Orlando da Costa nasceu em 1929, em Lourenço Marques. É, porém, em Goa que passa toda a sua infância e vive até aos 18 anos. Concluídos os estudos secundários, vem para Portugal em 1947 e licencia-se em 1953, em História e filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Após uma curta experiência no ensino, dedica-se à publicidade.
A sua actividade literária inicia-se em 1951 com a publicação de um livro de poesia A Estrada e a Voz. Escreveu vários livros de poesia e de teatro, bem como de ficção. Em 1984 publicou A como estão os cravos hoje, peça levada à cena pela Companhia Seiva Trupe. Pelo conjunto da sua obra, a Academia das Ciências de Lisboa atribuiu-lhe o Prémio Ricardo Malheiros.
Foi militante do Partido Comunista Português até 2006, ano em que morreu em Lisboa.
Reler este livro e redescobrir este autor (comprei-o ao Círculo de Leitores em 1973) foi para mim imensamente enriquecedor. Não só pelo «mergulho» nos cenários estranhos e longínquos dum subcontinente indiano, o Industão, à época ocupado pelos soldados portugueses - os paclé; pelo retrato pungente e dramático da vida daquelas gentes miseráveis que, apesar de trabalharem de sol a sol, nada têm de seu a não ser um mísero casebre e uma esteira no chão para se deitarem (a Natel, a Pidade, o Jaqui, o Gustin, a Coinção); pela aprendizagem de palavras e expressões do crioulo daquelas gentes colonizadas e exploradas ao longo dos séculos, cujas marcas da lusofonia são notórias; como também pela expressão literária deste autor, imbuída de realismo dramático e de beleza telúrica, que devia e podia ser mais lembrado e conhecido entre nós.
Apenas um excerto desta maravilhosa epopeia:
Escravizados à lei do sol e das chuvas, os homens do campo olharam constrangidos para tudo quanto de novo acontecia à sua volta e assistiram, perplexos e temendo a sua própria revolta, à fraqueza e ao declínio dos batcarás, senhores das terras que amanhavam. Viram apodrecer sob o chão alagado a última semente do senhor e à beira do desespero conteve-os a submissão e a esperança. E por isso suportaram a fome caminhando de mãos dadas com o sol no meio de uma paisagem de verdura luxuriante, onde só os frutos suspensos e as ervas de pasto pareciam sobreviver. Mal-aventuradas gentes condenadas a ver as monções vestir de verde a própria morte!
Orlando da Costa, O Signo da ira