Um mérito da poesia: diz mais e em menor número de palavras do que a prosa.
Voltaire
Um poema não deve ter significado, só SER.
Archibald Macleish
Um mérito da poesia: diz mais e em menor número de palavras do que a prosa.
Voltaire
Um poema não deve ter significado, só SER.
Archibald Macleish
No
mundo dos velhos
Homens
e mulheres sem janelas
À
espreita do céu
Esquecidos parados
Em quartos fechados
Espantam-se
as paredes aos gritos
Ouvem-se
os ecos que deliram
Ensurdecem as vozes
Contra os muros
Tudo
é solidão
Neste mundo de braços a acenar
A
pedir de mão em mão...
Deixem-nos
ao menos as portas abertas
A nós, pobres velhos sem vida
Sem janelas sem nada.
Maria Isabel
25/2/96
Biliões de seres fervilham
Sob
este sol magnífico demais
Este sol que nos penetra todos os poros
Que atravessa as nossas pálpebras cerradas
Neste mundo cheio de contrastes demais
Dizemos
que tudo amamos
O
mar a terra o ar os céus os animais
E em paga desse amor tudo nos dão
E os humanos tudo destroiem em golpes fatais
No
nosso belo planeta plantamos o vácuo
E no fim partimos para o espaço
Em
busca de outras galáxias
Com
a glória vã de deixar neste mundo
A
terra árida sem flor nem fruto
Os mares sem água azul e transparente
Biliões de seres aqui fervilhavam
Sob um sol outrora magnífico demais.
18/2/96
Qualquer Sítio
Em qualquer sítio
Me sinto bem
Ou me sinto mal
Em qualquer parte do mundo
Podemos ser felizes
Ou não!
Essa magia está dentro de nós
Todos os lugares podem ser paraísos
Ou infernos!
Em qualquer sítio
Podemos ser anjos
Ou demónios!
Em qualquer sítio
Podemos ser felizes
Se quisermos.
Maria Isabel
6/12/96
Fuga sem fim
A
vida está a passar
Estamos
a caminhar
Para
o fim não esperado
Cada
dia é muitos dias
Cada
hora muitas horas
E
eu não consigo lembrar tudo
A
vida está em fuga
Como
se tudo tivesse
Que
terminar um dia
A vida
foge-me e não torna
Entre os
dedos
A
esvoaçar como areia morna
Não
posso voltar
Esta
viagem é só de ida
E
cada passo que dou
É
um acto desesperado
Tentando
não chegar
Ao
dia da partida já marcado.
Maria
Isabel
4/9/95
Naquela tarde soalheira
A gata dormia
Em cima da cama, à beira
Ao sol estirada
E fazia rom-rom.
A dona da gata
Também dormia
Ao sol espreguiçada
E fazia rrrrrrrrrrrrrrrrrr
No mesmo tom.
Os passarinhos passavam
E faziam piu-piu-piu
Para a gata e para a sua dona.
Mas elas só dormiam
E toda a tarde faziam
rom-rom-rrrrrrrrrrrr-rom-rom.
Que bela sesta fizeram
Naquela tarde cheia de sol
A gata e sua dona!
Pois bem o mereciam!
Junho/96
De Vita
Bem
haja
Aos
que me deram a vida
Aos que me amaram
A
todos por quem me senti querida
A todas as alegrias sentidas.
Bem haja
À força que sinto arder em mim
Por
todo o bem
Que recebi com mãos ambas
Por
todos os males, doenças, enfim
Que feriram o meu pequeno e frágil corpo
Bem
haja
Os
campos em flor
Onde
a semente feliz germinou
E
aquele mar sem fim
Que
nos atraiu
E
por vezes nos atraiçoou
Bem
haja,
Enfim,
o amor!
Maria Isabel
25/8/96