segunda-feira, 19 de setembro de 2011

«Ericeira» de Isabel del Toro Gomes



Ericeira

Praias da Ericeira

Com aquele cheiro salgado

A mar a rochas e  algas

Que penetra nas pupilas

Nos atormentados corpos

Estirados na areia

Pela pele e pela alma

E os deixa inebriados

Bêbados de sol e de azul

Desejosos de mais calor

Mais amor mais tudo



Noites da Ericeira

À luz do luar

Em que a terra toda se banha

Nas mansas ondas da maré baixa

Ouvindo a ressaca…

Há corpos e ondas que se entrelaçam

No mar alto ou no areal

Perdidos da vida e da noite

Em busca do alimento que há-de vir

Na longa campanha de dor…

Até que tudo se acalma

Na madrugada fria

Com o canto da rola que desperta

Para mais um dia.


domingo, 18 de setembro de 2011

«Constantino guardador de vacas e de sonhos» de Alves Redol



Releio a obra que me ajudou a crescer e que, fazendo parte dos programas do ensino secundário há anos atrás, li e analisei com os meus alunos muitas vezes. Uma delícia de leitura, uma escrita simples e uma história cheia de interesse e de pássaros. Devia ser lida por todos os jovens, na escola ou fora dela. É sempre tempo de voltar aos programas e às escolas, agora tão precisadas de mudança.
O 1º parágrafo do livro diz tudo:

Tem doze anos, mas não deitou muito corpo para a idade. Ainda está a tempo. Um homem cresce até ao fim da vida, se não em altura, pelo menos em obras e ambições. E nisso promete.

                                in «Constantino guardador de vacas e de sonhos

Não se enganou Alves Redol, ao falar de Constantino. O rapaz «pitorro» da aldeia do Freixial, que sonhava trabalhar em navios, acabou em técnico de aviões. E ainda faz vindimas, em 2011!

«Ser escritor» por Alves Redol



Se um dia alguém me perguntasse que aprendizagem deveria um jovem fazer para chegar a romancista, se o ofício se ensinasse, eu diria que enquanto a vida lhe não desse todas as voltas e reviravoltas, amores, sofrimentos, repúdios, sonhos, frutrações, equívocos, etc,etc, (...)seria avisado que o mandasse ensinar a sapateiro, não para saber deitar tombas e meias solas, porque nem para tanto ele usufruirá, às vezes, com a escrita, mas para que ganhasse o hábito de padecer bem, amarrado ao assunto durante largos anos, antes que provasse o paladar gostoso de algumas horas de pleno prazer.»

                                         Alves Redol, nota inédita publicada num desdobrável da Casa da Achada

Se Alves Redol o diz é porque é verdade. Ser escritor é talvez a profissão mais sofrida do mundo(só alguns privilegiados pelos deuses dirão o contrário). Então em Portugal, nem se fala! A minha vida já deu muita volta e reviravolta, lá isso é verdade! O que me deixa um pouco perplexa é aquele «etc,etc»...Com certeza que ainda me falta qualquer coisa, tempo, paz de espírito... Os homens não deixam, os deuses não podem querer!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

«Varandas» de Isabel del Toro Gomes



Varandas

Já tive mil varandas

E agora não tenho nenhuma…

A primeira era grande como o universo

Com tanque e tudo para lavar a roupa

E fazer as barrelas

Um dia mergulhei nele

Ficou o vestido e tudo o resto encharcado

A mãe ralhou mas nada mudou…

Continuo a mesma menina

Que contempla o mundo na varanda ou à janela



A varanda pode ser o mundo todo

Onde a infância passa ligeira e serena

Aí aprendi tudo da vida

A riqueza e a pobreza

A inveja e o ódio

A amizade a injustiça tanta coisa

O princípio e o fim

Aí fiz de fada e de princesa

Joguei às escondidas e saltei à corda

Encerrei os sonhos na casinha das bonecas…

Tive um cão por um dia

E muitas lágrimas derramadas

Quase nada ou quase tudo me servia

Para entreter as longas horas

Daquela existência não programada

Não era feliz nem infeliz

Apenas vivia



Agora que já não há varandas

Para alcançar o céu e as estrelas

Para ver quem passa na rua

Vou escrevendo palavras

Numa página nua.








«Carlitos, o Corajoso», de Isabel del Toro Gomes

Ficha de leitura

Carlitos, o corajoso


Para todos os alunos e professores interessados, aqui fica uma proposta de abordagem deste livro:

1.             Indica três razões que justifiquem que a coragem é a principal qualidade de Carlitos?

2.             E tu, consideras-te corajoso? Porque razão?

3.             O que é que consideras ser corajoso no mundo em que vivemos?

4.             Dá o exemplo de uma pessoa que conheças que consideres um grande exemplo de coragem e justifica.

5.             Escreve o retrato físico e psicológico do personagem principal desta história.

6.             Além do Carlitos, que outras personagens entram na história?

7.             Achas que a mãe do Carlitos tomou a atitude certa, quando lhe pediu para ir trabalhar? Porquê?

8.             Se estivesses na mesma situação de Carlitos, que trabalho escolherias para fazer, se pudesses escolher? Justifica.

9.             Carlitos, no meio de toda aquela situação, nunca desistiu de estudar, sacrificando-se à noite a fazer os trabalhos. Consideras que ele fez bem? Porquê?

10.       Como classificas o narrador desta história?

11.       Explica o sentido da expressão: «Mas um dia o sol voltou a brilhar na vida do Carlitos».

12.       Passa o seguinte diálogo para o discurso indireto:

- Mãe! Olha! Está aqui o meu primeiro salário! Não é muito, mas vai ajudar!

- És um bom menino, Carlitos! Obrigada! Eu e o teu pai estamos muito orgulhosos de ti.

13.       Conta, de forma resumida, o final da história do Carlitos.




sábado, 3 de setembro de 2011

«Todas as marés» de Isabel del Toro Gomes


Todas as marés

Maré alta maré baixa

Maré vida e ternura

Maré morte e lonjura

Maré doce e quente

Maré salgada e poente

Maré alegria e pureza

Maré dor e tristeza

Tudo é e assim será sempre

Nas marés das nossas vidas.