terça-feira, 6 de dezembro de 2011

«O Mistério do Jogo das Paciências» de Jostein Gaarder

 

Descobri recentemente este livro cá em casa e li-o  fascinada.Trata-se de um livro publicado pela 1ª vez em Portugal em 1996 e é curiosa e inovadora a maneira como o autor elabora uma engenhosa construção do mundo a partir das 53 cartas de um baralho. Tudo se passa em torno de um rapazinho de doze anos que, com o seu pai, viaja em busca da mãe (Ás de Copas) que partira oito anos antes para a Grécia à procura de si mesma. Pelo caminho, pai e filho são desviados  por um misterioso anão para uma aldeia perdida nos Alpes, onde outro misterioso anão padeiro entrega ao rapaz um livro minúsculo escondido dentro de um pão de leite.
A viagem real prossegue em paralelo com uma viagem de fantasia, em que os anões representam ao fim e ao cabo todos os seres humanos, uns maiores outros mais pequenos, para nos lembrar que somos «umas criaturas peculiares com vida, mas que sabem muito pouco sobre si próprios» (capítulo dez de copas). 
Jostein Gaarder é um escritor norueguês, nasceu em Oslo em 1952, é autor de romances filosóficos e de contos. O seu livro mais conhecido é O Mundo de Sofia, publicado em 1991.

Este é um dos casos em que a fronteira entre livros para crianças e para adultos se esbate. É antes um livro para todas as idades, dos 0 aos 100, em que as crianças e jovens poderão encontrar algumas respostas para as muitas interrogações que as atormentam. Um bom livro para todos lerem!

Talvez aquela frase visasse o Joker que sobreviveu século após século. Eu próprio tinha a impressão de estar a antever o destino, graças à longa história do livrinho do pão de leite. E não seria assim com todos os seres humanos? Embora a nossa vida na Terra possa parecer muito breve, fazemos parte de uma história que nos sobrevive a todos. Pois não vivemos somente as nossas vidas. Podemos visitar lugares antigos como Delfos e Atenas, por onde podemos andar e respirar o ambiente das pessoas que nos antecederam na Terra.

Desde 1990, muita coisa mudou no nosso mundo, a Grécia já não é o que era, mas não me importaria mesmo assim de ir visitar Atenas e a terra dos filósofos. Alguns ainda por lá continuarão, de certo, como o Joker imortal do Jogo das Paciências. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

«Para além da dor» de Isabel del Toro Gomes



Ontem vi duas reportagens na televisão que me deixaram profundamente indignada e com os olhos em lágrimas: uma sobre a criança de dois anos que morreu por não ter podido fazer um transplante, por ter fechado a unidade de transplantes em Portugal, vítima da incúria e das medidas cegas de austeridade impostas pelos nossos governantes, que se estão nas tintas para os mais desprotegidos e que necessitam de cuidados especiais de saúde (nem as crianças escapam); outra sobre as dificuldades que os estudantes das universidades portuguesas estão a passar, muitos passando fome ou alimentando-se mal, para além dos que são forçados a abandonar os estudos, comprometendo para sempre o seu futuro e os seus sonhos.
Que país é este, que não cuida das suas crianças doentes nem dos seus jovens?
Este poema, escrito em tempos dolorosos também para mim, é a minha pequena e sofrida homenagem a este menino a quem não permitiram crescer e florir, bem como a estes jovens a quem não permitem sonhar. Com uma palavra de esperança, sempre!
 
 
Para além da dor


Quando se sofre de fome
Temos apenas fome

Quando se sofre de sede
Temos apenas sede

Mas quando A ALMA SOFRE
Não existe mais nada
Para além da dor