segunda-feira, 18 de novembro de 2024

«O Livro Mágico »

 



O livro mágico

Muitas pessoas que se acham sábias dizem que já não há mais nenhuma história para contar!

Que todas as histórias já foram contadas, todas as ideias já foram exploradas, inventadas e reinventadas.

Pois eu, que não sou sábia, digo-vos que não!

Que tudo está por contar ainda!

Tudo o que está a acontecer agora no mundo e que vai acontecer amanhã, depois de amanhã, nos próximos dias, meses, anos, séculos…nunca ninguém contou, pois não?

Pode ser parecido com o que já aconteceu, mas igual igual não é. Nada acontece exatamente como antes aconteceu, igualzinho, sem tirar nem pôr! As pessoas são diferentes umas das outras, os locais também, as circunstâncias são outras…

Por isso, há ainda mil milhões de histórias por contar!

Ainda bem, pois eu queria contar-vos uma agora. Está a apetecer-me tanto! Era uma chatice se não pudesse fazê-lo.

A história do livro mágico!

Não há livros mágicos? Só se nós não quisermos! Mas não vou argumentar mais com os sábios deste mudo, estejam descansados!

O Pedro tinha um livro grande, muito grande e cheio de palavras que ele estava farto de ler. Olhava e tornava a olhar para aquelas linhas muito direitinhas, cheias de abelhinhas que zumbiam aos seus ouvidos.

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

Mas ele não percebia grande coisa daquela história! Sabia ler sim, sabia juntar as letras e formar as palavras, mas não percebia o sentido de muitas delas.

«Que palavras tão complicadas, porque é que os adultos escrevem assim?»

Ele não sabia o que queria dizer um monarca.

E o que seria um jardim botânico? E uma acácia?

E tantas outras coisas de que ele nunca ouvira falar.

Mas dava-lhe uma preguiça terrível e não ia ver o que queriam dizer as tais palavras no dicionário.

«Ná, isso dá muito trabalho! Tenho mais que fazer!».

E lá vinham de novo as abelhinhas que zumbiam zumbiam na sua cabeça.

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

Ainda por cima, toda a gente lá em casa lhe perguntava:

«Estás a gostar do livro?»

«É giro, esse livro?»

«Emprestas-me depois esse livro?»

«Esse livro deve ser muito interessante!»

 E ele Nada, não conseguia dizer Nada!

Ficava mudo e encabulado! Nem sabia bem o que dizer…

«Hã,hã.. sim sim… é muito giro».

Até que um dia o livro grande do Pedro resolveu dar-lhe uma ajudinha. Estava farto de o ver fazer aquelas figuras, pediu ao autor que o tinha escrito licença para fazer uma magia, o autor, que adorava magias, deu-lhe logo as licenças todas e ele tornou-se num livro mágico.

Ah!!! Agora já sabem o segredo: se as pessoas que escrevem os livros quiserem muito muito muito, e acreditarem muito muito muito nisso, os livros podem ser mágicos!!!

Mas o Pedro não sabia de nada, claro! Ia ser tudo uma imensa surpresa para ele!!

Certo dia em que ele estava mais uma vez intrigado a olhar para as letras que formavam palavras, que por sua vez formavam frases, que por sua vez formavam parágrafos, que por sua vez formavam a história, uma das  abelhinhas soltou-se do texto alegremente e pôs-se a voar à sua volta.

Voou, voou, primeiro à volta dele, depois à volta do quarto do Pedro, como que à procura de qualquer coisa.

-Que é que procuras? Quem és tu?

-Sou a letra L. Não se está mesmo a ver que sou um L? – disse a letra L irritada.

Pedro olhou para dentro do livro e reparou que …tinham desaparecido todas as letras L das frases, página após página.

O rosto dele estava branco de espanto:

-Então as letras podem sair do livro e voar?

-Claro que sim, as letras têm o poder de voar e de nos levarem com elas por esse mundo fora. Basta que haja um leitor.

Logo de seguida, começaram a saltar do livro todas as outras letras, quer dizer, as outra abelhas, muito amarelinhas com riscas pretas.

E lá ia o M, depois o A, e mais o Z, e depois o E… Todas as letras saíam do livro e davam voltas e reviravoltas

Até que o quarto do Pedro se transformou numa espécie de colmeia, com um zumbido infernal.

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

ZUm-zum-zum  zum-zum-zum  zum-zum-zum …

«Vem, anda, vem passear, vem sonhar, vem, anda, vem passear, vem sonhar…» diziam todas elas, no meio dos zumbidos

Pedro nem acreditava no que estava a acontecer, quando, de repente, olhou para os seus ombros e…também ele tinha uma asas, lindas, transparentes.

