
Mais um poema da juventude
Noite Serena num 7º andar
Noite serena
Alma penada
Angústia parada
Calças de ganga
Blusa aos quadrados
Olhos a sobrevoar
A nuvem passada
Nuvem escuridão
Olhos de solidão
Mãos no vazio
Mãos de nada
Lua cansada
Lua escondida
Braços vazios
Basta de Fado
A vida castrada
A ânsia frustrada
O amor enlatado
O fogo apagado
O poço sem água
A terra sofrida
A mágoa calada
Ouvindo Chopin
Lá no alto
Dum 7º andar
Dentro de mim.
Nasceu Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto no Chile, em 1904, mas aos dezessete anos tornou-se Pablo Neruda, nome pelo qual é conhecido mundialmente.
Vencedor do Nobel de Literatura em 1971 e considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX.
Matilde, nome de planta ou pedra ou vinho,
do que nasce da terra e dura,
palavra em cujo crescimento amanhece,
em cujo estio rebenta a luz dos limões.Nesse nome correm navios de madeira
rodeados por enxames de fogo azul-marinho,
e essas letras são a água de um rio
que em meu coração calcinado desemboca.Oh nome descoberto sob uma trepadeira
como a porta de um túnel desconhecido
que comunica com a fragrância do mundo!Oh invade-me com tua boca abrasadora,
indaga-me, se queres, com teus olhos noturnos,
mas em teu nome deixa-me navegar e dormir.
(........)
Pablo Neruda
As estrofes acima são apenas o trecho inicial de um longo poema de amor, dos mais celebrados de Neruda. Aqui a premissa de louvar a amada aparece com um elogio ao seu nome, esse é o ponto de partida para elevar suas virtudes.
Mais um poema de quando era jovem
EU, QUEM
SOU?
Mas,
afinal, quem sou eu?
Ouço os
meus passos que me procuram
Num
labirinto sem saída
Volto-me,
rodopio, caminho sem parar
Olho à
minha volta
Num acto de
deseperança
Nada,
ninguém me vê
Nem mesmo
tu
E tu? Quem
és?
Diz-me,
fala-me sem palavras
Fala-me com
os teus olhos
Com os teus
braços, com as tuas mãos
Com a tua
boca
Mas não com
palavras.
Sinto uma
vontade grande de escrever
As letras
procuram o papel
Mas
não falam de mim
Afinal,
quem sou eu?
Maria Isabel
A natureza é maravilhosa, embora a vida dos seres vivos nem sempre seja fácil.
Pois a luta pela sobrevivência é sempre dura.
Como a do urso polar e das focas.
Urso Polar
Eu sou o urso polar
Vivo no Pólo Norte
Alguns gostam de me chamar
Urso-branco e sou de grande porte
Pois dois metros e meio
Posso até alcançar
Quando em pé me colocar
Por causa da minha cor
No meio da neve e do gelo
Me sei disfarçar
Para assim as focas
Poder caçar
Quando elas nos buracos
Aparecem para respirar
Os filhotes do urso polar
São protegidos pelos pais
Dentro de grutas na neve
Mas sempre que podem
Saem delas para brincar e pular.
Maria Isabel
O lago sempre azul
Era um lago muito azul de Verão ou de Inverno, onde a
água era sempre desta cor quer houvesse sol ou não, o que é um mistério para
nós, os homens. Nós sabemos que a água reflecte a luz que entra nela e que lhe
vai mudando a cor. Às vezes fica cinzenta, quando há muitas nuvens, outras
verde e até castanha, enfim, de muitas e variadas cores.
Mas para os bichos que aí viviam não era mistério
nenhum, pois estavam tão habituados a ver o lago sempre azul que não
estranhavam. Até no Outono e no Inverno, quando as árvores do bosque dormiam o
seu longo sono e perdiam as folhas todas
(sim porque as árvores também hibernam, não são só alguns bichos, como os
ursos, os esquilos e muitos mais) e tudo ficava menos verde, o lago continuava
sempre azul.
Aí se passavam coisas extraordinárias. Os bichos
tinham nomes, falavam e tinham sentimentos como nós, tal como nas antigas
fábulas.
Então, esta história também é uma fábula, pensam
vocês! Pois é, se calhar é!
No lago sempre azul vivia a libelinha Bélinha, sempre
às voltas e reviravoltas por cima das águas. Procurava qualquer coisa, se
calhar alimento, se calhar só queria ver o mundo lá de cima, olhar cá para
baixo e ver os peixes a nadar, a nadar, nas águas transparentes e azuis, já se
sabe!
