terça-feira, 7 de maio de 2019

«Começar de novo» de Ivan Lins



Quase todos nós tivemos de recomeçar qualquer coisa ao longo da nossa vida, por motivos bons ou menos bons.
Mas não nos deixámos abalar, não baixámos os braços, lutámos com todas as forças.
Podemos não ter conseguido vencer, mas, como diz este poema de Ivan Lins, fomos em frente e contámos connosco próprios e com os outros também, é preciso acrescentar.

A interpretação desta canção por Simone é maravilhosa e podem ouvi-la no link indicado em baixo.




Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Ter me rebelado
Ter me debatido
Ter me machucado
Ter sobrevivido
Ter virado a mesa
Ter me conhecido
Ter virado o barco
Ter me socorrido
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Sem as tuas garras
Sempre tão seguras
Sem o teu fantasma
Sem tua moldura
Sem tuas escoras
Sem o teu domínio
Sem tuas esporas
Sem o teu fascínio
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido

Sem as tuas garras
Sempre tão seguras
Sem o teu fantasma
Sem tua moldura
Sem tuas escoras
Sem o teu domínio
Sem tuas esporas
Sem o teu fascínio
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Já ter te esquecido

Compositores: Ivan Lins / Vitor Martins
https://www.youtube.com/watch?v=UUc3GODAwX0

domingo, 5 de maio de 2019

José Régio

Estive a reler e a recordar «Mas Deus é grande» de José Régio, o poeta que foi professor de Português e Francês, não porque quisesse realmente ser professor, mas por obrigação, para poder subsistir e tornar-se independente. Mesmo sendo filho de ourives.

Foi em Vila do Conde que José Régio nasceu, filho do ourives José Maria Pereira Sobrinho e de Maria da Conceição Reis Pereira, e aí viveu até acabar o quinto ano do liceu. Ainda jovem publicou os seus primeiros poemas nos jornais vilacondenses A República e O Democrático, dirigidos por seu tio e padrinho António Maria Pereira Júnior.
Depois de uma breve e infeliz passagem por um internato do Porto (que serviu de matéria romanesca para Uma gota de sangue), aos dezoito anos foi para Coimbra, onde se se licenciou em Filologia Românica, em 1925 com a tese As correntes e as individualidades na moderna poesia portuguesa. Esta tese na época passou um pouco ignorada, uma vez que valorizava poetas quase desconhecidos na altura, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro; mas, em 1941, foi ampliada e publicada com o título Pequena história da moderna poesia portuguesa.


Foi em 1927 que José Régio começou a leccionar Português e Francês num liceu no Porto, até 1928, e a partir desse ano em Portalegre, onde ensinou grande parte da sua vida no então Liceu Nacional de Portalegre (atual Escola Secundária Mouzinho da Silveira) de 1929 a 1962, ano em que se aposentou do serviço docente. Manteve-se em Portalegre até 1966, quando regressou definitivamente a Vila do Conde. 

Em 1927, com Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões, fundou a revista Presença, que veio a ser publicada, irregularmente, durante treze anos. Esta revista veio a marcar o segundo Modernismo , que teve como principal impulsionador e ideólogo José Régio, que também escreveu em jornais e revistas como Seara Nova, Ler, etc.


Em Coimbra, no Café Central, reunira-se o grupo de jovens da Presença, incluindo Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões , que José Régio também frequentava.
Depois, nos seus anos de Alentejo, Régio presidira a nova tertúlia no Café Central, agora de Portalegre, que integrava entre outros o médico Feliciano Falcão, o pintor Arsénio da Ressurreição e o capitão Carlos Saraiva, entre outros. 
Já nos últimos anos da sua vida, Régio foi de novo a figura tutelar de uma tertúlia que reunia semanalmente no Diana-Bar da Póvoa de Varzim, ou no restaurante Marisqueira em A-Ver-o-Mar (o "grupo dos sábados") a que compareciam regularmente Manuel de Oliveira, Luis Amaro de Oliveira, Orlando Taipa, Flávio Gonçalves e Pacheco Neves e a que se juntou Agustina Bessa-Luis


Durante o tempo que passou no Alentejo, e para apoiar as suas apetências de coleccionador, Régio desenvolveu um pequeno negócio de comércio e restauro de antiguidades, e empregou artífices por sua conta para recuperar as suas próprias peças e aquelas que vendia. 
Veio assim a reunir uma extensa e preciosa coleção de antiguidades e de arte sacra alentejanas que vendeu à Câmara Municipal de Portalegre em 1964, com a condição de esta comprar também o prédio da pensão onde vivera e de o transformar em casa-museu. Providenciou de igual modo para a sua casa de Vila do Conde e hoje em dia ambas as casas de Vila do Conde e de Portalegre são casas-museu, onde se expõe um rico acervo de arte sacra e de arte popular, as duas predileções artísticas de Régio.




Como escritor, José Régio é considerado um dos grandes criadores da moderna literatura portuguesa. Refletiu em toda a sua obra problemas relativos ao conflito entre o Homem e Deus, o artista e a sociedade, o Eu e os outros. Construiu a sua poderosa arte poética e ficcional num tom misticista e num intimismo psicologista com que analisava a problemática das relações humanas e da solidão do indivíduo, procedendo ao mesmo tempo a uma dolorosa autoanálise. 

A escolha dum poema foi difícil, mas aqui vai um que me tocou especialmente.


Ode

Nuvens tocadas pelos ventos, ide!
Lá para além de vós, o céu não passa.
Contra as rochas erguidas e paradas,
Desfazei-vos na vossa eterna lide,
Ondas, flocos de espumas encrespadas…


Que a praia, não há onda que a desfaça.

