quarta-feira, 26 de julho de 2017

Escola Comercial Patrício Prazeres



Escola Comercial Patrício Prazeres





Esta foi mais uma das escolas que frequentei que, embora não fosse por vontade própria que ali estava, nem estivesse vocacionada para os estudos que proporcionava, me deixou muitas e boas recordações.

Com apenas 13 anos, eu era de pequena estatura com essa idade, lá subia eu as escadinhas do Castelo todos os dias, para entrar às oito horas para a secção da Costa do Castelo, que funcionava para os alunos do 1º ano do curso complementar, no antigo edifício da Escola Primária nº 10. No inverno ainda era noite fechada, os degraus eram muitos, mas as minhas curtas pernas subiam ligeiras por ali acima. Devia de encontrar outras alunas no caminho, disso não me lembro, os perigos por ali já não rondavam, àquela hora matinal. Os que se tinham deitado tarde, vagueando pela cidade, estavam agora a dormir, as casas mal começavam a despertar nos seus recantos com sardinheiras.




Mais tarde, aos 14 anos, já no 2º ano do Curso Complementar de Comércio, fui então para a sede da Escola Patrício Prazeres, no Alto de São João (sabia vagamente que existia lá um cemitério, mas era coisa em que não pensava nem me preocupava).



O caminho era mais arrojado ainda, mas eu já mais experimentada e cheia de determinação.

Ia de autocarro dos Olivais Sul para a Praça do Chile, depois a pé pela Morais Soares (ou de eléctrico, mas preferia a pé para poupar o dinheiro e encontrar outras colegas pelo caminho). Chegada ao Alto de S. João, descia uma grande calçada com casebres de gente muito pobre, um bairro de lata, como se dizia então, que esse sim, me metia um pouco de medo.

Nunca aconteceu nada, salvo um dia em que uma petiza que nem 2 anos devia de ter, me atirou um alguidar de água para cima, e a água parecia ter qualquer coisa adocicado. Deve ter sido encomenda de algum irmão mais velho. Fiquei tão danada e estupefacta, que não consegui dizer nada.

Chegada à escola, lá me limpei o melhor possível, e nunca esqueci este episódio nem a figurinha da minúscula criança que me deitou uma mistela qualquer para cima!




Muitas outras pequenas aventuras me aconteceram nesta escola, onde encontrei professores que jamais esqueci, ótimos professores mesmo. Fiquei na Patrício Prazeres até aos 16 anos.

Também me lembro vagamente de alguns dos meus colegas, pena termos perdido o contacto, como acontece muitas vezes.
Desses tempos restou uma foto, que tinha esquecido e que encontrei há dias. Foi bom tê-la encontrado, nostalgias à parte.



Estes eram os meus colegas do curso complementar da Escola Patrício Prazeres, com a professora à esquerda (ao lado dumas crianças que estavam na praia, filhas de pescadores pela certa), em Sines, numa visita de estudo que fizemos, em março de 1971. Eu tinha 16 anos (ao centro, sentada no barco).

Enquanto que nos liceus andavam meninas para um lado e rapazes para o outro, e os professores eram, geralmente, pessoas distantes dos alunos, nas tais escolas «comerciais» ensinavam-se coisas como dactilografia, caligrafia, contabilidade, economia doméstica, mercadorias (esquisito!), francês e inglês comercial, matemática, química...E rapazes e raparigas viviam em comum no seu dia-a-dia escolar, aprendendo para a vida, sem agressões nem barreiras. Isto sim, era verdadeira integração de todos.

Era tudo bons rapazes e boas «moças»!


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Pegadas na areia



Pegadas na areia

O mundo foi sempre caótico e injusto e continuará a ser.
O ser humano, uns maus outros bons, tendo até agora prevalecido em número os bons(ou mais ou menos), doutra forma já cá não estaríamos.
Esperemos que assim continue até ao infinito.


Na areia dos tempos, as pegadas do cão fazem uma linha recta, em frente uma da outra, marcando a sua determinação em seguir ou encontrar o seu objectivo.


As pegadas do Homem são quase lado a lado, para amparar o peso do corpo.
Ou será antes por indecisão, receio ou desejo de deriva?



domingo, 16 de julho de 2017

Educação e a Língua Portuguesa



Os pais, as crianças e a Língua Portuguesa

Os pais, as crianças e a língua portuguesa - estão todos um pouco baralhados.
Em menos de uma hora vi/ouvi uma criança a chorar a sério, aos berros, ao ser «embarcada» com outras numa canoa (Parque das Nações). Porque raio os pais a queriam fazer marinheiro/a à força, ou sem a devida preparação?