Certo dia, quando andava na sua ronda, viu lá de cima
uma folhinha a navegar com um caracol em cima. E pensou:
«Os caracóis não sabem nadar, isto não é normal!»
E perguntou-lhe:
-Ouve lá, como é que foste aí parar e quem és tu?
-Sou o Joel e estava ali à beira do lago a roer esta
folha, distraí-me, a folha foi deslizando e quando reparei já estava dentro de
água. Não tive culpa, isto pode acontecer a qualquer um, não?
-Está bem, não te irrites, senão ainda é pior!
-Pois é, é fácil de dizer!
-Vamos pensar numa solução, espera aí!
E a libelinha Bélinha deu umas reviravoltas por cima
do caracol Joel, que se sentia cada vez mais infeliz e se afastava cada vez
mais da margem.
-Olha ali vem a rã Adriana. Talvez ela nos possa
ajudar.
A rã Adriana andava aos pulos por cima das folhas dos
nenúfares, que ali nasciam presos ao fundo do lago e que davam belas flores
amarelas e cor-de-rosa. Sem ver o pobre do caracol que andava a navegar por
ali, deu um salto tal, que quase o ia deitando pela borda fora.
-Cuidado, ó sua desastrada! – protestou logo o Joel.
Não estás a ver que eu estou aqui aflito?
-E o que é que andas por aqui a fazer, pensas que és
um barco ou um peixe, é?
-Olha, se fosse a ti, estava caladinha! Isto pode
acontecer a qualquer um, está bem?
-Ainda por cima és refilão! Está mas é tu caladinho e
quietinho, senão ainda cais.
Estavam eles neste debate de ideias, quando a
Libelinha Bélinha teve uma ideia.
-Sabem uma coisa? Já descobri! Tu que és uma rã
saltitona e forte, tu é que podes levar o Joel nas tuas costas até à margem! -
disse muito feliz a libelinha Bélinha, porque era muito amiga dos outros bichos
todos e gostava sempre de ajudar.
O mesmo não pensava a rã Adriana.
-Eu, andar a servir de transporte público a esse
caracol refilão? Não me faltava mais nada! Tenho outra ideia.
-Então qual é? – perguntou Joel já desconfiado.
- Com a fome com que eu estou, meto-te mas é na minha
barriguinha e fico almoçada.
O pobre do caracol Joel quase que ia tendo uma coisa
má, que é como quem diz, ia morrendo de susto.
A Libelinha Bélinha claro que interveio logo naquela
discussão.
-Calma, meninos, calma! A falar é que a gente se
entende! Tenho outra ideia maravilhosa.
A rã e o caracol olharam para ela, suspensos.
-Se tu deres boleia ao Joel até à margem e não lhe
fizeres mal, eu levo-te depois nas minhas asas a dar uma voltinha aqui pelo
bosque. Que tal?
-E tu consegues levar-me nas tuas asas? – perguntou a
rã Adriana, muito desconfiada.
-Ah, sim, com umas asas tão grandes como as minhas,
posso levar-te à vontade. Não parecem, mas são muito fortes.
Ainda desconfiada, a rã lá se resignou a fazer de
barco. O caracol Joel lá conseguiu subir com os seus vagares para as costas da
rã Adriana, que já estava a perder a paciência. Agarrou-se bem, como faz nas
folhas e nos caules das plantas com a sua cola-tudo, a rã deu uns saltinhos e
logo logo estava outra vez em terra, são e salvo.
-Ufa! Estou safo! Obrigado e até à próxima - despediu-se
o caracol Joel, ainda a refilar com as riscas da sua casota.
Depois, foi a vez da rã Adriana viajar nas belas asas
transparentes da libelinha Bélinha. Quando se viu lá em cima, nem queria
acreditar! Ver assim o seu lago sempre azul lá do céu era fantástico! Parecia
tudo mais pequenino, as flores, as árvores, as pedras onde costumava estender-se
ao sol pareciam agora pedrinhas de brincar. Era mesmo giro!
E assim acaba a nossa história.
A Libelinha Bélinha continua nas suas voltas e
reviravoltas, sempre pronta a ajudar.
O caracol Joel continua refilão, mas nunca mais foi
imprudente, agora tem muito mais cuidado por onde anda.
A rã Adriana continua aos saltos, a querer comer tudo
quanto encontra, é a sua natureza, mas no fundo, no fundo, ficou muito feliz
por ter praticado pela primeira vez uma boa acção.
Pescador da barca bela
Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela.
Que é tão bela,
Oh pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela…
Mas cautela,
Oh pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Oh pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Oh pescador!
Almeida Garrett, Folhas caídas