Desfolhai-vos nas asas do tufão,
Rosas inda em botão esta manhã,
Folhas aos ventos troncos arrancadas!
Cinzas levais, só cinza!, em vossa mão,
Tempestades futuras e passadas!



Sobre a semente, a vossa fúria é vã.

Decorrei, dias meus já sem sentido
Senão o de ficar, que não é vosso.
Dissolvei-vos no ar, mãos revoltadas!
Gestos, formas, visões, sons, pó erguido,
Voltai ao pó das tumbas ignoradas!...

Que não se apaga a luz de além do poço.

Sou, como as nuvens sou que nada são,
E as ondas frágeis como vãs quimeras,
E as pétalas e as folhas desfolhadas,
E as formas fogo-fátuos da ilusão…
Correi, lágrimas fúteis enganadas!

Mas tu canta, minh'alma!, enquanto esperas.

                                                     in Mas Deus É Grande



















quarta-feira, 1 de maio de 2019

Primeiro de Maio de 1974




Mário soares e Álvaro Cunhal no centro

A 1ª comemoração do 1º de Maio em Portugal, 5 dias depois do 25 de abril de 74 foi um dia histórico e de grande comoção para todos nós, que nunca tínhamos saído à rua sem repressão.


O dia do Povo Unido Jamais será vencido.
A esperança continua viva em mim, mesmo que tudo tenha mudado muito 45 anos depois.




terça-feira, 30 de abril de 2019

Os melros, esses belos pássaros negros



Não tenho um melro à minha janela, mas tenho no prédio em frente um ninho de melros num buraco da parede. Todos os anos é habitado e os pais saem e entram em grande azáfama para alimentar aqueles filhotes, que devem estar sempre com fome, pelo que vejo.


O Melro

De que fala quando canta
o melro à minha janela?
Fala do amor ausente
ou recorda simplesmente
os tempos que não viveu
porque morreu?
Vestiu de luto para sempre
e as penas pretas que veste
não consentem alegria:
apenas deixam ouvir
a sua melancolia
num cantar de dor presente.
Carlos Mendonça Lopes




domingo, 28 de abril de 2019

O flagelo das baleias mortas



Não bastavam todas as outras desgraças fatais que acontecem a estes belos cetáceos (ficarem encalhadas em navios, não conseguirem regressar para o mar alto), agora é também o maldito plástico que as mata . Somos todos nós que usamos copos, talheres, etc de plástico, e os governos que não legislaram a tempo para os proibir, e as lixeiras que não fazem o seu tratamento e os deitam para o mar, todos somos responsáveis diretos ou indiretos deste flagelo que está a atingir as baleias, os mares, os corais, enfim toda a flora e fauna marítima.
Tudo isto me assusta e me causa grande pena.
Mas os governantes deste mundo parecem continuar a pensar só na sua vidinha material e gananciosa.
Esperemos que haja mudanças em breve, para bem do nosso Planeta e de todos nós.
Por mim, vou recusar-me a tirar café ou outra bebida em copos de plástico, nem que me apresentem uma chávena de café com uma colherzinha de plástico. Etc etc.
Pouco a pouco...enche a galinha o papo.




Maré mágoa
Maré brava
Maré do nosso desespero
Maré alta
Maré baixa
Maré da nossa dor
Não nos leves para sempre
As baleias, os corais
Toda esta vida em flor

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A poesia está na rua






A POESIA ESTÁ NA RUA, 

o poster que esteve na minha parede até se estragar.
Com cravos, poesia e uma multidão que saltou das camas a ouvir «Houve uma revolução, houve uma revolução» e foi para a rua comemorar, ou ficou em casa a ouvir e olhar espantado a Televisão.
Depois...aconteceu a Vida … até hoje.
Tivemos sorte!

terça-feira, 23 de abril de 2019

A Igreja de São Sebastião da Pedreira

Igreja de S. Sebastião da Pedreira


Esta foi a Igreja onde os meus pais casaram e onde os meus irmãos e eu fomos batizados.
É uma verdadeira relíquia ali mesmo no Centro da Cidade, mas parece-me que os turistas preferem ir para outros locais, principalmente comerciais.


A Igreja de São Sebastião da Pedreira é um templo católico situado no Largo de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa.
Esta igreja de construção seiscentista, fundada no tempo do rei D. João IV de Portugal, no sítio da Pedreira, é uma das raras sobreviventes do terramoto de 1755, tendo sido inaugurada em 1652. Foi dedicada ao mártir cristão São Sebastião, cuja vida é retratada no teto e nos painéis de azulejos que forram as paredes.
Traduz uma linguagem severa "estilo chão", cuja fachada de duas torres sineiras, definidas por pilastras e cunhais de cantaria, é coroada por duplo frontão triangular. É servida por escadaria dupla, lateral, para vencer o desnível do adro, e surge rasgada por um portal emoldurado a cantaria, rematado por tímpano interrompido por um medalhão em baixo relevo com o emblema do santo padroeiro.
O interior, de nave única, revela uma decoração e um precioso recheio de arte barroca dos séculos XVII e XVIII, de certo modo inesperado face à secura do exterior
O resultado é uma mistura de imagens azuis e brancas e detalhes dourados que surpreendem ao entrar, pois o exterior é simples e austero.

Interior da Igreja
Os efeitos do terramoto de 1755 foram nocivos, tendo desaparecido o tecto de caixotões de brutesco (1670) que cobria a nave e impondo muitas obras de restauro no templo, mas ainda resta, da campanha anterior a 1755, a obra do coro barroco, com colunas de elegância berniniesca, em pedra acinzentada, suportando uma balaustrada, que remete para campanha barroca do início do século XVIII.
Na capela-mor, encontra-se o túmulo de D. João Bermudes, patriarca de Alexandria e Etiópia, falecido em 1570, que procede da anterior ermida.