um chá e um croissant ou um bolo. Merecia ser mais publicitado.


 


Aqui fica o convite para visitarem a Rua dos Sapateiros, para irem ao encontro da Lisboa de hoje e de sempre, onde encontrarão  estes e ainda outros locais admiráveis, que por vezes tanto procuramos e não encontramos.






sábado, 6 de julho de 2013

«Nós» de Cesário Verde




Cesário Verde (1855-1886)

Considerado por muitos um dos maiores poetas portugueses, embora tenha sido arrebatado pela tuberculose aos 31 anos (a sua irmã e irmão já tinham morrido da mesma causa), deixou uma obra poética de grande beleza e intemporal.
Dessas terríveis doenças que ceifavam vidas a crianças, jovens e pessoas de todas as idades, nos fala ele no poema Nós, enquanto ainda pensava que se tinham salvado na fuga. 
Ironias do destino...

Diz sobre ele Alberto Caeiro, nos seus Poemas Completos:

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O Livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
........................................................................................................................................................

 

Nós
                        
                                                                 (a A. de S. V.)

Foi quando em dois verões seguidamente a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Ora meu pai, depois das nossas vidas salvas,
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre os montões das malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!

Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga.
(...........)

                                                            Cesário Verde





domingo, 30 de junho de 2013

Peniche em 2013

Recordações de Peniche em 30 de Junho de 2013



Vista panorâmica de Peniche e Forte de Peniche





Pesca e faróis ao fundo





Peniche vista do Molho Leste








Faróis






Forte de Peniche e Porto






De partida para as Berlengas




Nossa Senhora da Boa Viagem, Padroeira dos pescadores





Pôr do sol, visto do Parque de Campismo



















Um mar de rolotes, no parque de campismo






A mais redonda e pequenina

quarta-feira, 26 de junho de 2013

«O dinheiro de S. Pedro» de Guerra JUnqueiro


Guerra Junqueiro (1850/1923)


Por estas e por outras é que Guerra Junqueiro, que era crente e reconhecia a existência de Deus como alma do universo, foi apelidado de ateu, quer pelo clero, quer por críticos e mexeriqueiros ignorantes, desejosos de caluniar o poeta.
A Velhice do Padre Eterno é, para mim, o seu melhor livro de poesia, donde escolhi este poema satírico.



                                     O Dinheiro de S. Pedro

De tal modo imitou o Papa a singeleza
Do mártir do Calvário,
Que à força de gastar os bens com a pobreza
Tornou-se milionário.

Tu hoje podes ver, ó filho de Maria,
O teu vigário humilde
Conversando na Bolsa em fundos da Turquia
Com o Barão Rothschild.

A cruz da redenção, que deu ao mundo a vida
Por te haver dado a morte,
Tem-na no seu bureau o padre-santo erguida
Sobre uma caixa forte.

E toda essa riqueza imensa, acumulada
Por tantos financeiros,
O que é a economia, ó Deus! foi começada
Só com trinta dinheiros. 


                       Guerra Junqueiro, A Velhice do Padre Eterno

 

sábado, 22 de junho de 2013

«Canção pela liberdade» de Isabel del Toro Gomes





Canção pela Liberdade

Está sol
Parece verão
No entanto, o frio apodera-se
Do meu corpo
E do poema que se escreve sozinho
O vento percorre tudo
Este vento do Leste e do Norte.

As ruas da cidade deserta
As notícias nos ecrãs
Que descrevem minuciosamente desgraças
Bombas  guerras sangue morte
Protestos dos indignados
Dos jovens que ocupam corajosamente as praças
As praças que já não são deles
As avenidas que já não da Liberdade
Das pobres gentes deixadas à sua sorte.

Não é permitido andar na rua
Não é permitido sonhar
Não é permitido respirar do ar
Que já não é de todos mas
Só de alguns privilegiados
Ar que se torna cada vez mais raro
Mais caro e, de repente, desaparece
Nas nuvens no vazio no céu
No crepúsculo ou no poente…

Ar num qualquer esconderijo comprimido
Que alguns desses seres de privilégio
Mandaram escavar bem escondido 
Para o explorarem individualmente
Para o respirarem egoisticamente 
Doutores seres superiores poderosos
Detentores de verdades que afinal são mentiras
E que lhes saem das bocas, descaradamente
Com dentes afiados, branqueados
Dos olhos gulosos, gananciosos
Das vozes mafiosas e enganosas.

Nós ós ós ós ós ós.....
O ar é nosso, nosso!!!!!
E que viva a nossa liberdade!!



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Festas de LIsboa 2013





Lisboa está em festa, como é costume no mês de Junho.
Comemoram-se os santos populares, há arraiais nas ruas e praças.
Há cheiros no ar como o do manjerico, que se mistura com o fumo das sardinhas, das febras, dos pimentos assados, que custam caro mesmo tendo baixado de preço devido à crise.
A crise também não é motivo para não desfilarem as marchas na Av. da Liberdade (viva a liberdade, nem que seja só a de desfilar na avenida e a de apertar os cintos) e de não se embelezarem os elevadores, que ficam lindos.
É o caso do elevador da Glória, na íngreme Calçada da Glória, que eu tantas vezes utilizei para ir às sete e tal da manhã trabalhar na Santa Casa, como escrutinadora do Totobola. 


Outros tempos, tempos de juventude, em que só havia Totobola, mas em que, mesmo assim, o trabalho de apenas uma manhã, dava para eu comprar os livros da faculdade, ir ao cinema e mais algumas coisitas...
Belos tempos, como são sempre os tempos da juventude!!!
Nem imaginaria nunca que o belo eléctrico/elevador que eu utilizava e que era uma breve aventura ao começar do dia e da semana (era sempre 2ª feira de manhã) ia ficar enfeitado e ser alvo de tantas atenções nas Festas de Lisboa.
Lisboa é linda e  nunca deixará de o ser!!!