segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Postais de Natal



Mais uma perda dos tempos modernos: os postais de Natal.
Eram (e ainda são tão bonitos), eu ia-os colocando em cima duma mesa, recebia-os de várias partes do mundo, de pessoas com quem não tinha contacto durante o ano nem mail. 

Agora devem estar reduzidos a dois ou três, de pessoas com muita idade, e fico contente por ver que não se esqueceram de mim.
Mas ainda há quem os envie.
Se as estações de Correio ainda não tiverem desaparecido também.
Rui Veloso que fazia parte do grupo dos anos 90 Rio Grande, cantou o Postal dos Correios, que teve grande êxito.

Postal dos Correios

Querida mãe, querido pai: Então que tal?
Nós andamos do jeito que Deus quer
Entre dias que passam menos mal
Em vem um que nos dá mais que fazer
Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída
Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo expresso que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade
Espero que não demorem a mandar
Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de candeio?
Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal


sábado, 16 de novembro de 2019

Rosalia de Castro



Rosalia de Castro nasceu em Santiago de Compostela, em 1837 e morreu em Padrón em 1885, não chegando assim a completar os cinquenta anos.
Santiago de Compostela 2017

É considerada uma das maiores escritoras e poetisas da Galiza, sendo o dia 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, feriado por ser a data de edição da sua primeira obra em língua galega, Cantares Galegos.



Este poema sobre o tema da emigração, que abalou gravemente a Galiza, que levou muitos homens a partir para Portugal, África, Brasil e outros países, é de grande beleza e tocante no retrato que faz de um povo que sofre.
Aqui fica cantado com a bonita voz da cantora de Manhouce, Isabel Silvestre.

Padron, 2017



Cantar de emigração



Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca orfãos e orfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.

Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos
que ninguém consolará



https://www.youtube.com/watch?v=hcr3XhXdXfA

terça-feira, 12 de novembro de 2019



A canção Menina estás à janela faz parte do cancioneiro popular alentejano e tornou-se famosa (para quem ainda não a conhecia) na voz e interpretação de Vitorino.
Desde aí, toda a gente a sabe cantarolar, pelo menos alguns versos.
Aqui fica na sua totalidade, como «prenda minha».

Pedras d'El Rey (Tavira), Setembro 1997

Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela
Os olhos requerem olhos
e os corações corações
e os meus requerem os teus
em todas as ocasiões
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua

Monsaraz
Sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela

Os olhos requerem olhos
E os corações corações
E os meus requerem os teus
Em todas as ocasiões

Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela

 Letra e música: Popular (Alentejo)

Recolha e adaptação: Vitorino
https://www.letras.mus.br/vitorino/1054695/

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Sophia de Mello Breyner Andersen - Centenário do nascimento




Hoje, dia 6 de novembro de 2019, comemora-se o centenário de Sophia de Mello Breyner Andersen, grande poetisa (ou poeta, como ela preferia), escritora de contos e lutadora contra o regime fascista e repressor de Salazar e Marcelo Caetano.

Sophia de Mello Breyner Andersen nasceu no Porto em 6 de novembro de 1919 e morreu em Lisboa em 2 de Julho de 2004.
Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante prémio literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
O seu corpo está no Panteão Nacional desde 2014.




Os contos  A Menina do Mar , A Fada Oriana, A Noite de Natal, entre outros,  foram os mais lidos e analisados por alunos e professores do 2º ciclo, fazendo já parte do nosso imaginário.


Do Livro Sexto, que recebeu o Grande Prémio de Poesia  da Sociedade Portuguesa de Autores, escolhi este poema, onde o tema da praia e do mar está presente, como em muitos outros.


O hospital e a praia

E eu caminhei no hospital
Onde o branco é desolado e sujo
Onde o branco é a cor que fica onde não há cor
E onde a luz é cinza

E eu caminhei nas praias e nos campos
O azul do mar e o roxo da distância
Enrolei-os em redor do meu pescoço
Caminhei na praia quase livre como um deus

Não perguntei por ti à pedra meu Senhor
Nem me lembrei de ti bebendo o vento
O vento era vento e a pedra pedra
E isso inteiramente me bastava

E nos espaços da manhã marinha
Quase livre como um deus eu caminhava

E todo o dia vivi como uma cega

Porém no hospital eu vi o rosto
Que não é pinheiral nem é rochedo
E vi a luz como cinza na parede
E vi a dor absurda e desmedida

Sophia de Mello Breyner Andersen



sábado, 2 de novembro de 2019

Gansos do Egipto




Dois gansos do Egipto, aves que só tinha visto no Jardim da Gulbenkian e que são raros por estas paragens, surpreenderam-nos no lago do Campo Grande, na ilha mesmo à nossa frente. Na Primavera, cá teremos mais uns gansinhos.

Aqui está a foto que tirei à família toda no jardim da Gulbenkian, o ano passado, com sete gansinhos, que é o máximo de filhotes que um casal pode ter, que ganhou o 1º lugar para ser capa da revista Wilder. Foi uma questão de sorte, de estar lá no momento certo, mas de que muito me orgulho, claro.



segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Quiosque do Jardim do Campo Grande (ou Mário Soares)






Até que enfim que abriu o novo quiosque do Jardim do Campo Grande(ou Mário Soares). Esperemos que tenha vida longa!
Era um pouco mais acima que havia um café com uma grande  esplanada cheias de estudantes que aí podiam estudar ou fazer trabalhos (ao contrário do que se passa agora em muitos sítios onde essas actividades são proibidas) e uma piscina ao ar livre, onde a criançada brincava e chafurdava livremente. 
Outros tempos, outros costumes.
Uma nota importante: depois de estar lá sentada é que reparei que os aviões passam mesmo por cima do quiosque, a rasar e fazendo um ruído insuportável.
Conclusão: experimentar e ver antes de escrever sobre o que quer que seja.
Em todo o caso, pode sempre dar jeito para uma bica apressada.
Não dá é para quem lá trabalha, coitado(a).




quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Setembro de Herman Hesse








Hermann Karl Hesse (1877-1962)


SETEMBRO



Entristece o jardim.
Fria nas flores a chuva cai.
O verão se arrepia
em silêncio diante do seu fim.

Pétala a pétala goteja em ouro
do alto pé de acácia.
O verão ri abatido e perplexo
no sonho do jardim em agonia.

A prolongar-se ainda junto às rosas,
ele espera, de pé, pelo repouso,
e os grandes olhos fatigados vai
entrecerrando aos poucos.