sexta-feira, 30 de setembro de 2011

«O signo da Ira» de Orlando da Costa

Orlando da Costa nasceu em 1929, em Lourenço Marques. É, porém, em Goa que passa toda a sua infância e vive até aos 18 anos. Concluídos os estudos secundários, vem para Portugal em 1947 e licencia-se em 1953, em História e filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa. Após uma curta experiência no ensino, dedica-se à publicidade.
A sua actividade literária inicia-se em 1951 com a publicação de um livro de poesia A Estrada e a Voz. Escreveu vários livros de poesia e de teatro, bem como de ficção. Em 1984 publicou A como estão os cravos hoje, peça levada à cena pela Companhia Seiva Trupe. Pelo conjunto da sua obra, a Academia das Ciências de Lisboa atribuiu-lhe o Prémio Ricardo Malheiros.
Foi militante do Partido Comunista Português até 2006, ano em que morreu em Lisboa.
Reler este livro e redescobrir este autor (comprei-o ao Círculo de Leitores em 1973) foi para mim imensamente enriquecedor. Não só pelo «mergulho» nos cenários estranhos e longínquos dum subcontinente indiano, o Industão, à época ocupado pelos soldados portugueses - os paclé; pelo retrato pungente e dramático da vida daquelas gentes miseráveis que, apesar de trabalharem de sol a sol, nada têm de seu a não ser um mísero casebre e uma esteira no chão para se deitarem (a Natel, a Pidade, o Jaqui, o Gustin, a Coinção); pela aprendizagem de palavras e expressões do crioulo daquelas gentes colonizadas e exploradas ao longo dos séculos, cujas marcas da lusofonia são notórias; como também pela expressão literária deste autor, imbuída de realismo dramático e de beleza telúrica, que devia e podia ser mais lembrado e conhecido entre nós.
Apenas um excerto desta maravilhosa epopeia:

Escravizados à lei do sol e das chuvas, os homens do campo olharam constrangidos para tudo quanto de novo acontecia à sua volta e assistiram, perplexos e temendo a sua própria revolta, à fraqueza e ao declínio dos batcarás, senhores das terras que amanhavam. Viram apodrecer sob o chão alagado a última semente do senhor e à beira do desespero conteve-os a submissão e a esperança. E por isso suportaram a fome caminhando de mãos dadas com o sol no meio de uma paisagem de verdura luxuriante, onde só os frutos suspensos e as ervas de pasto pareciam sobreviver. Mal-aventuradas gentes condenadas a ver as monções vestir de verde a própria morte!

                 Orlando da Costa, O Signo da ira



quinta-feira, 29 de setembro de 2011

«Outro Sol» de Isabel del Toro Gomes




Outro sol

Quando faço rabiscos no papel

Desenho sempre um sol

Radioso magnífico ofuscante

Não sei porque razão…

A mão já vai desenhando sozinha

Não precisa de tinta nem pincel

Talvez que dentro de mim

Quem o desenha é o coração…

Sente aquela estrela brilhante

A apagar-se mais e mais

Dentro dos homens e do universo

Eva é traída por Adão

E as sombras vão descendo

Sobre o edénico jardim.


domingo, 25 de setembro de 2011

«Outono» de Isabel del Toro Gomes




Outono


Já é Outono na natureza

Choram as árvores em silêncio

Porque não querem ficar nuas

Choram as nuvens em cordões

Porque têm saudades do mar

As flores entristecem

E as borboletas desaparecem

Os verdes ficam castanhos e amarelos

Murcham os enamorados corações

Cheira a castanhas a fruta e a marmelos

Tudo muda e fica mais frio

É o Outono com a sua beleza.




quarta-feira, 21 de setembro de 2011

«Tradutor de chuvas» de Mia Couto


Ofereceram-me este livro e foi mais uma descoberta: Mia Couto também escreve poesia. Porque poeta sempre ele foi, a sua escrita é toda ela um longo poema. Gostei muito, é um livro inspirador, em que se atinge a beleza completa pela simplicidade, ou vice-versa:
Escolhi alguns poemas que me tocam mais, entre tantos outros:

Flores
Ninguém
oferece flores.

