domingo, 2 de outubro de 2011

«Livros atrás das grades»-reportagem de Ana Cristina Pereira e Adriano Miranda



A reportagem que a revista Pública apresenta hoje é muito curiosa e gratificante para os escritores e autores em geral: se há alguém que lê os seus livros são as pessoas que estão nas prisões, quer dizer, os presos. E a leitura ajuda-os muito.
É um estudo bastante interessante conhecer os vários perfis possíveis de leirores e esta reportagem é um contributo inegável para esse estudo.
Eis o que alguns presos dizem:

Ler é fugir daqui.
Um livro pode ser uma forma de liberdade.
Um livro pode ser uma estratégia para nos protegermos - de nós, dos outros.
Um livro pode ser um amigo, uma escola, um auxílio para quem deseja manter um namoro à distância ou apenas passar o tempo.
Os livros afastam-me um bocado dos meus conflitos emocionais, ocupam-me com questões intelectuais.
A leitura é uma escola. Não! A leitura é mais porque está disponível a qualquer momento. A leitura faz parte da sala de aulas que é a vida. Sou um aluno constante. Lerei até ao fim da minha vida.
Gosto de olhar para os livros. Gosto de olhar para eles. Posso estar stressado, chego aqui (à biblioteca) e passa-me o stress...Sinto-me em paz.
Às vezes vejo uma muito em baixo e digo: «Anda cá!» Aquele livro faz milagres. Não o faz toda a poesia?

Estes são testemunhos fantásticos de pessoas que vivem sem liberdade. Nós, os autores e todos os que estão ligados à «indústria» dos livros, não devíamos esquecer isto. Nós ajudamos muita gente e podemos ajudar cada vez mais. A leitura é importante para muita gente! Que bom!

2 comentários:

  1. Tudo isso é verdade. No entanto, muito mais se poderia fazer em prol da cultura de muitas pessoas que se encontram detidas. Muitas delas com fraca possibilidade de um dia quando sairem, comprarem livros, quebrando assim o hábito de ler. E por que o facto de muita gente se esquecer que quem está detido também é gente, só por si é já um dos principais obstáculos a dar outras perspectivas de vida, para as quais os livros contribuem (muito) não se criando, não se cimentando o hábito de ler. Logo não se conseguem transmitir aos filhos esses mesmos hábitos e é necessário não esquecer que muitas dessas detidas tem os seus filhos consigo, encarcerados, inocentes... mas encarcerados. Para eles (que conheço alguns) vão os meus pensamentos. Pois a sua imaginação fica "emperrada". Também eles - os livros - podem reforçar os programas de reinserção que, conforme se descreve na Lei, deveriam começar no dia do encarceramento. Façam alguma coisa por elas. Por favor.

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  2. Tem toda a razão! No que me diz respeito, vou lembrar-me mais destas crianças, depois de ler este artigo da Pública! E as «grandes» editoras bem podiam também fazê-lo, em vez de guilhotinarem livros, como tem sido feito muitas vezes, numa atitude economicista e egoísta. Fica aqui o apelo!

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