sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Azul e Verde

 



Azul e verde


Gostava de poder deixar

Os meus olhos aqui

Quando partisse para outro lado

Ficavam assim como estou agora

A olhar os campos, o céu e o mar

Espantados de tanto ver

Ofuscados de tanto ser

Ficariam aqui fixos no céu alto

Perdidos no mar que brilha

De tons verdes em ritmo de azul...

E para onde quer que eu fosse

Caminharia às cegas pelas ruas

E só veria as coisas belas

Em fundo azul e verde.


Maria Isabel

15/6/96                                                                     

 


quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

«Sonhos»

 


Travessia

 

Toda a gente podia

Ouvir os pássaros a cantar

Nos campos ou até nas cidades...

Mas só alguns os ouvem.

Toda a gente podia

Observar a forma das nuvens

Admirar uma flor

Seguir as borboletas a voar

Refrescar-se à sombra duma árvore

Correr na areia da praia

Sentir o sol, passear à chuva...

Todos nós podíamos versejar

Sobre as coisas simples da vida

Transformar as tristezas num poema

E as alegrias em sonetos

Ou serei eu apenas a sonhar?

                                                                     

Maria Isabel, Maio 1996

 




terça-feira, 31 de dezembro de 2024


É preciso

Relembrar a infância, sonhar com a magia dos contos

Com a simplicidade da vida ainda despreocupada



Polegarzinha , minúscula menina

Flautista, com a tua flauta mágica

Povoem de novo a minha fantasia

E ponham-me mais uma vez a sonhar

Com as terras da minha infância

Com os tempos do meu parque

Onde os pássaros eram pássaros

Os cisnes nadavam nos lagos

E  eu era apenas  uma criança





sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

«Mal o dia começou»

 






Partida

 

Mal o dia começou

E já te vejo partir

No meio do frio e do vento

Nesta manhã sem sol

Vejo-te correr apressado

E eu aqui fico sem ti

A cama ainda quente

As horas passam

Queria fazer tanta coisa

E não consigo...

Depois vejo-te regressar

Na imensidão da noite

Cansado e sorridente

Cheio de amor para me dar

Ouço a chave na porta

Eu aqui à tua espera

Temos tanta coisa para contar

E o amor à flor da pele

E o coração a bater

Vejo-te a regressar

O jantar a fumegar

E tu a dizeres

"Pensei em ti"

Eu também não me esqueci

Amanhã estaremos juntos

E se fôssemos jantar?


Maria Isabel

7 de Janeiro 1975

 


sábado, 21 de dezembro de 2024

«SER POETA» de Florbela Espanca

Florbela Espanca, grande poetisa que viveu com demasiada intensidade o sentimento do Amor.

E que morreu jovem, como uma bela borboleta que esvoaça e desaparece nos ares.

Foi assim a sua passagem pela terra.




SER POETA

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...

É seres alma e sangue e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda gente!

Florbela Espanca, em "Charneca em Flor"




quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

«O Chão que piso»

 


O chão que piso

É o céu da sua casa

Repartimos paredes

Alegrias e tristezas

Conhecemo-nos

Eu, sem esperança

E sem palavras

Ela, força da natureza

Tudo corpo tudo alma

 

Vencemos juntas a dor

Aquela escuridão que mata

O fogo que não se apaga

Aquelas facas na garganta

 

Por fim renasci

De novo o mar

Lisboa e o rio

A luz o calor o frio

O mundo todo

 

Estou viva

Sinto o coração

Teimosamente a bater

Sempre à espera

Dum novo amanhecer.


Maria Isabel



quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

«Uma réstea de sol e de esperança»

 


Uma réstea de sol e de esperança

 

O dia está frio, arrepiado

O céu branco de neve, que não cai ainda…

Mas resta-nos do Verão o esplendor

Nos nossos corações brilha o calor

Por todos os lados em todos os jardins

Até nas ruas mais recônditas

Vermelho verde azul dourado

Dentro e fora de nós

Tu e eu o outono da vida

Os dias escuros frios enevoados

Que brilham de novo

O mesmo sol do verão

Mais sensato mais ameno

Ao longo do dia e da vida

Tudo renasce tudo se renova

Os mesmos gestos as mesmas palavras

Repetem-se indefinidamente

Tudo parece igual mas

Tudo é tão diferente

Tão diferente, tu e nós

Agora seremos diferentes!


Maria Isabel