sábado, 6 de julho de 2013

«Nós» de Cesário Verde




Cesário Verde (1855-1886)

Considerado por muitos um dos maiores poetas portugueses, embora tenha sido arrebatado pela tuberculose aos 31 anos (a sua irmã e irmão já tinham morrido da mesma causa), deixou uma obra poética de grande beleza e intemporal.
Dessas terríveis doenças que ceifavam vidas a crianças, jovens e pessoas de todas as idades, nos fala ele no poema Nós, enquanto ainda pensava que se tinham salvado na fuga. 
Ironias do destino...

Diz sobre ele Alberto Caeiro, nos seus Poemas Completos:

Ao entardecer, debruçado pela janela,
E sabendo de soslaio que há campos em frente,
Leio até me arderem os olhos
O Livro de Cesário Verde.

Que pena que tenho dele! Era um camponês
Que andava preso em liberdade pela cidade.
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Nós
                        
                                                                 (a A. de S. V.)

Foi quando em dois verões seguidamente a Febre
E o Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Ora meu pai, depois das nossas vidas salvas,
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre os montões das malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!

Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga.
(...........)

                                                            Cesário Verde





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