sábado, 6 de março de 2021

«Visão cosmológica do tempo» de Isabel del Toro Gomes

 




Visão cosmológica do Universo


Como  tudo é  prodigioso

E mágico na natureza

Que renasce em cada madrugada




Como tudo me deslumbra

Do nascer ao pôr do sol

Que marca o tempo que passa

Sem darmos por ele passar

Como se fosse uma surpresa

A eternidade dum minuto

Que pode durar séculos, 

Milhões, bilhões de anos

Uma vida inteira que se traduz

Num pequeno nada que se renova

Um minuto de felicidade



Três ou quatro palavras por dizer

Como é tudo prodigioso

E trágico por natureza

No nosso imenso universo.




 

sábado, 27 de fevereiro de 2021

«O canto do Poeta» de Miguel Torga




Dia 27 de fevereiro é dia de Lua Cheia. 

Com ou sem confinamento, a Lua aí estará no céu mostrando-se completamente cheia.

Vamos ver se temos sorte de  a ver.

Nestes dias, é sempre bom lembrar o canto dum grande poeta, Miguel Torga, por exemplo.


O canto do Poeta


Tal como o camponês,

que canta a semear

A terra
Ou como tu, pastor, que cantas a bordar
A serra
de brancura,
Assim eu canto, sem me ouvir cantar,
Livre e à minha altura.

 

Miguel Torga

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Confinamento no Parque das Nações

 




Tivemos que ir ao Parque das Nações e encontrámos um fantasma do que foi a Expo de há 23 anos, quase.

Uma cidade deserta, o lince ibérico olhando triste o nada, o teleférico parado.




Apenas o Tejo azul e umas gaivotas andam na sua vida, se calhar contentes de tanto silêncio e da água toda para elas.




Esperemos o recomeço da vida.

Com sol e muito azul.



Entretanto, as grandes empresas estão fechadas, só com o porteiro ou seguranças à porta, capitalizando biliões de euros. Com os empregados em teletrabalho e o desenvolvimento do mundo digital, espera-nos um futuro de interrogações.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

«Poesia» de Sebastião da Gama

 



11ºConfinamento: somos uns heróis, à força, com pequenos intervalos de liberdade e muitos de Poesia.

Como os homens que foram à descoberta de terras desconhecidas. Nós, pelo contrário, temos de ficar em terra, sem poder ir para lado nenhum.

Resta-nos a leitura, a poesia, o sol ou a chuva, as flores ( a alguns).




POESIA
Ai deixa, deixa lá que a Poesia
no perfume das flores, no quebrar
das ondas pela praia,
na alegria
das crianças que se riem sem porquê
-deixa lá que se exprima, a Poesia.

Sebastião da Gama



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021



 (Rio de Janeiro19 de outubro de 1913 — Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980),


 SONETO DA FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
antes, e com tal zelo, e sempre e tanto
que mesmo face do maior encanto
dele se encanta mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
e sem louvor hei-de espalhar meu canto
e rir meu riso e derramar meu pranto
ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
quem sabe a morte, angústia de quem vive
quem sabe a solidão, fim de quem ama

eu possa me dizer do amor (que tive):
que não seja imortal, posto que é chama
mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes, in "O Operário em Construção"

SONETO DA FIDELIDADE - COM TRIO GENIAL!
Venicius de Moraes/ Mário Pacheco - Rodrigo da Costa Félix.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

 

O poeta Eugénio de Andrade nasceu na freguesia de Póvoa de Atalaia, no Fundão, no dia 19 de Janeiro de 1923. Mudou-se para Lisboa aos dez anos devido à separação dos seus pais.

Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado de Castro, tendo escrito os seus primeiros poemas em 1936. Em 1938 enviou alguns desses poemas a António Botto que, gostando do que leu, o quis conhecer. Botto incentivou-o nessa senda, e em 1940, publicou o seu primeiro livro Narciso, sob o seu verdadeiro nome, que mais tarde viria a rejeitar.





As Palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade, Antologia Breve, 1972.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Coisas simples do passado

 




Coisas tão simples como passear num jardim, admirar as flores que renasciam e a natureza que se renovava, são agora impossíveis. Os canteiros estão vazios.

Em fevereiro do ano passado, já havia imensas flores no nosso jardim da Portela: lírios, jarros... Agora, até a grande bananeira está toda dobrada pelos vendavais ou pelos destruidores que andam à solta por aí.




Um hábito que fazia parte do nosso quotidiano e da nossa cultura (o nosso café é o melhor do mundo) como tomar uma bica ou um cimbalino, conforme se está em Lisboa ou no Porto, é agora impossível. Fazer o café em casa em máquinas mais ou menos parecidas é uma solução, mas não é a mesma coisa. Muito menos se puder ser numa esplanada.

Sentar num banco jardim, ir a um restaurante ao ar livre, ir a uma exposição, enfim, a qualquer local de diversão ou de cultura é impossível.

E não se sabe ainda até quando, embora se tenha uma ideia.

Coisas tão pequenas e simples e que nos parecem agora tão importantes.

É preciso caminhar em frente, deixar-se as discussões inúteis , fazer-se um plano inteligente de vacinação e tudo poderá voltar ao que era dantes.

Se não continuarem a ser cometidos demasiados erros por parte de todos, políticos e todos os que se querem aproveitar e mandar, mesmo sem autoridade para tal.