Hoje, uma bela fábula da região do Algarve.
Do Algarve, de que gosto tanto, com todos os seus recantos, praias, costumes e doces maravilhosos.
teatro de portimão
As três fadas
Era uma vez um casal, João e Francisca, que viviam
muito tristes porque não tinham filhos.
Era um grande desgosto para eles. Até que um dia,
Francisca resolveu ir ter com o Padre Santo Antóniopara se confessar e contar-lhe o seu problema.
O santo disse-lhe:
-Olha, Francisca, leva estas três maçãs para casa, mas
atenção: tens que as comer em jejum.
-Está bem, padre. Muito obrigada – respondeu a
Francisca, toda feliz da vida.
Quando chegou a casa, pôs as três maçãs sobre a cómoda
e foi fazer o almoço.
O João,
quando chegou a casa para almoçar, viu logo as maçãs e, como era muito glutão,
comeu-as todas.
- Ah, homem, o que foste fazer! – disse Francisca toda
aflita.
E foi a correr ter com o santo outra vez, que lhe
disse apenas:
-Pois então, já que ele comeu as maçãs, ele é que vai
ter a criança e passar por todos os trabalhos do parto.
Francisca foi contar ao marido o que o padre tinha
dito.
-Pode lá ser! Nunca um homem teve uma criança…Ah! Ah! Ah!
Isso é impossível – respondeu incrédulo o João.
Mas os tempos passaram, a barriga de João foi crescendo e, chegado o momento
do parto, ele começou a gritar.
-Ai, quem me acode! Ai, que eu morro!
A mulher foi a correr chamar o médico, que lhe abriu a
barriga e tirou de lá a criança.
João, estava tão desesperado e fora de si, que mandou deitar a criança nos montes, não a querendo ver mais.
Foi então que uma águia, que tinha descido do alto das
escarpas à procura de alimento, viu o bebé abandonado e levou-o no bico para o seu ninho. Lá a criança foi
crescendo, alimentada com o leite que a águia ia tiraràs vacas que pastavam nos montes, agasalhando-a com
umas roupitas que surripiava dos estendais. Quando já não cabia no ninho,
fez-lhe uma casota de palha e com pauzinhos, onde a pobre criança foi crescendo
e se tornou numa formosa rapariga.
Certo dia, apareceu por aquelas montanhas um príncipe,
que andava à caça. Quando viu aquela jovem tão bela, perguntou-lhe:
-Queres vir comigo para o meu palácio? Não podes
continuar a viver aqui para sempre…
Ela respondeu logo que sim. Mas, quando ia a entrar
para a carruagem do príncipe, apareceu a águia para a impedir.
-Não vás embora! Fica aqui comigo! – dizia a águia,
desesperada, lutando contra o príncipe.
No meio da luta e da confusão, deu-se uma desgraça: a
águia tirou um olho à menina com uma bicada, ficando esta com aquele defeito e
aquela marca para sempre.
Mas o príncipe tinha-se apaixonado por ela logo que a
viu e não deixou de gostar dela por isso. Levou-a consigo até ao palácio e
escondeu-a no seu quarto.
Como o príncipe passava muito tempo fechado no seu
quarto, a rainha começou a desconfiar.
-O que será que se passa, para ele nunca sair do
quarto? Tenho de arranjar uma maneira de o fazer sair e descobrir o que está lá
dentro!
A rainha mandou então preparar uma grande caçada. O
príncipe foi acompanhado de todos os seus fidalgos e por lá andaram durante
vários dias.
A rainha pôde entrar finalmente no quarto do filho,
por uma porta secreta, que só ela conhecia. Descobriu logo a menina e
disse-lhe:
- Com que então és tu que trazes o meu filho encantado!?
Eu logo vi que aqui havia mistério! Anda comigo que te vou mostrar os palácios
e o jardim.
A pobre da moça lá foi com a rainha, vendo tudo o que
esta lhe mostrava. Quando chegaram ao jardim, a rainha levou-a para perto dum
poço muito fundo, deu-lhe um forte empurrão e ela caiu lá dentro.
Quando o príncipe chegou da caça, a rainha foi logo
ter com ele e disse-lhe:
-Aquela rapariga que estava fechada no teu quarto,
assim que apanhou a porta aberta, desatou a correr e ninguém a conseguiu apanhar.
De noite, andavam três fadas por ali e, ao ouvirem uns
gemidos, aproximaram-se do poço.
-Que será isto? Estão a ouvir o mesmo que eu?
-Parecem gemidos de mulher…
E lá foram espreitar à poço, viram a rapariga lá no fundo e uma das fadas
disse:
-Eu te fado que saias desse poço já e que sejas a
menina mais perfeita do mundo!
E a segunda fada:
-Eu te fado que tenhas uma tesourinha de prata, para
cortares a língua a quem te perguntar as coisas duas vezes.
E a terceira fada:
-E eu te fado que tenhas um palácio em frente do
palácio da rainha, velhinho por fora, mas muito bonito por dentro, todo em ouro
e prata.
E assim foi.
No dia
seguinte, todos no paço ficaram muito admirados por verem aquele antigo palácio
aparecerassim, do
nada. A rainha então ficou intrigadíssima e enviou um velho criado saber que
palácio era aquele e quem lá morava.
O velho criado entrou no velho palácio e ficou
maravilhado com o que viu lá dentro. Apareceu-lhe uma bela jovem muito bem
vestida, a quem perguntou:
- Sua majestade, a Rainha, enviou-me aqui para saber
que palácio é este e quem o habita.
A jovem respondeu assim:
Diga a Sua
Majestade
Que minha mãe
me desejou,
Que foi meu
pai que me teve
E nas silvas
me deitou;
Uma águia me
criou.
Na caça o
príncipe me achou,
A rainha ao
poço me deitou;
Mas três
fadas me fadaram,
Para aqui me
trouxeram
E eu daqui me
não vou.
O velho criado, perante aquela complicada história,
não percebeu bem e pediu para ela repetir.
A jovem disse então:
-Desanda, tesourinha.
A língua do velho criado caiu logo naquele instante.
Voltou para o palácio e só conseguia dizer:
-Ló-ló-ró…ló-ló-ró…
A rainha mandou lá outro criado, mas também lhe
aconteceu o mesmo.
Por fim, foi lá o príncipe e, quando ouviu aqueles
versos, reconheceu logo a jovem por quem se tinha enamorado.
Foi a correr contar tudo à rainha, que quis ir lá
também ver se era verdade.
Depois de se certificar que era mesmo verdade,
autorizou o casamento dos dois, que ficaram muito felizes.
(conto de
fadas da região do Algarve)