Em 2011 comemora-se o centenário do nascimento do grande escritor neo-realista Alves Redol, mas também o de Manuel da Fonseca, que não lhe fica atrás na arte de contar histórias.
Aldeia Nova, livro de contos publicado em 1942, é disso um exemplo acabado.
Ah, Manuel da Fonseca, que falta me faz
essa tua arte de contar as coisas sérias da vida.
e também as risonhas, usando o compasso certo
com que o Zé Jacinto, teimoso,ensaiava a heróica marcha Almadanim!
Alexandre Cabral
É nesse livro de contos fascinantes que se encontra o conto O Primeiro Camarada Que Ficou No Caminho, que relata na primeira pessoa a dor lancinante duma criança que assiste de longe à doença e morte do pequeno irmão, pois o enviaram para casa dos avós, para o afastarem do perigo e da dor. Pelo contrário, o seu sofrimento é ainda maior, por não poder ver a sua mãe, nem o irmãozito nem a sua casa.
Esta é uma história verdadeira, pois essa criança é o próprio Manuel da Fonseca e a criança que vem a morrer o seu irmão mais novo três anos, José. Mais uma vez a autobiografia a invadir a escrita.
Sentia-me só no mundo.
Em frente, a casa silenciosa e fechada para os meus olhos.
O avô partia de manhã para o campo e só voltava à noite. Minha avó andava atarefada na lida da casa, ralhando com as moças. O Toino andava no jogo da bola e nem minha mãe, nem minha mãe sequer aparecia à janela.
O Estróina já estaria bêbado?
É difícil para nós assistirmos insensíveis a esta realidade tão cruel para duas crianças tão pequenas, uma que morre outra que sobrevive vendo o irmão morrer, impotente. Mas esta era uma realidade quase banal da vida quotidiana dos nossos avós e pais: nos fins do século dezanove e princípios do século vinte, muita gente morria na infância ou ainda jovens, por doenças que agora têm felizmente cura e são mesmo banais.
Muita coisa tem mudado para melhor, a humanidade tem dado muitos passos em frente e alguns para trás, mas sempre se foi evoluindo. Tenhamos esperança então que assim continuem os homens dos nossos tempos, difíceis mas não perdidos ainda.
Enquanto há vida há esperança!
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