quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

«Uma réstea de sol e de esperança»

 


Uma réstea de sol e de esperança

 

O dia está frio, arrepiado

O céu branco de neve, que não cai ainda…

Mas resta-nos do Verão o esplendor

Nos nossos corações brilha o calor

Por todos os lados em todos os jardins

Até nas ruas mais recônditas

Vermelho verde azul dourado

Dentro e fora de nós

Tu e eu o outono da vida

Os dias escuros frios enevoados

Que brilham de novo

O mesmo sol do verão

Mais sensato mais ameno

Ao longo do dia e da vida

Tudo renasce tudo se renova

Os mesmos gestos as mesmas palavras

Repetem-se indefinidamente

Tudo parece igual mas

Tudo é tão diferente

Tão diferente, tu e nós

Agora seremos diferentes!


Maria Isabel

 


 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

«Numa Madrugada Nasci»

 


                                            Santa Cruz


Numa madrugada nasci

Noutra quase morri

Sinto-me viva

Agora

Renasci

O tempo já tem sentido

Os dias as horas

Já sinto o que o corpo me diz

Os bichos as pessoas as plantas as coisas

Tudo faz sentido

Orgulho-me de tudo o que existe

Sol  mar areal

Terra musgo erva água fresca

Sinto-me viva agora

Sou uma árvore

De grande porte

E cresço cada vez mais

Ergo cada vez mais

Os meus braços para o céu.

                                              Maria Isabel




sábado, 14 de dezembro de 2024

«Batem leve levemente...de Augusto Gil

 


Balada de Neve (Augusto Gil)

Batem leve, levemente, como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente e a chuva não bate assim…
É talvez a ventania, mas há pouco há poucochinho,
Nem uma agulha bulia na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho…

Fui ver. A neve caia do azul cinzento do céu,
Branca e leve branca e fria…
Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu!
Olho através da vidraça. Pôs tudo da côr do linho.
Passa gente e quando passa,
Os passos imprime e traça na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais, os traços miniaturais
Duns pezitos de criança…E descalcinhos, doridos…
A neve deixa ainda vê-los, primeiro bem definidos
Depois em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza, uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza e cai no meu coração. Ah!



sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

«Estou Aqui»

 


Um poema da minha juventude, que fala das angústias desses tempos, em busca de alcançar o que era ainda apenas um sonho.


Estou aqui

 

Estou aqui apenas

Não sei para quê

Cadeira partida

Olhos da vida esquecidos

Pão que não foi comido

Mar sem fim

Lua parada no céu

Dos meus sonhos

Fugindo de mim

Mar imenso e terrível

Porto de abrigo inatingível

Casa sem telha

Portas trancadas

Arcas fechadas

Apenas assim

Estou aqui.

                                       Maria Isabel

 


quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

«Fechemos os olhos» ( ano 2000)

 



Fechemos os olhos

Para não ver nada

Descansemos um pouco

Não vale a pena

Tornar a abri-los

Porque o mar está assustadoramente belo

Um azul tão profundo

O céu em cinzas

Prende-se à terra

Numa faixa branca de algodão

Longe, no horizonte

Tudo assustadoramente belo!

Fechemos os olhos assustados




Descansemos um pouco

Deste mundo e destes homens

Em fogo, em guerra

Corpo e alma em sofrimento

Tanto mal tanta dor

Fechemos os olhos

Para nada ver 

Nada  

Não vale a pena

Tornar a abri-los.




 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O meu moinho da Ericeira





Da Ericeira guardo grandes e belas memórias, de muitos anos aí passados no Parque de Campismo de Mil Regos.



Foi lá que descobri as marés da nossa praia preferida, a da Empa, que com maré vazia descobria os seus rochedos, os seus búzios (havia centenas noutros tempos, a caminharem na água), o grande rochedo furado onde adorava nadar mesmo debaixo do seu arco, as suas conchas e pedrinhas.






E até desta réplica de moinho de vento, que estava à entrada, que eu considero também meu.


 


terça-feira, 10 de dezembro de 2024

«Ao Desconcerto do Mundo» de Luis Vaz de Camões

 No Jardim-Horto de Camões, em Constância.


Ao desconcerto do Mundo


Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.