domingo, 18 de setembro de 2011

«Ser escritor» por Alves Redol



Se um dia alguém me perguntasse que aprendizagem deveria um jovem fazer para chegar a romancista, se o ofício se ensinasse, eu diria que enquanto a vida lhe não desse todas as voltas e reviravoltas, amores, sofrimentos, repúdios, sonhos, frutrações, equívocos, etc,etc, (...)seria avisado que o mandasse ensinar a sapateiro, não para saber deitar tombas e meias solas, porque nem para tanto ele usufruirá, às vezes, com a escrita, mas para que ganhasse o hábito de padecer bem, amarrado ao assunto durante largos anos, antes que provasse o paladar gostoso de algumas horas de pleno prazer.»

                                         Alves Redol, nota inédita publicada num desdobrável da Casa da Achada

Se Alves Redol o diz é porque é verdade. Ser escritor é talvez a profissão mais sofrida do mundo(só alguns privilegiados pelos deuses dirão o contrário). Então em Portugal, nem se fala! A minha vida já deu muita volta e reviravolta, lá isso é verdade! O que me deixa um pouco perplexa é aquele «etc,etc»...Com certeza que ainda me falta qualquer coisa, tempo, paz de espírito... Os homens não deixam, os deuses não podem querer!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

«Varandas» de Isabel del Toro Gomes



Varandas

Já tive mil varandas

E agora não tenho nenhuma…

A primeira era grande como o universo

Com tanque e tudo para lavar a roupa

E fazer as barrelas

Um dia mergulhei nele

Ficou o vestido e tudo o resto encharcado

A mãe ralhou mas nada mudou…

Continuo a mesma menina

Que contempla o mundo na varanda ou à janela



A varanda pode ser o mundo todo

Onde a infância passa ligeira e serena

Aí aprendi tudo da vida

A riqueza e a pobreza

A inveja e o ódio

A amizade a injustiça tanta coisa

O princípio e o fim

Aí fiz de fada e de princesa

Joguei às escondidas e saltei à corda

Encerrei os sonhos na casinha das bonecas…

Tive um cão por um dia

E muitas lágrimas derramadas

Quase nada ou quase tudo me servia

Para entreter as longas horas

Daquela existência não programada

Não era feliz nem infeliz

Apenas vivia



Agora que já não há varandas

Para alcançar o céu e as estrelas

Para ver quem passa na rua

Vou escrevendo palavras

Numa página nua.








«Carlitos, o Corajoso», de Isabel del Toro Gomes

Ficha de leitura

Carlitos, o corajoso


Para todos os alunos e professores interessados, aqui fica uma proposta de abordagem deste livro:

1.             Indica três razões que justifiquem que a coragem é a principal qualidade de Carlitos?

2.             E tu, consideras-te corajoso? Porque razão?

3.             O que é que consideras ser corajoso no mundo em que vivemos?

4.             Dá o exemplo de uma pessoa que conheças que consideres um grande exemplo de coragem e justifica.

5.             Escreve o retrato físico e psicológico do personagem principal desta história.

6.             Além do Carlitos, que outras personagens entram na história?

7.             Achas que a mãe do Carlitos tomou a atitude certa, quando lhe pediu para ir trabalhar? Porquê?

8.             Se estivesses na mesma situação de Carlitos, que trabalho escolherias para fazer, se pudesses escolher? Justifica.

9.             Carlitos, no meio de toda aquela situação, nunca desistiu de estudar, sacrificando-se à noite a fazer os trabalhos. Consideras que ele fez bem? Porquê?

10.       Como classificas o narrador desta história?

11.       Explica o sentido da expressão: «Mas um dia o sol voltou a brilhar na vida do Carlitos».

12.       Passa o seguinte diálogo para o discurso indireto:

- Mãe! Olha! Está aqui o meu primeiro salário! Não é muito, mas vai ajudar!

- És um bom menino, Carlitos! Obrigada! Eu e o teu pai estamos muito orgulhosos de ti.

13.       Conta, de forma resumida, o final da história do Carlitos.




sábado, 3 de setembro de 2011

«Todas as marés» de Isabel del Toro Gomes


Todas as marés

Maré alta maré baixa

Maré vida e ternura

Maré morte e lonjura

Maré doce e quente

Maré salgada e poente

Maré alegria e pureza

Maré dor e tristeza

Tudo é e assim será sempre

Nas marés das nossas vidas.


                              

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

«Canção» de Papiniano Carlos



Papiniano Carlos (donde terão tirado este nome?) nasceu em 1918 em Lourenço Marques, onde fez os estudos primários. Veio depois para para o Porto, onde continuou a estudar e onde frequentou a Faculdade de Engenharia. Não tendo terminado o curso, dedicou-se à administração de uma propriedade agrícola. Mas o seu talento estava na escrita e começou a colaborar em jornais e revistas. Foi um dos diretores de Notícias do Bloqueio.A sua poesia apareceu em vários volumes entre 1942 e 1957. Integrando-se no movimento neo-realista, a sua poesia apresenta um carácter francamente protestativo. O seu Moçambique natal deu-lhe a matéria de alguns poemas, sendo ele um dos divulgadores dos poetas moçambicanos e angolanos.
Em 9 de Novembro de 2008, quando fez 90 anos de idade, Papiniano Carlos foi homenageado como Poeta-Cidadão. A homenagem foi organizada pela Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, pelo Ateneu Comercial do Porto, pelo Círculo de Cultura teatral/TEP, pela Cooperativa Árvore, pelo setor intelectual do PCP, pela Unicepe, pela URAP e por uma Comissão constituída por um significativo número de pessoas de diversas áreas cívicas e culturais.
Muita poesia sua está publicada em vários países e gravada em discos, salientando-se a sua história para crianças «A Menina Gotinha de Água».
Fica aqui o registo da sua canção, apaixonada pela vida e pelo sentido positivo que lhe temos de imprimir, nos bons ou nos maus momentos.

Canção
Descansa, amor,
entre os meus cabelos;
os sonhos descansa
e o desejo de vê-los
ainda em flor.

Descansa, amor,
tua esperança;
em mim descansa
o que em ti arde:
aquilo que se quer
sempre se alcança,
e nunca é tarde.

Descansa, amor,
entre os meus cabelos;
felizes ou infelizes,
(os dias é vivê-los)
em mim descansa
os braços, as raízes
e as palavras
que me dizes.

                                           in As Florestas e os Ventos


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

«Sonho acordado» de Isabel del Toro Gomes




Sonho acordado



Acabem de vez todos os pesadelos

Sonhos grotescos e ridículos

Fantasmas do passado ou do futuro

Que todas as noites ou

Ao nascer da aurora

Se entranham pelo corpo silente

Se insinuam na nossa mente

Nos percorrem as veias, a pele, os ossos

E nos deixam num delírio confuso



Acabem de vez todos os pesadelos

Não queremos mais sonhar

Não queremos mais dormir

Apenas ficar acordados

Em vigília permanente

E sonhar…sonhar…sonhar

O momento presente