Mais à frente, um grupo de mamãs conversavam e carregavam com crianças já grandinhas ao colo. Uma delas perguntou à criança, tentando pô-la no chão, já cansada, claro: «Queres ir pelo chão?». Que raio de pergunta é esta? «Queres» pressupõe que a criança é que manda na mãe, que tem de ser escrava dele. «Pelo chão»? De que outro modo havia de ser, pelos ares?
Só se fosse no teleférico.
Felizmente que o passeio de domingo foi curto.





segunda-feira, 3 de julho de 2017

«Pôr-do-sol»


Todos os dias têm um fim
Todos os dias o sol se deita
No horizonte azul-rosa-lilás-roxo-cinzento
Mas neste dia
O pôr-do-sol foi assim

E eu estive a olhar
Esse céu infinito
Como se fosse eu que adormecia

Vi um pôr-do-sol
E tudo se tornou em magia. 
                                               Isabel del Toro Gomes




sexta-feira, 30 de junho de 2017

Presságio 


O amor, quando se revela
Não se sabe revelar
Sabe bem olhar p'ra ela
Mas não lhe sabe falar
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer
Ah, mas se ela adivinhasse
Se pudesse ouvir o olhar
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar.

                                                                                         Fernando Pessoa

Salvador Sobral, vencedor do Festival da Eurovisão de 2017, com a canção Amar pelos Dois, de autoria de Luisa Sobral, dá voz e emoção a este poema de Fernando Pessoa, como se pode ver e ouvir no link abaixo.


https://www.youtube.com/watch?v=bqC4ol0a_6s




quarta-feira, 21 de junho de 2017



Solstício de verão 2017

O Verão ainda não começara e os fogos na zona de Pedrógão Grande já tinham provocado uma tragédia nunca vista em Portugal, com um dos maiores números de mortos e feridos de sempre, em toda a Europa. No fatídico dia 18 de Junho.


No dia 20 fui até à cidade de Lisboa e refresquei a mente e o corpo nos maravilhosos jardins da Fundação Gulbenkian, este ano a comemorarem os 60 anos, sempre frescos e bem ajardinados (até já conheço os jardineiros!). Fui presenteada logo à entrado, pelo lado da R. Visconde Valmor, por uma bela chilreada e pela visita de um pequeno pássaro com peito azul, que pousou no chão perto de mim, certamente a mirar a visitante e à espera de migalhas.


Muitas crianças pequenas cirandando e fugindo aos pais que tinham de correr atrás deles, sentindo-se livres como passarinhos. Havia patos nas cascatas, a tentarem refrescar-se, como nunca tinha visto. 


Gente e bicharada feliz num jardim escondido no meio da cidade, tentando fugir à caloraça. 
Muitos patos de todos os géneros: patos-reais, uma espécie nova de pato enorme, com penas muito coloridas no dorso.
Um pato acastanhado saiu da água e «atirou-se» ao meu pão-de- deus, que comia sentada num banco de pedra.


Outros estragavam animadamente a sementeira dos jardineiros...
No dia seguinte, lá iam ter de refazer tudo de novo.
Estava tão desanimada e triste, devido aos últimos acontecimentos dos fogos e respectiva tragédia, que achei piada àquilo tudo, como uma criança que nunca tivesse visto nada tão bonito.
No fundo, a vida continua, «quem se lixa é sempre o mexilhão».


O solstício de Verão foi esta noite, dia 20, às 4 horas da manhã, sensivelmente.
A esperança de que os incêndios se apaguem de vez, que caia chuva, e que não haja mais vítimas, é o motivo de todos nós, para nos fazer avançar pela montanha acima, seja esta pequena ou grande.




domingo, 18 de junho de 2017

O dia do Grande Fogo, em Pedrógão Grande


Barragem do Cabril-Pedrógão Grande

O dia do Grande Fogo em Pedrógão Grande 

Sofrimento, morte, destruição, fogos, um Presidente muito simpático e aos beijinhos, corrupção generalizada, bancos falidos, depositantes e emigrantes roubados, é o nosso pobre Portugal.
E não há guardas florestais em número suficiente porquê?
Nem se limpam os terrenos e florestas porquê?
Etc etc.
62 mortos (até ao momento, dia 18 às 14h), vítimas do fogo, da inalação de fumos, encurralados em estradas (IC8, E.N. 236, E.N.238), em casas, dentro dos carros, becos sem saída.
Bombeiros queimados, feridos, e que deverão ser bem cuidados nos hospitais públicos (esperemos), inutilizados para sempre, sem hipóteses de trabalho.
Sem poderem fazer nunca mais uma vida normal.
Tristeza e desânimo por ver que nada mudou, que nada melhorou quanto às infraestruturas básicas, antes pelo contrário: fecham-se escolas, maternidades, fábricas. Tudo está no nosso país cada vez pior. Tudo mais difícil, os jovens continuam a não ter trabalho ou a ser levianamente escravizados com horários de trabalho desumanos e salários de miséria.
Todos sentem terror e medo. A fome voltou, tendo os restaurantes de dar os restos de comida, todos os que vão a supermercados oferecendo alimentos para o Banco da Fome.
Medo de mais um verão de muito calor, cada vez mais quente, devido às alterações climáticas, sem dúvida. Pelo menos assim o afirmam os cientistas, e para as quais o execrável presidente dos Estados Unidos se está nas tintas.
62mortos, no dia 17 de Junho de 2017, século XXI. 
Desolação e muita gente para enterrar, tratar e ajudar.
O que vale é que somos um povo solidário.
Mas até quando?


                                                 Barragem do Cabril-Pedrógão Grande