sexta-feira, 7 de junho de 2013





Mia Couto, ou melhor António Emílio, escritor moçambicano, recebeu o Prémio Camões este ano, 2013, o maior prémio da literatura lusófona, pelo conjunto da sua obra.
Mais do que merecido! E todos nós, portugueses, nos congratulamos com isso, porque gostamos dos seus livros, escritos numa língua portuguesa reinventada e recriada não só pela sua imensa e variada  experiência de vida, como também pela sua capacidade de a transmitir a todos.
A sua frase Todo o Homem é uma raça tornou-se numa epígrafe e foi adoptada por todos que acham que a condição e o estatuto da pessoa não podem ser atribuídos em função da aparência exterior, e que se batem pelo reconhecimento da igualdade biológica e de direitos.

O genoma não tem raça.

Esta foi a frase proclamada em 13 de Fevereiro de 2001, no início deste século que se deseja diferente do catastrófico século XX, que se pretende sem preconceitos de espécie alguma.
Perante o tempo de instabilidade que se vive em todo o mundo, e o ataque das forças predadoras dos sistemas financeiros e capitalistas, em que cada um procura sobreviver o melhor que pode, ou roubar o máximo possível, segundo o caso, esperemos que estas frases não se tornem míticas, bem como os Objectivos do Milénio, já esquecidos por muitos, com toda a certeza.

Chegada

Chegas,
sóbria e sombria,
e desocupas em mim
a tua própria sombra.

Agora és a minha própria voz:
nenhum silêncio nos pode calar.

Falas e acaba o tempo.

E eu escuto-te
apenas quando te lembro.

 


Mia Couto, Poema Inédito(vidé Jornal de Letras de 12/6/2013)


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