E partiram todos pela janela do quarto do Pedro, as letras, ou seja, as abelhas à frente e o Pedro atrás, formando um enorme enxame.




quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Uma pequena história: Maria

 




Uma pequena história:

Maria era uma menina que tinha medo de tudo: medo do cão da vizinha Olga, dos gatos branco e preto do vizinho do 2º dto, dos carros na rua que faziam muito barulho, dos insectos que picavam, dos  miúdos que lhe deitavam a língua de fora, das meninas que só faziam brincadeiras estúpidas, dos adultos que lhe davam palmadinhas nas bochechas...Enfim, não havia nada que não fizesse medo à pobre da Maria.

Que havia ela de fazer? Queria tanto ser uma menina corajosa , ser a primeira em tudo lá na aula, ser  a mais forte e rápida no recreio.

Mas não conseguia. Estava sempre com medo de errar, de fazer asneira. Considerava-se a mais feia, a mais infeliz de todas as meninas.Pobre Maria.

Um dia, a mãe perguntou-lhe o que é que ela tinha, porque é que não brincava com os outros meninos, porque é que fugia dos gatos, dos cães e das pessoas.

-Tenho muito medo- disse Maria.

-Só isso?-perguntou-lhe a mãe.

-Sim- respondeu ela.

-Então, isso é muito fácil de resolver. Vais pensar sempre que eles são os teus filhinhos e que tu és muito forte e a sua melhor amiga, aquela em quem eles têm mais confiança.

-Está bem- disse Maria, um pouco desconfiada ainda.

E lá começou a pôr em prática aquele conselho dado pela sua mãe, em quem ela tinha confiança absoluta, sem medo de espécie alguma.

Mãe é sempre (fora alguns casos que fogem às leis naturais dos humanos) a pessoa em quem podemos confiar, porque nos une o Amor, o Amor de quem cria e de quem foi criado.

 


domingo, 10 de novembro de 2024

«Para sempre criança» de Maria Isabel

 




Para sempre criança

Polegarzinha , minúscula menina
Flautista ,com tua flauta mágica
Povoem de novo meus pensamentos
E ponham-me mais uma vez a sonhar
Com as terras da minha infância
Com os tempos do meu parque
Onde os pássaros eram pássaros
Os cisnes nadavam nos lagos
E eu era apenas uma criança.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Outono, a estação mais bela

 




Chegou o Outono.

Para algumas pessoas, o Outono é mesmo a estação mais bela.

Para outras, é o recomeço das suas actividades de rotina, terminando-se o período de férias, de descanso e de lazer. 

É o regresso ao turbilhão do trânsito, das corridas para todo o lado, do ruído das cidades.



Os provérbios populares mostram esta estação do ano nos seus cambiantes a nível da temperatura, que começa a descer gradualmente, dos dias que se tornam mais pequenos, da natureza em que as folhas das árvores ficam vermelhas, depois amarelecem e caem como se fossem dormir misturando-se com o chão, e a nível das actividades nos campos, que se pautam pelo apanhar das uvas, das azeitonas e dos mais variados frutos do outono.



Logo que o Outono venha, procura a lenha.

No Outono o sol tem sono.

Quem planta no Outono, tem um ano de abono.

No Outono as folhas caem de sono! 

Outubro meio chuvoso, torna o lavrador venturoso!



terça-feira, 29 de outubro de 2024

 


A poesia é tudo o que existe


Um pássaro que chilreia ao amanhecer

As andorinhas fazendo os seus ninhos nos beirais

É uma forma de ser-se amigo de alguém

É uma flor a abrir nas montanhas

É o ruído do mar nos rochedos a bater

E é sentar-se na relva também.


Maria Isabel





quinta-feira, 17 de outubro de 2024

« No céo, se existe um céo para quem chora » de Antero de Quental










 No céo, se existe um céo para quem chora.

Céo, para as magoas de quem soffre tanto...
Se é lá do amor o foco, puro e santo,
Chama que brilha, mas que não devora...

No céo, se uma alma n'esse espaço mora.
Que a prece escuta e encharga o nosso pranto...
Se ha Pae, que estenda sobre nós o manto
Do amor piedoso... que eu não sinto agora...

No céo, ó virgem! findarão meus males:
Hei-de lá renascer, eu que pareço
Aqui ter só nascido para dôres.

Ali, ó lyrio dos celestes vales!
Tendo seu fim, terão o seu começo.
Para não mais findar, nossos amores.

Antero de Quental








segunda-feira, 30 de setembro de 2024

«Ano 2024 ano morte guerra escuridão




Escrevo cada

                     poema

Como o último dos

                               poemas

Desenho cada palavra

Como se fosse a única


Ponho 

          em cada verso

toda a dor

a tristeza completa


Cada linha vermelha de sangue

Negra de morte

ocupa todo o meu 

                            viver

a minha escrita

                        é um crepúsculo

                        o céu em fogo

                        as bombas que caem 

                        as armas que matam

                        as vítimas que caem 

                        nas terras em chamas

                        crianças que morrem

                        soldados que morrem 

                       soldados que matam

Ano de 2024

mergulhado em guerra, morte e escuridão.


Maria Isabel