A flor,
em sua fugaz existência,
já é a oferenda.

Talvez, alguém,
de amor,
se ofereça em flor.

Mas só a semente
oferece flores.





Sementeira

O poeta
faz agricultura às avessas:
numa única semente
planta a terra inteira.

Cada lâmina de enxada
a palavra fere o tempo:
decepa o cordão umbilical
do que pode ser um chão nascente.

No final da lavoura
o poeta não tem conta para fechar:
ele só possui
o que não se pode colher.

Afinal,
não era a palavra que lhe faltava.

Era a vida que ele, nele, desconhecia.


                                                Mia Couto, Tradutor de Chuvas
 


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

«Carlitos, o Corajoso», de Isabel del Toro Gomes

Ficha de leitura

Carlitos, o Corajoso

Mais uma proposta de abordagem do livro que conta a história do Carlitos:

1.   Escolhe uma personagem do livro e descreve-a física e psicologicamente.

2.   Qual era a disciplina que despertava mais interesse ao Carlitos? E a tua disciplina preferida qual é e porquê?

3.   Por que razão todos podiam contar com a ajuda do Carlitos?

4.   Qual era a situação difícil que Carlitos estava a viver?

5.   Quem era o suporte da família de Carlitos, naquele momento?

6.   Como era constituída a família de Carlitos?

7.   Indica todos os personagens desta história.

8.   Escolhe um adjetivo que caracterize a situação da família do Carlitos, antes de o pai adoecer.

9.   Que solução é que a mãe do Carlitos lhe propôs?

10.         Qual era a principal preocupação do Carlitos?

11.         Por que razão aquele trabalho era a solução ideal?

12.         Como era o trabalho dele no supermercado?

13.         Como se sentiu ele nos primeiros dias? Porquê?

14.         O que fazia o Carlitos para se animar e distrair?

15.         Quais foram os momentos mais felizes para Carlitos?

16.         Relata uma situação muito boa ou muito má por que tenhas passado na tua vida.

«Ericeira» de Isabel del Toro Gomes



Ericeira

Praias da Ericeira

Com aquele cheiro salgado

A mar a rochas e  algas

Que penetra nas pupilas

Nos atormentados corpos

Estirados na areia

Pela pele e pela alma

E os deixa inebriados

Bêbados de sol e de azul

Desejosos de mais calor

Mais amor mais tudo



Noites da Ericeira

À luz do luar

Em que a terra toda se banha

Nas mansas ondas da maré baixa

Ouvindo a ressaca…

Há corpos e ondas que se entrelaçam

No mar alto ou no areal

Perdidos da vida e da noite

Em busca do alimento que há-de vir

Na longa campanha de dor…

Até que tudo se acalma

Na madrugada fria

Com o canto da rola que desperta

Para mais um dia.


domingo, 18 de setembro de 2011

«Constantino guardador de vacas e de sonhos» de Alves Redol



Releio a obra que me ajudou a crescer e que, fazendo parte dos programas do ensino secundário há anos atrás, li e analisei com os meus alunos muitas vezes. Uma delícia de leitura, uma escrita simples e uma história cheia de interesse e de pássaros. Devia ser lida por todos os jovens, na escola ou fora dela. É sempre tempo de voltar aos programas e às escolas, agora tão precisadas de mudança.
O 1º parágrafo do livro diz tudo:

Tem doze anos, mas não deitou muito corpo para a idade. Ainda está a tempo. Um homem cresce até ao fim da vida, se não em altura, pelo menos em obras e ambições. E nisso promete.

                                in «Constantino guardador de vacas e de sonhos

Não se enganou Alves Redol, ao falar de Constantino. O rapaz «pitorro» da aldeia do Freixial, que sonhava trabalhar em navios, acabou em técnico de aviões. E ainda faz vindimas, em 2011!