domingo, 2 de junho de 2013

Sevilha




Dos meus antepassados de Sevilha, apenas conheci o meu avô Mariano, que eu adorava e que me chamava «joinha». Foi também meu padrinho. Ficou viúvo muito cedo, a minha avó morreu aos 33 anos. Era um pai extremado, vivendo sempre com a sua filha (minha mãe) e dando-lhe todo o amor e carinho que conseguia, para colmatar a falta que uma mãe faz, como ele próprio sabia.




Era uma doce e terna criatura, e como sevilhano de gema, gostava de  touradas. Nisso não o acompanhava. Sua mãe, Dolores, morreu de parto, o pai um ano depois, dizem que por ter ficado no cemitério tempo de mais ao sol, em frente ao túmulo dela. 



Meu avô Mariano foi compensado de tanta desventura com um novo amor encontrado numa mulher do povo, trabalhadora e inteligentíssima, que começou por servir lá em casa: a Tatão   
(diminutivo de Conceição). Esta também ficou no meu coração, para sempre.

Da breve vida dos meus bisavós sevilhanos não me restou nada, nem uma foto. Terão passeado e namorado pelo magnífico Parque Maria Luisa, deixado lá a marca dos seus passos felizes naquele momento. É estranho olhar estas imagens paradisíacas e pensar que aqui começou uma parte da minha família. E sentir saudades do que nunca se conheceu. 
E tudo tão belo, num mundo cheio de sofrimento e dor.


«Yo fui» de Luis Cernuda

 


Luis Cernuda nasceu em 1921 em Sevilha e morreu no México em 1963.
É mais um dos poetas da Geração 27.


 Yo fui.
Columna ardiente, luna de primavera.
Mar dorado, ojos grandes.

Busqué lo que pensaba;
Pensé, como al amanecer en sueño lánguido,
Lo que pinta el deseo en días adolescentes.


Canté, subí,
Fui luz un día
Arrastrado en la llama.

como un golpe de viento
Que deshace la sombra,
Caí en lo negro,
En en mundo insaciable.

He sido.

                           Luis Cernuda, Donde habite el olvido





sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mais um «Pinocchio» de Collodi




 
Uma das grandes vantagens das Feiras de Livros é poder encontrar de tudo um pouco, livros novos e antigos, autores de todo o tipo, para além dos descontos e promoções.


A presença de alfarrabistas na Feira do Livro é uma das mais valias deste evento, pois nem sempre temos tempo para ir à procura deles, em lugares um pouco escondidos por vezes.

Os livros da moda, do momento, esses encontram-se em todo o lado, bem perto de quase toda a gente. 


Este ano, encontrei uma preciosidade, mais um livro do Pinóquio, que foi visto aliás pela minha amiga Ju.


Fiquei toda contente, pois não tive este livro na minha infância, nem o conhecia. Vem com a marca do seu proprietário, que escreveu na 1ª página em branco, a lápis, com letra certinha e com maiúscula na palavra «Pai»:

Deu-me o Pai no dia 25-12-1940.



Tanta coisa está encerrada nesta pequena frase! Tanta história, que agora me pertence por apenas cinco euros!!


quarta-feira, 29 de maio de 2013

«El poeta se acuerda de su vida» de Vicente Aleixandre

Vicente Aleixandre


















Agora, tempo e espaço aos poetas andaluzes de outros tempos, da bela cidade de Sevilha, terra natal de meu avô materno.
Vicente Aleixandre Merlo, nasceu em Sevilha em 1898, e morreu em 1984, em Madrid.
Era um dos poetas da Geração de 27, recebeu o Prémio nacional de Literatura em 1934, foi membro da Academia Real Espanhola a partir de 1949 e obteve o Prémio Nobel da literatura em 1977.

 El poeta se acuerda de su vida

Vivir, dormir, morir: soñar acaso (Hamlet)

Perdonadme: he dormido.
Y dormir no es vivir. Paz a los hombres.
Vivir no es suspirar o presentir palabras que aún nos vivan.
Vivir en ellas? Las palabras mueren.
Bellas son al sonar, mas nunca duran.
Así esta noche clara. Ayer cuando la aurora,
o cuando el día cumplido estira el rayo
final, y da en tu rostro acaso.
Con un pincel de luz cierra tus ojos.
Duerme.
La noche es larga, pero ya ha passado.


              Vicente Aleixandre , Poemas de la consumación










sexta-feira, 24 de maio de 2013

Viver também cansa




A vida, mormente nos velhos, é um ofício cansativo.

                                    Machado de Assis, Memorial de Aires



segunda-feira, 20 de maio de 2013

«Tempos interessantes» de Paul Valéry




 Paul Valéry (1871/ 1945)


Viveis tempos interessantes, disse Paul Valéry a uma plateia de universitários de Paris, no dia 13 de julho de 1932. 
Os tempos interessantes são sempre tempos enigmáticos que não prometem descanso, nem prosperidade, continuidade nem segurança, e acrescentou:
Nunca a humanidade juntou tanto poder e tanta desordem, tanta apreensão e tantas diversões, tanto conhecimento e tanta incerteza.



 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Jardins da Portela

 Jardins da Portela



Os jardins da Portela encheram-se de flores e de perfumes, na Primavera de 2013, como nos outros anos.



As andorinhas também chegaram, nos princípios de Março.


A passarada chilreia alegremente e os melros ensaiam sinfonias nos altos das árvores, tentando que alguma fêmea os oiça.




 Os humanos são os únicos seres que andam cabisbaixos, passeando os seus cães ou calcorreando os caminhos da sobrevivência, dando voltas e voltas à vida.